Negócios

Voos internacionais crescem em mercado de estrangeiras

O número de passeiros de voos para o exterior em aeroportos administrados pela Infraero saltou 91% em nove anos


	Avião da Air France: as companhias aéreas estrangeiras oferecem cada vez mais voos internacionais diretos de cidades fora do eixo Rio-São Paulo
 (Miguel Medina/AFP)

Avião da Air France: as companhias aéreas estrangeiras oferecem cada vez mais voos internacionais diretos de cidades fora do eixo Rio-São Paulo (Miguel Medina/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 27 de dezembro de 2013 às 10h39.

O número de passageiros de voos internacionais que embarcaram e desembarcaram nos aeroportos administrados pela Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) passou de 9,9 milhões em 2003 para 18,9 milhões em 2012, alta de 91%.

As companhias estrangeiras foram as que mais se beneficiaram dessa expansão. No período, a participação das aéreas de fora do País nesse volume de passageiros avançou de 58,5% para 70,3%, enquanto a das locais recuou de 41,5% para 29,7%, de acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Com a melhora da renda da população nos últimos anos e a evidência do Brasil com a Copa do Mundo em 2014 e a Olimpíada em 2016, as companhias aéreas estrangeiras continuam a investir no País, oferecendo cada vez mais voos internacionais diretos de cidades fora do eixo Rio de Janeiro e São Paulo para destinos nos Estados Unidos e na Europa.

A Air France, por exemplo, deve inaugurar em 2014 um voo direto ligando Paris e Brasília. Hoje, a companhia faz 28 voos semanais entre a França e o Brasil, metade saindo de São Paulo e metade do Rio de Janeiro.

A American Airlines inaugurou no fim do mês passado rota ligando Miami à Região Sul do País. O Boeing 767 da empresa decola da cidade americana, faz escala em Curitiba e segue para Porto Alegre, de onde volta direto aos EUA.

"A renda da população subiu nos últimos anos e a viagem internacional deixou de ser um tabu", disse o diretor regional de vendas da American Airlines para o Brasil, Dilson Verçosa Junior. Ele afirmou que acredita ser viável que no futuro as duas cidades brasileiras tenham voos independentes. "Vamos avaliar a demanda depois do carnaval, na baixa temporada."

O executivo disse que o Brasil é um dos três maiores mercados para a empresa americana, hoje em processo de fusão com a US Airways, o que vai levar à criação da maior companhia aérea do mundo.


Ele deu como exemplo da importância do mercado brasileiro o fato de a American Airlines ter iniciado as operações com seus novos Boeing 777-300ER em um voo entre São Paulo e Dallas, antes mesmo da rota entre Nova York e Londres.

Verçosa Junior afirmou que a American Airlines aumentou para 119 frequências semanais o número de voos entre nove cidades brasileiras e quatro americanas após a inauguração, feita este mês, da rota entre São Paulo e Los Angeles. "Por enquanto, não pensamos em novas cidades nem no aumento de frequências. Agora o foco é consolidar as rotas existentes."

Manaus e Belém

Outra empresa que investe há tempos no Brasil e tem no País seu principal faturamento é a portuguesa TAP. A estratégia da companhia de se expandir no mercado brasileira teve início faz mais de dez anos e hoje a empresa já oferece voos de dez cidades brasileiras para Portugal. No começo de junho do próximo ano, passará a operar a rota entre Lisboa, Manaus e Belém.

Com isso e o aumento da frequência de voos nas rotas já existentes, serão 12 cidades atendidas em 82 ligações semanais entre o Brasil e a Europa.

"O que verificamos é que o crescimento da economia se espalhou por todo o País. Com isso, as pessoas que moram fora do eixo entre Rio de Janeiro e São Paulo passaram a ser mais bem atendidas para realizar conexão com a Europa", disse o diretor-geral da TAP para América Latina, Mário Carvalho.

Ele afirmou que todas as rotas operadas pela companhia no Brasil têm dado muito certo. "O Brasil é o mais importante mercado para a TAP, respondendo por cerca de 30% do faturamento global da empresa."


Belém também terá um voo internacional no próximo ano feito pela TAM. A empresa vai ligar a capital do Pará a Miami a partir de 2 de fevereiro. A TAM justifica a abertura dessa rota pelo fato de o Estado estar acompanhando uma tendência de crescimento do turismo nacional: em 2012, recebeu mais de 800 mil visitantes nacionais e aproximadamente 70 mil de fora do País.

Infraestrutura e custos

Em meio a otimismo e investimentos, há vozes que duvidam da sustentabilidade desse processo. Uma delas é de Elton Fernandes, pesquisador na área de transporte aéreo do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

"Não vejo consistência desse movimento (de abertura de voos fora do eixo entre Rio de Janeiro e São Paulo). Acho que estamos vivendo um momento de Copa e Olimpíada, mas não vejo sustentabilidade desses voos." Ele também não vê facilidade de conexão de voos em algumas cidades, como Belém.

Questionada sobre isso, a TAM informou em nota que, antes de expandir a malha aérea, realiza estudos para avaliar fatores como as necessidades dos clientes e a demanda de cada cidade ou região. "Assim, após analisarmos o potencial das regiões Norte/Nordeste e dos EUA, decidimos lançar duas frequências semanais entre Belém e Miami a partir de 2 de fevereiro do ano que vem."

De acordo com Fernandes, um número expressivo de brasileiros viajou ao exterior nos últimos anos, mas de 2011 para 2012 houve estabilização. "O transporte aéreo está muito ligado ao crescimento econômico. Se não houver avanço da atividade, as viagens aéreas se retraem, e é isso o que tem acontecido."

O pesquisador da UFRJ observou que é muito maior o total de brasileiros que viajam ao exterior do que o de estrangeiros que visitam o Brasil. "A infraestrutura turística no País é muito ruim. As cidades têm vários problemas, notadamente a falta de segurança."

Questionado sobre por que as empresas brasileiras não conseguem competir com as estrangeiras nos voos internacionais, Fernandes afirmou que pesa a questão tributária e a legislação trabalhista no Brasil, que acabam criando entraves para a expansão das companhias domésticas.

Acompanhe tudo sobre:AeroportosAviaçãoEmpresas estataisEstatais brasileirasInfraeroServiçosSetor de transporteTransportes

Mais de Negócios

Mesbla, Mappin, Arapuã e Jumbo Eletro: o que aconteceu com as grandes lojas que bombaram nos anos 80

O negócio que ele abriu no início da pandemia com R$ 500 fatura R$ 20 milhões em 2024

10 mensagens de Natal para clientes; veja frases

Ele trabalhava 90 horas semanais para economizar e abrir um negócio – hoje tem fortuna de US$ 9,5 bi