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Como ele foi de uma lojinha aos 19 anos a uma rede de 3 mil vendedores

Tiago Dalvi saiu de um quadro de quase falência a um investimento de 1 milhão de dólares. Até que teve uma nova ideia de negócio: a Olist

Tiago Dalvi, do Olist: para empreendedor, ter uma própria empresa é como pilotar um carrinho de rolimã em alta velocidade (Endeavor/Divulgação)

Mariana Fonseca

Publicado em 26 de maio de 2018 às 08h00.

Última atualização em 22 de outubro de 2019 às 16h23.

São Paulo - A maioria dos futuros empreendedores sonha com o overnight sucess: aquela ideia de negócio que, do dia para a noite, torna-se um empreendimento inesquecível. Para Tiago Dalvi, esse sonho já dura 12 anos. E ele acredita estar longe do sucesso .

Para Dalvi, ter uma própria empresa é como pilotar um carrinho de rolimã em alta velocidade. No começo, você precisa se segurar. Depois, a própria rapidez o manterá no rumo que você decidiu. “Mas mais importante do que saber onde essa rua dará é aprender com as raladas no meio do caminho”, relata o empreendedor duranteo evento Endeavor Day1 2018, com palestras sobre dias decisivos na vida de empreendedores.

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No caso de Dalvi, essa jornada o levou de uma pequena lojinha, fundada aos 19 anos de idade, à Olist. O empreendimento já ajudou mais de 3 mil vendedores a chegar em marketplaces como Amazon, Americanas, Extra, Ponto Frio, Submarino e Walmart.

Primeiros passos

Dalvi é natural de Londrina, interior do Paraná. Sua primeira experiência com o empreendedorismo foi aos seis anos de idade. Ele viu seus pais abandonarem um escritório de arquitetura, que ia “super bem”, para investirem todas as economias em um novo negócio: uma loja de shopping para vender brinquedos importados.

O futuro empreendedor se animou com a ideia. Mas se assustou com as discussões dos pais sobre como andava a loja. “Lembro de um dia em que o governo sobretaxou os brinquedos importados. Do dia para a noite, o modelo de negócios deles caiu por terra.”

Os pais tiveram dificuldades para se reerguer - e Dalvi começou a ajudar na loja. Mais velho, no curso da Administração de Empresas na Universidade Federal do Paraná (UFPR), entrou para a empresa júnior e foi convidado a ser voluntário na Aliança Empreendedora, uma organização que fomenta novos negócios em comunidades de baixa renda. Seis meses depois, recebeu seu primeiro salário.

Na Aliança Empreendedora, Dalvi percebeu que a maioria das pessoas atendidas eram artesãos. “Eles tinham um ótimo produto, design, preço adequado, mas não tinham a menor ideia de como vender”, conta. “Comecei a apresentar os produtos deles para varejistas de Curitiba e percebi que tinha muito gente querendo comprar. Ninguém fazia a ponte entre esses dois mundos de forma escalável.”

Com base nessa experiência, Dalvi teve sua primeira ideia de negócio, aos 19 anos de idade: uma lojinha de shopping, chamada Solidarium. “Não era nada muito diferente do que meus pais faziam 20 anos atrás. Mas foi muito importante para eu entender as dores de um varejista, o que é operar no Brasil.”

A vida no primeiro empreendimento, criado em 2007, não era nada fácil e Dalvi tentava vender os produtos dos artesãos de todas as formas possíveis. Isso incluiu a tentativa de entrar nas lojas do Walmart para fazer a Solidarium ganhar escala.

Após meses de tentativas de contato, a pequena lojinha fechou um contrato para vender 32 produtos na rede varejista. Uma falha na integração dos sistemas fez Dalvi perder o primeiro mês de vendas - e acordar com, do nada, 1.600 pedidos acumulados. Ele mesmo ia até lojas próximas para entregar os produtos, colocá-los nas prateleiras e tentar vender.

Com o tempo, aprendeu a organizar a produção. “Chegamos a estar em quase 500 lojas de varejistas como Renner, Tok&Stok e o próprio Walmart”.

Dalvi estava nesse negócio há quase quatro anos e queria inovar no atendimento aos artesãos. Por isso, se inscreveu para um programa de cinco semanas no Colorado (Estados Unidos), chamado Unreasonable Institute. Lá, aprendeu como a tecnologia é uma alavanca para o crescimento das empresas e conversou com os fundadores de negócios como eBay e Etsy. Veio a ideia de levar a Solidarium para o online, no modelo de marketplace.

Carrinho de rolimã

“No primeiro dia de operação, tivemos 20 vezes mais demanda do que jamais havíamos conseguido”, conta Dalvi. Era o momento do carrinho de rolimã: bastava encarar a alta velocidade e seguir em frente, batalhando contra a resistência do ar. O site chegou a ter 15 mil lojistas e 80 mil produtos. Mas, sem investimento pesado, a nova Solidarium não sobreviveria.

“Eu não recebia salário há três meses, minha namorada me ajudava a pagar o aluguel. Até que eu recebi uma ligação”, conta. Era da aceleradora 500 Startups, uma das mais conhecidas do Vale do Silício. A 500 estava oferecendo uma vaga em seu programa, junto com investimento. Dalvi pediu para o dinheiro ser depositado em até uma semana - caso contrário, a Solidarium não conseguiria mais operar.

No final de aceleração, o negócio havia captado 1 milhão de dólares em aportes. Um mês depois, Dalvi começou a sentir a pressão da concorrência no mundo dos marketplaces - inclusive de antigos parceiros, como a rede Walmart.

“Por que não juntar os dois mundos - a minha experiência de aquisição do lojista, com a Solidarium, e a experiência de aquisição do cliente das grandes redes?”, indaga. A ideia era criar um site que conectasse os produtos aos grandes sites de revenda de produtos.

Mas como convencer os recém-adquiridos investidores? O empreendedor sentou com cada um deles, apresentou seu contexto e defendeu a mudança do negócio. No final, Dalvi percebeu que eles confiavam muito mais nele e em seu time do que na Solidarium. Ela se tornou, então, a Olist.

“No primeiro mês de Olist no ar, passamos toda a história da Solidarium. Dez anos depois, acertamos a mão”. A “maior loja de departamento dentro das lojas de departamento” intermedeia hoje a venda de 180 mil produtos, de 3 mil lojistas, todos os dias. O negócio possui 145 funcionários.

“Se há um aprendizado ao longo da minha história, é não se apegar ao modelo de negócio. Não o escreva na pedra, porque ele vai mudar. Se não é pelo seu investidor, pelo seu cliente ou pelo seu time, é pelo seu aprendizado e experiência”. O carrinho de rolimã está turbinado.

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