Marco Fishben, do Descomplica: professor de física queria ensinar mais alunos, indo além das salas de cursinhos (Descomplica/Divulgação)
Mariana Fonseca
Publicado em 8 de abril de 2018 às 08h00.
Última atualização em 8 de abril de 2018 às 08h00.
São Paulo - Não faltam oportunidades (e empreendimentos) no mercado de educação online brasileiro. Explorando a falta de ensino acessível e de qualidade no país, startups como eduK, Me Salva! e Stoodi investiram nos cursos virtuais. Fundações do exterior, como a Khan Academy, também entraram na jogada nesses últimos anos.
O Descomplica é mais um expoente desse setor. A startup, criada pelo professor de física Marco Fishben, tem a meta de ser a maior sala de aula online do Brasil. Recentemente, o negócio recebeu mais um incentivo para expandir e se destacar da concorrência.
O Descomplica revelou ter captado um aporte de 20 milhões de dólares por fundos de investimento estrangeiros. Ao todo, a plataforma já recebeu 34 milhões de dólares (quase 110 milhões de reais em aportes, segundo a cotação atual).
Os planos do Descomplica são tão ambiciosos quanto seus investimentos: a startup pretende dobrar de tamanho neste ano, falando tanto de receita quanto de alunos atendidos. Além disso, o aporte permitirá melhorar a tecnologia, angariar mais usuários e lançar mais tipos de aulas.
A ideia do Descomplica surgiu em 2010. O professor de física Marco Fishben já estava na carreira há 15 anos e pensava em como ensinar mais pessoas, além dos típicos 100 alunos por classe dos cursinhos pré-vestibular.
O professor decidiu, então, gravar aulas em seu apartamento na Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro. No começo, eram vídeos de poucos minutos, voltados apenas para estudantes que iriam prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e vestibulares.
O projeto virou negócio de 2011 para 2012, quando o empreendedor decidiu que iria monetizar o Descomplica por um modelo de assinatura mensal e investir mais em tecnologia.
No final de 2012, o negócio recebeu um investimento de 60 mil dólares. Um mês depois, veio um aporte série A de 2 milhões de dólares feito pelo Valor Capital Group, fundo novaiorquino de olho em oportunidades no Brasil. Em 2013, o negócio conquistou um aporte série B de 5 milhões de dólares que reuniu nomes como 500 Startups, Valor Capital Group, Valar Ventures e Social Capital.
O série C chegou em 2015, com um investimento de 7 milhões de dólares liderado pelos fundos Digital Prosperity, Valor Capital Group, Valar Ventures, Social Capital e ZenStone Venture Capital.
Com a capitalização, o Descomplica expandiu sua atuação. Hoje, a plataforma opera com reforço escolar, ENEM e vestibular, reforço universitário, certificações profissionais (como o exame da OAB), concursos públicos e cursos voltados para pós-graduações digitais.
As mensalidades costumam variar de 15 reais (vestibulares) a 60 reais (concursos), com a proposta de alcançar estudantes que não podem pagar as mensalidades mais altas dos cursos tradicionais. O formato mais usado no Descomplica é o de vídeo, que pode ser acessado tanto por desktop quanto por aplicativos para desktop, Android e iOS. Ao todo, há 30 mil vídeos na plataforma.
A startup atende de 4 a 5 milhões de alunos mensalmente. “Nossa trajetória prova que nosso modelo, tanto pedagógico quanto de distribuição tecnológica, possui escala e eficiência”, defende Fishben.
O empreendedor afirma que o diferencial do Descomplica está em seu história com educação e pedagogia - o negócio possui 280 funcionários. “É algo que falta em muitas startups fundadas por quem possui background em ciências da computação, por exemplo. Colocamos o aluno em primeiro lugar, e não apenas a tecnologia.”
No mês passado, o Descomplica fez sua mais nova rodada de captação. Em duas rodadas coladas, a startup arrecadou 20 milhões de dólares.
Os aportes foram feitos pelos novos fundos Amadeus Capital Partners e Invus Opportunities e os reinvestidores Valor Capital e Social Capital. Segundo Fishben, os aportadores possuem relacionamentos nos Estados Unidos e na Europa e a plataforma pode se beneficiar da interação de mercado para refinar suas soluções.
O dinheiro servirá para três grandes objetivos do Descomplica. O primeiro é desenvolver mais a tecnologia da plataforma e construir novas experiências de uso aos alunos. “Essa é nossa prioridade, sem dúvida. Estamos com 100 vagas abertas e a maioria delas irá para as equipes de design, engenharia e produto.”
O segundo objetivo é continuar a expansão do Descomplica para outras categorias de ensino neste ano. A startup não informa em quais modalidades pretende atuar, mas diz que investirá em novos estúdios de gravação (hoje, há 15 deles), em recrutamento de funcionários que desenvolvam parcerias e em comunicação e publicidade. A expectativa para 2018 é adicionar mais 10 mil vídeos ao site.
Por fim, o último grande objetivo do Descomplica é realizar mais aquisições de startups promissoras e estratégicas para a plataforma de educação online. “Somos uma startup que já possui capacidade financeira para comprar outras startups. Pretendemos fechar uma aquisição a cada novo trimestre.”
O Descomplica pretende dobrar de receita neste ano, assim como fez nos anos de 2015, 2016 e 2017 (a rede não divulga números absolutos de faturamento. “Como não planejamos aumentar o valor das mensalidades, isso significa dobrar em números de alunos também”. Em um mercado cada vez mais concorrido, não será tarefa fácil.