Vitor Almeida e Eduardo Nuzzi, da Swipe: fintech passou por programas da Liga Ventures, do Banco Central e da Visa (Swipe/Divulgação)
Mariana Fonseca
Publicado em 12 de setembro de 2019 às 06h00.
Última atualização em 12 de setembro de 2019 às 06h00.
Depois de as startups de serviços financeiros criarem competição no mercado de concessão de crédito, o Banco Central busca que fintechs sacudam outra área: a de pagamentos instantâneos. As transferências mais ágeis e menos custosas poderão se tornar uma realidade disseminada no ano que vem -- e já existem startups se preparando.
Uma delas é a Swipe. Criada há dois anos para levar a tecnologia blockchain ao setor de meio de pagamentos, a startup transformou seu modelo de negócios após passagens tanto pelo Banco Central quanto por acelerações. A startup, que agora atua com carteiras digitais, está preparando sua tecnologia para um mundo no qual pagamentos instantâneos sejam a norma.
A Swipe foi criada em outubro de 2017 pelo desenvolvedor e designer Eduardo Nuzzi, o economista Marcelo Martins e o cientista da computação Vitor Almeida. Os empreendedores acumularam experiências em startups ou empresas do setor financeiro. “Eu e o Marcelo trabalhávamos em uma subadquirente. Queríamos unir o setor de pagamentos com atualizações tecnológicas, como o blockchain”, afirma Almeida. Hoje, só Almeida e Nuzzi continuam no negócio.
A tecnologia permite o registro distribuído e compartilhado de informações, como uma maneira mais segura de validar cada transação. A Swipe começou, então, como uma infraestrutura de blockchain para redes internacionais de pagamento e suas transferências. As transações demoram dois segundos para serem realizadas. O negócio passou por uma aceleração de empreendimentos com tecnologias emergentes na Liga Ventures para melhorar o produto.
A proposta atraiu até mesmo o Banco Central. No final do ano passado, os empreendedores participaram do Laboratório de Inovações Financeiras da autarquia. O Banco Central buscava projetos que validassem a discussão sobre pagamentos instantâneos e a tecnologia da Swipe cumpria os requisitos colocados pela instituição. Algumas exigências são um provedor de serviços de pagamento, uma infraestrutura de liquidação junto ao Banco Central e uma plataforma de intermediação desses sistemas, conhecida como switch.
Em março deste ano, a Swipe apresentou um modelo de carteira digital com pagamentos instantâneos. Havia uma oportunidade de negócios e a startup decidiu apostar no futuro promovido pelo Banco Central.
Os pagamentos instantâneos ainda não se refletiram em negócios para a Swipe, porém. As transferências imediatas só estarão disponíveis no final de 2020, após aberturas progressivas do BC. A última etapa será permitir a TED por pagamento instantâneo. “Já temos a tecnologia pronta, mas estamos acompanhando a evolução e esperando a virada de chave no Brasil”, diz Almeida.
Buscando uma forma de sustentar sua operação até lá, a Swipe pivotou durante uma aceleração sem troca de participação (equity-free) do Programa de Inovação da Visa. “Passamos por uma revisão completa do modelo de negócio por metodologias como scrum [planejamento e gestão ágil]. Entendemos que apenas fornecer uma infraestrutura de blockchain não era suficiente e complementamos o produto”, diz Almeida.
A gigante de pagamentos trabalha com inovação aberta, desenvolvendo soluções financeiras ou que auxiliam esse setor com outras empresas, desde 2016. “Já enxergávamos potencial em trabalhar com fintechs e o melhor formato para atrair as startups foi com um programa de aceleração para negócios em estágio de crescimento. Conseguimos ajudá-las com nossas conexões com instituições financeiras e nossa experiência com mentorias de executivos”, afirma Érico Fileno, diretor de inovação da Visa. Quase 60 startups passaram pela iniciativa.
O resultado da aceleração foi transformar a Swipe em uma plataforma que comercializa carteiras digitais a instituições que querem colocar sua própria marca na carteira. O Programa de Inovação da Visa incluiu duas semanas de imersão no Vale do Silício, na qual os empreendedores estudaram mais tanto sobre blockchain quanto carteiras digitais.
Nas carteiras da Swipe, é possível fazer transferências e usar serviços como pagar contas e fazer recargas de aplicativos de carona, celular e vale-transporte. As empresas contratantes oferecem novidades aos clientes e usam os dados anonimizados para estratégias de criação de produtos e de marketing. Exemplos são as fintechs PitayaBank e StarPay, mas a Swipe está negociando com instituições financeiras maiores e espera atender também varejistas buscando oferecer soluções financeiras a seus clientes.
Os pagamentos instantâneos funcionam apenas dentro das próprias carteiras da Swipe por enquanto. Até o final de 2020, a startup espera que todas as transações sejam imediatas. O negócio também prepara sua primeira rodada de captação para o ano que vem. “Queremos deixar a plataforma mais robusta, atender as empresas de forma eficiente e replicar para mais usuários em 2020”, afirma Almeida.