Para estas startups, colocar funcionários para jogar dá resultado
Estes negócios faturam usando a gamificação para conectar empresas aos funcionários -- desde descobrir o humor deles até incentivá-los a se exercitarem
Mariana Fonseca
Publicado em 24 de agosto de 2019 às 06h00.
Última atualização em 24 de agosto de 2019 às 06h00.
Florianópolis -- Lançar desafios e premiações constantes é uma das melhores formas de desenvolver funcionários e, com isso, gerar mais resultados. É nisso que acreditam as startups GoGood e Feedz.
Os negócios se baseiam na gamificação -- usar características comuns aos jogos -- para conectar empregador e empregados e melhorar indicadores de ambiente de trabalho e produtividade e até mesmo poupar custos com saúde e rotatividade. As startups atendem de pequenas a grandes empresas e já captaram investimentos semente para ampliar sua atuação.
A corrida pelos maiores passos
O empreendedor Bruno Rodrigues atuou como atleta profissional até os 21 anos de idade, lutando karatê. Depois, fez carreira corporativa em marketing e chegou a liderar uma equipe de 50 pessoas.
“Vi que o cuidado com o corpo ajudaria as pessoas para além de sua profissão. Mas os recursos humanos só olhavam para isso quando os funcionários ficavam doentes. Não é um modelo sustentável”, afirma.
Em 2015, Rodrigues participou do curso Ignite, da Universidade de Stanford, e apresentou a ideia de negócio que se tornaria a GoGood, junto ao desenvolvedor e sócio Leonardo Borba. Na plataforma, recursos de gamificação geram engajamento dos funcionários. Eles trocam metas de qualidade de vida por doações a entidades sociais e podem competir por passos, corridas, pedaladas, check-ins em academias e fotos de seus pratos. Há um ranking pessoal e também por equipes.
A GoGood atende gigantes como Ambev, Natura, PayPal e Santander. A startup afirma combater os vilões dos custos corporativos de saúde, como estresse e obesidade. Após dez meses de uso, um usuário aumenta seus passos em até 80%; tem uma perda média de peso de 10%; e sua autopercepção de felicidade sobe 8%. Em 18 meses, a startup estima que os custos corporativos de saúde caiam até 15%.
A monetização é por funcionário e varia de acordo com o volume de usuários, indo de centavos a dezenas de reais por membro. As empresas podem contratar esforços de engajamento, como campanhas de e-mail marketing e notificações no celular.
Para o futuro, a GoGood espera adicionar academias, nutricionistas e treinadores à sua plataforma e se tornar uma plataforma de bem-estar e saúde corporativos. “Não substituímos os médicos, mas ajudamos os funcionários a fazerem o básico junto de seus colegas. Assim como operadoras de saúde concentram o tratamento, concentraremos a prevenção”, analisa Rodrigues.
O negócio passou pelos programas de aceleração Oxigênio, Plug and Play e Scale-Up Endeavor. No total, a GoGood captou 1,5 milhão de reais com investidores como a própria Plug and Play, o fundo de investimento semente Canary eGijs van Delft, CEO da consultoria de recursos humanos Michael Page.
Como você está se sentindo hoje?
Gabriel Leite começou a empreender em sua terra natal, Sergipe. Dono de uma agência de mídias sociais, era ao mesmo tempo dono do negócio e diretor de recursos humanos. Percebia funcionários postando nas próprias redes pessoais suas insatisfações e perdia dinheiro com perda de bons profissionais e rescisões. “Participei de 150 contratações em sete anos e não conseguia me relacionar verdadeiramente com meus funcionários. Sempre era pego de surpresa com desmotivação e pedidos de demissão”, afirma Leite.
O abismo de comunicação entre gestores e membros, mesmo com o mais próximo dos chefes, parecia uma oportunidade de negócio. Leite se mudou para Florianópolis no começo de 2016 para ficar mais próximo da esposa e se deparou com um ecossistema de startups vibrante em investimentos e mão-de-obra qualificada.
Bruno Soares, então executivo e especialista em tecnologia, estava desenvolvendo uma solução para gestão de pessoas. Pediu feedbacks a Leite e eles acabaram se tornando sócios no final de 2017. No começo do ano seguinte, realizaram 150 conversas com gestores, empreendedores, mentores, pesquisadores e psicólogos.
A startup participou de acelerações no InovAtiva Brasil e na ACE. Após um feedback na aceleradora estadunidense Y Combinator, focou para sobreviver no mercado de startups de recursos humanos -- apenas no Brasil, há mais de 120HR Techs. Nasceu a Feedz, uma plataforma que mede o clima da empresa e o desenvolvimento, desempenho e engajamento de funcionários.
A Feedz foca não em recrutamento, mas na avaliação de desempenho. Nichar fez a empresa ver maiores resultados neste ano e obter 700 mil reais em uma rodada com investidores-anjo e a venture builder Organica. O objetivo é atender empresas com falta de comunicação interna a ponto de gerar falta de resultados e rotatividade. A companhia coloca uma meta de engajamento e, em troca, o funcionário ganha moedas a serem trocadas por recompensas não financeiras.
Postar como você está se sentindo hoje ou compartilhar alguma conquista, por exemplo, pode render créditos para fazer um curso ou ir ao cinema. Há um mural coletivo e é possível colocar cores, emoticons e gifs nas postagens. O material é consolidado em relatórios de metas e avaliações de desempenho. “Os gestores e o pessoal de recursos humanos acham que o funcionário não vai ser sincero e se surpreendem”, afirma Leite. Os elementos de gamificação fazem 80% dos membros acessarem semanalmente a Feedz.
Com um ano e três meses de negócio, a Feedz atende cinco mil funcionários em 60 empresas, como Docket, Dotz, Grupo SOMA (Animale e Farm) e Reclame Aqui. O churn, ou desistência de clientes, ronda 1%. O negócio faturou 48 mil reais em 2018 e projeta faturar 500 mil reais neste ano. Para 2020, a meta é obter 2 milhões de reais, acompanhando um interesse progressivo em modernizar o RH.
“O mercado de recursos humanos está em uma situação similar ao de marketing digital pré-Resultados Digitais [outra startup de Florianópolis]. Atendemos principalmente empresas de comunicação e tecnologia entre 20 e 300 funcionários, que já entenderam a importância da transformação digital neste setor. Em breve, a preocupação deve chegar a outros setores”.
Para a GoGood e a Feedz, vencer uma partida de cada vez é mais do que divertimento: é uma estratégia de negócio.