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"Pense grande, comece pequeno, ande rápido"

Essas são as palavras de ordem para Caio Braz, de 22 anos, criador de startup que ensina inglês a brasileiros das classes C e D – e dá lucro

Com menos de um ano de vida, a empresa de Caio Braz já foi eleita uma das 20 melhores startups da América Latina (D Sharon Pruitt/Creative Commons)

Com menos de um ano de vida, a empresa de Caio Braz já foi eleita uma das 20 melhores startups da América Latina (D Sharon Pruitt/Creative Commons)

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Da Redação

Publicado em 14 de fevereiro de 2012 às 10h19.

São Paulo - Ainda menino, o carioca Caio Braz, hoje com 22 anos, alimentava o desejo de mudar, em alguma medida, o mundo. A chave para a ação, contudo, só apareceria anos depois, quando Caio topou com uma frase proferida por Guy Kawasaki, uma das mais importantes figuras do Vale do Silício, polo americano das indústrias de tecnologia: "Tente resolver um problema seu e você estará resolvendo um problema da humanidade". Imediatamente, o jovem se voltou a seus problemas. "'O inglês é o meu problema', pensei.

Eu sempre fui bom em matemática, mas não aprendera inglês'." Assim, surgiu o Backpackers, curso on-line do idioma, que utiliza o conceito de edutainment, combinação de educação e entretenimento. Voltado a estudantes das classes C e D, o negócio é rentável e, com menos de um ano de vida, já foi citado como uma das vinte melhores startups – as nascentes empresas de inovação – da América Latina.

De fato, a Backpackers pode empreender mudanças que Caio tanto almejava. Segundo a empresa de recrutamento Catho Online, profissionais que falam inglês têm um incremento salarial da ordem de 18%. "As pessoas das classes C e D precisam, em especial, de capacitação para crescer profissionalmente", diz Caio. "Importantes ferramentas de informação, como a internet, exigem a compreensão do inglês. Para quem não fala o idioma, esse é um mundo em preto e branco."

De família modesta, Caio ingressou em 2007 no Instituto Tecnológico de Aeronáutica, o ITA, uma instituição de excelência, como bolsista da Fundação Estudar – que, neste ano, em parceria com Veja, promove o Prêmio Jovens Inspiradores, que vai selecionar estudantes ou recém-formados com espírito de liderança e compromisso permanente com a busca da excelência: os vencedores ganharão iPads, bolsas de estudo no exterior e um ano de orientação profissional com nomes de destaque do meio empresarial e político (mentoring).

Um ano depois de entrar no ITA, no curso de engenharia mecânica, Caio criou uma organização de ex-alunos da universidade e os convenceu a investir em projetos em desenvolvimento na instituição. É um modelo de financiamento muito comum nos Estados Unidos, mas ainda raro no Brasil. É também uma maneira de profissionais que se destacam no mercado colaborarem com as instituições que os ajudaram a se formar. Mas Caio queria mudar mais coisas a seu redor.

Mergulhado em discussões sobre responsabilidade socioambiental, decidiu se dedicar ao assunto durante um ano da vida, em 2009. Trancou matrícula no ITA pelo período e seguiu para Santa Catarina com outros 300 jovens com um só objetivo em mente: ajudar a reconstruir seis cidades afetadas pelas enchentes que devastaram parte do estado no ano anterior.

Aos 19 anos, palestrava para prefeitos e lideranças regionais sobre gerenciamento e utilização de recursos naturais. Voltou ao ITA transformado. Decidiu levar a responsabilidade social ao mundo dos negócios: buscava não só um projeto que desse lucro, mas algo que exercesse impacto no país.

A inspiração veio do bengalês Muhammad Yunus, pai do conceito de microcrédito – o empréstimo de pequenas quantias de dinheiro a pessoas muito pobres, que teriam dificuldades para levantar qualquer montante em bancos convencionais. Em 1976, quando ainda era professor universitário, Yunus fez a primeira experiência desse tipo ao oferecer 27 dólares a um grupo de 42 artesãos.


A soma exígua foi suficiente para que eles comprassem matéria-prima, vendessem sua produção de tamboretes de bambu e garantissem a continuidade do negócio. Animado com as possibilidades que a iniciativa apresentava, o intelectual virou banqueiro no ano seguinte. Fundou o banco Grameen, que significa "banco da aldeia" em bengali, e passou a fomentar a atividade econômica local.

O interesse por Yunus levou Caio a Bangladesh. Também o levou a criar a rede Pólens. Ele enviou um e-mail a cerca de 50 amigos sobre suas ideias e, em seguida, criou uma rede de interessados em criar negócios com objetivo de reduzir a pobreza e, ao mesmo tempo, gerar renda. Atualmente, a rede envolve quase 200 jovens e atende pelo nome de Polinize. O resto da história é conhecida: nasceu a Backpackers, uma parceria entre Caio e dois amigos. "Sei que as minhas ações tiveram um componente fundamental: o estudo. Se eu não tivesse ingressado no ITA, não seria capaz de montar esse negócio. Foram o estudo e o ambiente da universidade que me deram o empurrão para o empreendedorismo e a liderança."

Para aqueles que também pensam em promover alguma mudança no espaço a seu redor, Caio reserva uma outra frase, desta vez proferida por Fábio Barbosa, presidente do Grupo Abril, que publica Veja. "Pense grande, comece pequeno, ande rápido."

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