Esta empreendedora quer que todo mundo abra uma startup
Anna Vital quer ajudar a traduzir para as pessoas como funciona o mundo das startups através de infográficos para ajudá-las a alcançar seus objetivos
Da Redação
Publicado em 25 de agosto de 2014 às 09h12.
São Paulo - A empreendedora ucraniana Anna Vital tem uma forma diferente de comunicar seus interesses e habilidades.
Em uma página com um retrato, ela descreve cada traço de seu rosto com os momentos mais marcantes de seus vinte e sete anos de vida (entre eles sua mudança para os Estados Unidos e também o primeiro infográfico que criou). Este é o seu currículo.
Fundadora da startup Funders and Founders, Anna já viveu em oito países diferentes para entender como o empreendedorismo funciona em diferentes partes do mundo.
Seu principal objetivo é ajudar a traduzir para as pessoas como funciona o mundo das startups através de infográficos e ajudá-las a alcançar seus objetivos através de dicas e informações.
Além de falar sobre investimentos e finanças, ela também cria diagramas com dicas sobre carreira e produtividade, como estes 35 hábitos para se tornar uma pessoa mais produtiva.
Na entrevista, Anna Vital conta a INFO como ela quer promover a “startupização” no mundo. Confira:
- O que é a Funders and Founders?
Anna Vital - Nós somos uma startup que há dois anos basicamente tenta explicar, através de infográficos, como é ser um fundador de startups.
Acreditamos que infográficos são uma ótima maneira de compreender informações, porque são mais visuais do que um simples texto. É uma interface natural para informar, e, além disso, ele se espalha mais rapidamente entre as pessoas.
- Como sua startup funciona?
Anna Vital - Temos uma equipe de três pessoas: eu, Mark Vital e Anastasia, e também voluntários que nos ajudam a traduzir os infográficos.
Além de startups, nós falamos muito de produtividade, pois empreendedores geralmente tendem a ser mais produtivos do que o normal.
Nós também fazemos infográficos para companhias que estão lançando um novo produto e querem explicar como ele funciona. Normalmente, as startups estão criando uma novidade no mercado.
E se você está vendendo algo que ainda não existe, as pessoas podem ter dificuldade de imaginar do que isso se trata. Então, infográficos são bons para explicar essas iniciativas, porque eles tornam uma ideia em algo visível.
Como é o processo de criação de um infográfico?
Anna Vital - Criar um único infográfico é um processo cheio de etapas que muitas pessoas nem imaginam. Primeiro, vem a concepção.
E esse é o passo mais importante, pois é quando buscamos responder às seguintes questões: por que estamos fazendo esse infográfico? O que vamos fazer primeiro?
Depois do conceito, nós começamos a trabalhar no roteiro, etapa em que planejamos como vamos explicar uma ideia para o público. Nessa etapa, nós pensamos na melhor forma de passar aquela informação para as pessoas.
Depois disso, nós procuramos por dados que possam complementar aquele assunto, e ao encontrar esses dados nós podemos começar a produzir uma história em torno disso. Na próxima etapa, nós escolhemos a melhor interface para ilustrar aquela história, podendo ser uma linha do tempo, um mapa mental, um gráfico, ou qualquer outro modelo que mais se encaixe naquele tipo de informação.
É a partir da escolha da interface que começamos a produzir um esboço, com lápis, caneta e papel, com todos os detalhes do infográfico. É somente depois desse esboço que começamos, de fato, a fase do design.
A penúltima fase que vem é a de testes: nós colocamos o material em vários dispositivos para saber se as informações podem ser lidas em diversas resoluções.
Por fim, nosso último e mais importante passo é aquele que os usuários mais vão notar: que é a definição das cores, sombras e texturas.
Depois que o infográfico está visualmente bonito, nós escrevemos um artigo em nosso site dizendo por que criamos esse conteúdo e do que ele se trata.
Como você teve a ideia de criar uma startup de infográficos?
Anna Vital - Quando eu estava cursando a faculdade de direito eu tinha que ler muitos casos, lidar com muitas informações e memorizar leis, conteúdos que para mim eram difíceis se assimilar, a não ser que eu desenhasse um mapa mental para ver como essas informações se conectavam.
Eu não conseguia imaginar todas as leis sem algo visual em minha mente. Então, comecei a desenhar diagramas e linhas do tempo. Até então eu achava que isso era só um método de estudo, nunca havia mostrado nada para ninguém.
Depois da faculdade, quando anunciei que iria trabalhar em uma startup, meus amigos e familiares não conseguiam entender do que isso se tratava, eles nunca tinham ouvido falar de startups.
Assim, eu comecei a pensar em uma forma de explicar isso para eles. Eu compilei alguns dados e fiz um gráfico visual com informações do que eu achava que seria uma startup.
E isso funcionou, eu mostrei e eles disseram: “Ah, então era isso que você queria dizer. Agora faz sentido”.
Depois disso, eu comecei a fazer infográficos como um hobbie aos fins de semana, usando informações que eram importantes para mim.
E quanto mais eu criava, mais eu queria criar novos conteúdos. Então, chegou o momento em que eu decidi fazer disso o meu trabalho.
Como você aprendeu a criar infográficos?
Anna Vital - Eu aprendi na prática. Eu conhecia apenas algumas ferramentas do Photoshop e comecei a usá-las da melhor forma possível.
Conforme eu produzia, eu tentava melhorar meus gráficos e ia conhecendo novos recursos aos poucos. Eu não acredito nessa metodologia de que você usa o que você já conhece.
Além disso, o cenário em uma startup é completamente diferente disso. Em uma startup você não pode dizer “amanhã vou aprender e depois de amanhã eu faço”. Você tem que fazer tudo hoje.
Você diz, em seu perfil, que já morou em 8 países diferentes. Por que se mudou tanto em tão pouco tempo?
Anna Vital - Eu sempre quis viajar, eu gosto de ver outras pessoas e gosto de aprender sobre outras culturas e países. Então, quando completei 15 anos eu fui para os Estados Unidos.
Depois, aos 17 anos, me mudei para a China. Também já estive na Índia, Tailândia, Emirados Árabes Unidos, Hungria, Reino Unido e Rússia.
Essas coisas realmente abriram minha mente para o mundo. Conhecer outros lugares e pessoas foi importante para mim, pois pude ver como o empreendedorismo funciona nesses lugares.
Na China, por exemplo, qualquer coisa pode ser uma oportunidade para negócio. Também percebi que os empreendedores vêm de sociedades muito trabalhadoras, onde as pessoas estão concentradas em criar valor.
Então, estar em cada um desses lugares me mostrou que tipo de cultura você pode criar em volta de si. Eu acho que viajar é algo bom para um empreendedor, para que ele entenda como faz as coisas da forma que faz.
Você sempre quis ser empreendedora? Como surgiu essa necessidade de criar seu próprio negócio?
Anna Vital - Eu sempre quis ser uma empresária, mas não sabia o que era uma startup até os vinte anos. Quando eu era criança eu adorava criar valor nas coisas que fazia.
Meu primeiro negócio foi aos seis anos, eu vendia milho cozido para as pessoas que saíam do trabalho à noite.
Era um momento interessante para mim como criança, pois estava fazendo algo sozinha. Então, quando mais velha, eu também tive dois negócios: gerenciei uma escola de inglês e tive uma loja de joias na China.
Mas nunca pensei em mim mesma como empreendedora, apenas pensava que era um negócio. Não existia essa cultura de startup na época, e nem essa ideia de que qualquer um pode abrir uma.
Eu sabia disso até estar em São Francisco, onde vi meus amigos criando companhias do nada. Eles estavam criando valor, fazendo algo útil.
Então finalmente me dei conta de que ser empreendedor não significa apenas fazer negócios. Significa fazer algo grande do zero, criar algo importante.
Para você, quais os benefícios em abrir uma startup?
Anna Vital - Existem tantos! Em um nível pessoal, você pode transformar sua ideia em realidade. Você pode construir algo próprio. Afinal, se você tem uma visão de mundo em que acredita, por que não construí-la? É uma escolha simples: seguir sua paixão ou não.
Se você quer fazer algo grande, uma startup é uma boa forma de fazer isso, pois isso te ajuda a crescer rápido e a alcançar sonhos maiores.
Na sua opinião, o que uma pessoa precisa saber antes de criar uma startup?
Anna Vital - É preciso ter em mente que não vai ser algo fácil. E a razão pela qual é difícil é porque normalmente leva um tempo para construir uma ideia.
Quando você idealiza algo na cabeça você já consegue ver como sua iniciativa será no futuro, só que quando você começa a construir um projeto você pode ter inúmeros problemas, tanto pessoais como dentro da nova empresa.
Mas, mesmo assim, lembrar que no fim dessa estrada algo tão grande e que vale tanto a pena está te esperando ajuda a superar as dificuldades. Então, eu diria que uma coisa para sempre se ter em mente é que não será fácil.
Você pode sentir que está passando por uma crise todos os dias, seu cofundador pode ameaçar te deixar, você pode ter os últimos dez dólares em sua conta bancária. Mas isso geralmente não é o fim. O fim só acontece quando a pessoa desiste.
Quais são os próximos passos da Funders and Founders para ajudar os empreendedores?
Anna Vital - Nós estamos para lançar um livro com todos os infográficos que já produzimos sobre empreendedorismo. Espero poder lançá-lo no início do ano que vem.
E este novo livro ganhará uma versão em português?
Anna Vital - Eu espero que sim! Várias pessoas, tanto no Brasil quanto em Portugal, entraram em contato conosco interessadas no material em português. Estou otimista sobre isso, e acho que ambos os países têm um papel muito importante na comunidade de startups.