Biólogo cria startup que explora moléculas marinhas e fatura R$ 4 milhões
A startup Regenera atende empresas como Natura, Ambev, Eurofarma e Basf e pequisa de antibiótico a geração de energia
Mariana Desidério
Publicado em 15 de março de 2022 às 08h30.
Última atualização em 15 de março de 2022 às 10h36.
A startup Regenera tem um propósito ambicioso: transformar em inovação os microrganismos encontrados na Amazônia Azul, como é a chamado o ambiente marinho brasileiro. “Toda literatura diz que o que ainda há para ser descoberto está no fundo do mar. É o que nos propomos a fazer”, afirma o CEO e fundador da startup Mário Frota Junior.
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O negócio funciona assim: após algumas expedições in loco, a Regenera montou um banco de bactérias e fungos extraídos do fundo do mar. Essa coleção de cerca de 1.500 microrganismos fica disponível para prospecção. Empresas interessadas em buscar seus possíveis usos em suas indústrias patrocinam a pesquisa com o microrganismo escolhido.
O banco pode ser usado nas mais diversas indústrias. Frota conta, por exemplo, de uma pesquisa realizada com uma concessionária de rodovias sobre uma molécula que emite luz, para iluminar rodovias. O projeto depois passou a estudar também a produção de energia via bactérias. “O fundo do mar tem estruturas que muita gente não sabia que existia. São estruturas químicas únicas e muito potentes, com atividade biológica promissora que sequer foram descritas na literatura. É uma descoberta atrás da outra”, afirma.
Hoje a Regenera tem clientes como a fabricante de cosméticos Natura, a cervejaria Ambev, a indústria química Basf, a produtora de alimentos Danone e a farmacêutica Eurofarma. Com esta última, a pesquisa envolve moléculas com atividade antibiótica, que possam atacar bactérias super-resistentes, um grande problema na área clínica. As pesquisas da Eurofarma e outras farmacêuticas brasileiras na busca por novos medicamentos foi tema de reportagem da edição mais recente da revista EXAME.
Além dos projetos de clientes, a Regenera também desenvolve pesquisas próprias. Em 2021, faturou 4 milhões de reais e a expectativa é chegar a 8 milhões em 2022. “Aprendemos a falar a linguagem do mercado. Nosso tempo não é o da academia, o objetivo é acelerar a inovação com o cliente”, afirma Frota, que é biólogo e doutor em bioquímica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Para falar a linguagem do mercado em um segmento de alto risco e prazos longos, a Regenera montou um sistema de entregas por etapas, que vai sendo acompanhado de perto pelo cliente. Nesse modelo, cada etapa de pesquisa é paga à parte e tem um prazo estipulado previamente pela startup junto ao cliente. “Dessa forma o cliente tem a garantia de que não vai pagar pela pesquisa toda e não obter resultado”, diz.
A Regenera surgiu de uma inquietação de Frota durante sua pesquisa de doutorado, em que ele estudava uma molécula do fundo do mar com potencial para combater o câncer. “Pensei: se o mar é tão bom, por que não existe uma empresa que possa descobrir essas moléculas e bater na porta das empresas para transformar isso em produto?”, diz.
A ideia surgiu em 2011. Mas a Regenera levou quatro anos para obter a licença necessária para sua atividade. A liberação veio em 2014. Nesse tempo, Frota tinha feito um pós-doutorado e atuava como professor. A empresa começou a operar de fato em 2015, após aporte de um investidor-anjo. Quando o negócio começou a andar, Frota pediu demissão para se dedicar ao negócio. Hoje a Regenera tem uma equipe de dez pessoas.
Na avaliação do empreendedor, falta incentivo para que pesquisas promissoras tornem-se de fato inovação. “Lá fora, você vai em eventos de biotecnologia e quem está por trás das startups são alunos de doutorado e seus orientadores. Isso não acontece no Brasil”, diz.