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Com aporte de R$ 4 mi, startup Vidia tenta ampliar o acesso a cirurgias particulares

A empresa foi acelerada pela Eretz.Bio, do Hospital Albert Einstein, e investida pela gestora Canary. Entenda o que atraiu os investidores para o negócio

Thiago Bonini e Eduardo Cerqueira, fundadores da Vidia: a empresa foi criada em 2020 para conectar hospitais particulares a pacientes que precisam de cirurgias (Andréa Matsumoto/Vidia/Divulgação)
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Carolina Ingizza

Publicado em 21 de janeiro de 2021 às 06h00.

Última atualização em 21 de janeiro de 2021 às 10h49.

Na última década, startups brasileiras se lançaram no mercado tentando resolver questões relacionadas à saúde , como prevenção, controle de doenças crônicas e acesso a consultas particulares mais baratas. Agora, surge uma empresa olhando para uma área mais complexa — e cara — da saúde: as cirurgias. A startup em questão é a Vidia, fundada em 2020 pelos empreendedores Thiago Bonini e Eduardo Cerqueira.

Bonini, advogado de formação, trabalhou com M&As no Naspers Group e foi membro do conselho da Movile, a empresa dona do iFood. Em 2019, decidiu trocar o lado da mesa e empreender. O único norte que tinha era que queria atuar em um mercado grande e com potencial de impacto social. Em 2019, foi apresentado por amigos a Eduardo Cerqueira, engenheiro de software com experiência em empresas como Leo Madeiras e B2W. Juntos, foram estudar a área da saúde e descobriram uma oportunidade no mercado de cirurgias.

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A dupla, então, decidiu criar uma espécie de “ Uber das cirurgias”. Um marketplace que conecta pacientes a hospitais privados com capacidade ociosa no centro cirúrgico. Por oferecer um volume alto de pacientes, a empresa consegue que o preço das operações seja reduzido em até 40%. Do total pago pelos clientes, ela fica com um percentual que varia de poucos pontos percentuais a 20%, a depender do tipo de cirurgia realizada.

O negócio começou a rodar em 2020, em fase de testes, com quatro hospitais e clínicas parceiras nas cidades de São Paulo e Campinas, no interior paulista. Em janeiro de 2021, após dez cirurgias feitas pelo intermédio da plataforma, os sócios decidiram que era hora de iniciar a operação com força total. Hoje, 17 pessoas trabalham no negócio.

No seu primeiro ano de fundação, a startup conquistou apoio de entidades conhecidas no mercado de inovação brasileiro. Foi acelerada pela Eretz.Bio, hub de inovação do Hospital Albert Einstein, e pelo programa para healthtechs da organização Endeavor. Captou também 4 milhões de reais em uma rodada de investimento liderada pelo fundo Canary ( Genial Care, Sami ), com participação da Aimorés Investimentos (Fácil Consulta, Manipulaê) e de alguns investidores-anjo.

Público-alvo

A Vidia aposta em um nicho de mercado específico: pessoas que são usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS), não têm plano privado, e podem pagar alguns procedimentos pontuais. “O SUS é muito eficiente, mas está sobrecarregado. Já os hospitais privados, geralmente possuem capacidade ociosa em seus centros cirúrgicos, que pode ser usada para servir a quem precisa” afirma Thiago Bonini, presidente e cofundador da Vidia.

A empresa parcela o valor das cirurgias e ainda oferece um site para que o paciente realize uma “vaquinha virtual” para arrecadar dinheiro para o procedimento. Atualmente, as cirurgias que estão sendo oferecidas são de menor complexidade, como catarata, miopia, varizes, pedra na vesícula e vasectomia. Os valores variam de 1.500 a 12.000 reais, em média.

Com o hospital, a startup negocia um pacote completo, em que a equipe médica, o centro cirúrgico, exames e consultas estão inclusos. Segundo os sócios, o valor pago pelo cliente é único e engloba toda a assistência médica, mesmo se o paciente precisar ficar internado por alguns dias depois do procedimento. Para garantir que tudo corra bem, uma equipe de profissionais de saúde da startup acompanha o processo presencialmente até a alta-médica.

Nos próximos dois meses, a empresa quer trazer para a sua plataforma mais dois hospitais parceiros para poder aumentar o número de cirurgias feitas. Até o final do ano, a ideia é que sejam realizadas, no mínimo, uma ou duas operações por dia. “Na fase de pré-lançamento, 1.500 pessoas entraram em contato conosco para tentar realizar procedimentos. Há uma demanda”, diz Cerqueira.

A empresa estuda captar uma nova rodada no segundo semestre de 2021 para acelerar o crescimento do negócio. Segundo os sócios, a meta para este ano é conseguir provar em números que se a startup não existisse, o público cliente iria sentir falta do serviço. Para isso, será preciso realizar algumas dezenas de cirurgias mensalmente. “Nosso maior desafio é evangelizar o mercado e mostrar que é possível acessar serviços particulares de saúde de forma que caiba no bolso”, diz Bonini.

Usar a ociosidade da rede pública para atender pacientes que normalmente usam o SUS não é algo novo. Em 2017, por exemplo, quando o governador de São Paulo João Doria era prefeito da capital, ele criou o "Corujão da Saúde". A iniciativa, financiada pela prefeitura, usava a infraestrutura de hospitais particulares no contraturno para tentar acabar com a fila de exames médicos do sistema público da cidade.

Para o consultor em gestão da saúde Carlos Suslik, que tem experiência na administração de unidades importantes, como o Hospital das Clínicas, em São Paulo, modelos como o da Vidia exploram uma lacuna de mercado, mas têm suas limitações.

“O preço é calculado com base no aluguel do centro cirúrgico, do médico, do auxiliar e dos medicamentos. Mas nem sempre dá tudo certo, algumas cirurgias têm turbulências e o paciente precisa ficar internado por um mês na UTI, onde a diária custa, em média, de 2.500 reais em São Paulo”,afirma o especialista.

Para ele, muitos hospitais, com medo de assumir esse custo, podem não aceitar realizar procedimentos mais complexos. “Acredito que seja um modelo que funciona para cirurgias de pequeno porte e plásticas, de baixo risco. Mas esse não é o maior gargalo do SUS hoje”, diz Suslik.

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