LOJA DO BOTICÁRIO: ensinamentos da vida de franqueado foram levados à startup e vice-versa (O Boticário/Divulgação)
Mariana Fonseca
Publicado em 11 de setembro de 2018 às 06h00.
Última atualização em 11 de setembro de 2018 às 06h00.
São Paulo - Diferente do que muitos pensam, franquias e startups já não são mais como água e óleo. Fernando e Henrique Carbonell que o digam: além de franqueados da rede de beleza e cosméticos O Boticário, são sócios da startup Finanças 360º. Pai e filho perceberam que sua necessidade de organizar melhor as contas poderia ser um problema para outros donos de franquias - e quem não investisse em processos melhores ficaria para trás, em um varejo cada vez mais competitivo.
Assim como os “startupeiros”, decidiram testar a hipótese - que se tornou um negócio de 1.700 lojas atendidas e mais de um milhão de faturamento em 2017. E, de quebra, incorporaram conceitos da vida de startup em suas franquias.
Fernando Carbonell tinha uma carreira longa em gestão comercial e de tecnologia da informação para grandes empresas. Mas foi quando trabalhou como gerente geral para um franqueado da rede O Boticário e dobrou o número lojas entre 1994 e 2001 que decidiu, ele próprio, ser dono do próprio negócio. Junto com a mulher, Gisleine Carbonell, abriu uma loja da rede de beleza e cosméticos.
Sete anos depois da primeira loja, o filho Henrique Carbonell deixou sua posição como analista de marketing do Citibank para tocar o negócio com o pai, que já tinha cinco unidades. Ele recebeu como tarefa cuidar da gestão financeira das lojas. Era um trabalho burocrático, feito em Microsoft Excel, mas valia a pena. Em 2012, já estavam com o triplo de lojas e de faturamento.
Hoje, pai e filho possuem 18 unidades de O Boticário em operação - algo que Fernando atribui a “uma visão profissional e uma gestão bastante precisa, especialmente no fluxo de caixa”. “O varejo é uma das principais verticais em transformação hoje, e sofrerá ainda mais mudanças no futuro. O varejista tem que se preparar muito mais do que abrir a loja e vender e, sem uma gestão fácil e eficiente, não irá sobreviver. Com nosso conhecimento de gestão, vimos isso como uma oportunidade de negócio”, completa Henrique.
Com a maior quantidade de lojas, porém, o Excel já não era mais tão eficaz para essa organização. Buscando alguma ferramenta mais adequada, descobriram que tinham de contratar não apenas um software de gestão financeira, mas uma empresa conciliadora de cartão de crédito, que verifica se a administradora do cartão repassou as taxas corretas para suas vendas e quais os dias de cobrança.
Não havia um sistema que integrasse orçamento às operações das maquininhas de cartão das pequenas e médias empresas. As grandes possuem sistemas que fazem isso, como o Protheus, da TOTVS; já os microempreendedores podem inserir tais registros à mão no software de gestão financeira. Quem possui um volume financeiro médio fica no meio do caminho.
O investimento inicial na ideia de negócio foi de R$ 160 mil. Em 2013, após oito meses de desenvolvimento, a Finanças 360º foi criada. O diferencial do software para gestão financeira é ter sido desenvolvido “por a para gestores de varejo”, diz Henrique, com benefícios de usabilidade e de preço.
Além de relatórios de demonstração de resultados (DRE) e de fluxo de caixa, o Finanças 360º fornece a conciliação automática de cartões de débito e crédito, possibilitando ver em tempo as taxas cobradas pela administradora, o aluguel das maquininhas e a antecipação de recebíveis. De acordo com Fernando, já houve casos de clientes que identificaram 100 mil reais em vendas que não foram pagas adequadamente. O setup custa 3,5 mil reais por rede e a mensalidade é de 210 reais por loja. A solução chega a ser “até 30 vezes mais barata” do que uma solução voltada a grandes empresas, de acordo com Henrique.
Os primeiros consumidores do sistema da Finanças 360º foram, logicamente, franqueados. O aperfeiçoamento da solução foi feito com 15 empreendedores do próprio O Boticário, que possui 1.200 das suas 3.500 lojas com o sistema da Finanças 360º. “A franqueadora exige procedimentos profissionais, então há mais demanda por sistemas como o nosso. As vendas vieram de forma fácil, mais pela indicação de quem já usava o software do que por marketing”, afirma Henrique. Depois, o negócio expandiu para atender pequenos e médios varejistas não-franqueados.
Além de franqueados da rede O Boticário, a Finanças 360º atende varejistas como Adidas, Arezzo, Chilli Beans, Havaianas e Óticas Carol. Ao todo, são cerca de 1.700 lojas atendidas. O objetivo é chegar a duas mil lojas no fim deste ano e a cinco mil lojas até o fim de 2019. No ano passado, o negócio faturou 1,1 milhão de reais. Neste ano, pretende faturar 3 milhões de reais.
Em julho, a Finanças 360º foi selecionada para estar no InovaBra Habitat, espaço de coworking do Bradesco para startups. O negócio acabou de receber a entrada de dois sócios e um novo investimento, de valor não revelado. O objetivo com o valor é incluir novas verticais no sistema, como contabilidade, empréstimos financeiros e recursos humanos, em até quatro meses. Mais investimentos em marketing e vendas também estão nos planos.
De acordo com o pai e o filho, ensinamentos da vida de franqueado foram levados à startup e vice-versa. A vida na rede O Boticário ensinou a ter o cliente como centro de tudo e estar próximo dele em feiras de franquias, por exemplo. Só assim é possível desenvolver as melhores ferramentas para as dores dos varejistas.
Por outro lado, a metodologia de gestão usada na Finanças 360º foi adotada pelas franquias de Fernando e Henrique. “Trato cada loja do nosso grupo de franquias como uma startup. Uma gestão ágil e com incentivo à inovação, que permite erros para que você realmente tenha transformações no seu negócio”, resume o filho.