ACE acaba com aceleração e se tornará fundo de startups liderado por dados
Criada em 2012, a antiga Aceleratech acelerou 300 negócios. Agora, focará nos aportes de estágio semente
Mariana Fonseca
Publicado em 25 de junho de 2019 às 11h00.
Última atualização em 10 de setembro de 2019 às 11h27.
A ACE, antigamente conhecida como Aceleratech, foi uma das primeiras aceleradoras de startups do país -- entidades que apoiam negócios inovadores em estágio inicial a se construírem e crescerem, resolvendo os principais obstáculos que travam sua expansão e futura lucratividade.
Mesmo sendo uma das maiores referências brasileiras no ramo, anuncia hoje uma grande mudança em sua operação: encerrará as atividades de aceleração e se tornará um fundo de investimento data first, usando as informações já coletadas como o primeiro filtro de startups a receberem aportes.
Começos parecidos, futuros variados
O novo foco veio da análise dos dados de 20 mil projetos avaliados, 300 acelerados, 100 investidos e 14 saídas (comoa Love Mondays, vendida para a Glassdoor, e a Hiper, para a Linx)pela ACE nos últimos sete anos.“Nos estágios iniciais, os problemas das startups se relacionam a saber a dor a resolvida e o cliente daquela solução. Depois, há um grande leque de peculiaridades que a aceleração não conseguia atender bem”, afirma o sócio Arthur Garutti.
A ACE compilou as informações coletadas em uma plataforma de autoatendimento. Por meio do site, startups cadastram suas informações sobre fundadores, negócio e mercado e elas são comparados com o histórico da associação. Segundo o sócio, sete a cada dez startups investidas apresentam crescimento de ao menos 5% ao mês.“Usamos o aprendizado de tudo que era escalável para as startups e colocamos uma camada tecnológica na análise de dados, que está sendo melhorada por machine learning.”
Os empreendedores recebem um diagnóstico da empresa e uma nota baseados em 44 variáveis sobre capacidade do time fundador (histórico educacional e de empreendedorismo); tamanho da oportunidade de mercado; e a própria startup (como produto e distribuição de participação entre os sócios, ou cap table ).
O score é acompanhado por três possíveis respostas: sem aderência à tese de investimentos da ACE; com aderência, mas precisando de ajustes para que a startup receba aportes; e com aderência e pronta para captar investimentos.
Nos dois últimos casos, o comitê de investimentos da ACE se reúne para analisar os negócios e oferecer acompanhamento do score pela plataforma. Os empreendedores podem marcar conversas um a um com a rede de 150 mentores, 30 grandes empresas em projeto de transformação digital e 50 mil membros cadastrados na comunidade da associação.
O principal objetivo das mentorias é a criação de uma “máquina de escala” para a startup, por meio de seis trilhas de conhecimento: captação de investimentos, estratégia, gestão, pessoas, processos e visão de mercado. O passo final desse processo deverá ser um investimento semente.
A plataforma e o acompanhamento personalizado substituirão respectivamente o ACE Start e ACE Growth, programas antigos de aceleração. As 100 startups já investidas pela ACE já usam a plataforma e outras 30 ainda não investidas estão sendo acompanhadas pela ferramenta.
Um novo parâmetro de investimentos
Um outro motivo para a mudança de aceleradora a fundo é uma necessidade de investir quantias mais robustas nas startups, mesmo as iniciantes. “O mercado foi se ajustando ao aumento da oferta de investimentos em startups brasileiras”, afirma Garutti. A consolidação de fundos brasileiros -- como Valor Capital Group e Redpoint eventures -- e de aportes de fundos internacionais no Brasil -- como KaszeK Ventures e SoftBank -- aumentou a oferta de capital às startups. Em 2018, os negócios inovadores do país receberam 1,3 bilhão de dólares em aportes.
No começo da aceleradora, era comum investir de 20 a 50 mil reais nos negócios em troca de 10 a 15% de participação. Tais valores, hoje, seriam pouco para o caixa de uma startup e a participação inviabilizaria a captação de rodadas posteriores.
A ACE ampliou seu leque de investimentos para um tíquete de até três milhões de reais. Além de recursos próprios, a ACE captará um fundo de 100 milhões de reais para investir até três milhões de reais por startup (antigamente, todo negócio acelerado recebia a mesma quantia de investimento). Segundo pesquisas de mercado da ACE, os empreendedores devem ter de 70 a 80% de participação antes de captar seu série A.
O investimento da ACE só se converterá em participação quando a startup realizar o série A. O movimento, conhecido como notas conversíveis, é uma forma de evitar comer muita participação dos empreendedores ainda no início da empresa.
A instituição espera ter mais 50 a 80 startups no portfólio de investidas em 18 meses. O foco ainda está em aportes de estágio semente, mas a ACE não descarta acompanhar a série A das startups de seu portfólio em parceria com outros fundos de investimento. A associação afirma que terá uma capacidade quatro vezes maior de ir ao mercado, passando de cinco para 20 mil startups avaliadas por ano.