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Viúva de Nelson Mandela participa de evento em São Paulo

Durante a 2ª edição do Fórum Internacional Empresarial pela Equidade Racial, Graça Machel esteve com mais de 50 CEOs em ato simbólico para reafirmação do compromisso com o combate ao racismo e promoção da equidade étnico-racial nas empresas

(Mover/Divulgação)
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Publicado em 2 de dezembro de 2022 às 11h10.

Última atualização em 2 de dezembro de 2022 às 12h08.

Nos dias 17 e 18 de novembro, às vésperas do Dia da Consciência Negra, ocorreu a 2ª edição do Fórum Internacional Empresarial pela Equidade Racial, realizado pela Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial em parceria com o Movimento pela Equidade Racial (MOVER).

O evento, nas instalações da Universidade Zumbi dos Palmares, contou com um workshop sobre racismo sistêmico ministrado por Steve Robbins, doutor em ciência da comunicação, psicologia e neurociência cognitiva; e com uma palestra de Graça Machel, ativista de direitos humanos, ex-ministra da Educação de Moçambique e viúva de Nelson Mandela.

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Em sua fala breve, porém potente, Machel, que discursou para mais de 50 CEOs das maiores empresas do país, lembrou que 57% da população brasileira é composta de pessoas negras, mas que esse número não se traduz nas formas de organização do Estado.

“Somos uma sociedade que não tem a consciência de que mais da metade das pessoas têm sangue negro. É preciso haver uma desconstrução da desigualdade para construirmos a igualdade e termos uma nação de 200 milhões de habitantes com dignidade para todos e não para apenas 43% da população.”

O compromisso das empresas com a equidade racial

O encontro teve como objetivo fazer reflexões sobre ESG e ações afirmativas, promovendo movimentos concretos de transformação, com foco na promoção da diversidade racia l, principalmente dentro das empresas.

De acordo com Marina Peixoto, diretora-executiva do MOVER, cerca de 100 empresas estavam representadas no evento, que reuniu mais de 400 pessoas. “Foram muitos os temas debatidos e todos os presentes estavam abertos a ouvir e aprender. Mesmo nos momentos de intervalo e networking, a troca foi fomentada e muito efetiva”, conta.

-(Arte/Exame)

O que faz o MOVER?

O MOVER nasceu da união de grandes empresas que, juntas, criaram um grupo de trabalho para entender o papel das organizações na luta para eliminar o racismo da sociedade. “O movimento começou em 2020. Sentimos a necessidade de nos posicionar e chegamos à conclusão de que juntos podemos fazer mais do que separados”, relembra Liel Miranda, presidente do Conselho do MOVER .

Hoje, a associação conta com 47 empresas que estão alinhadas com os compromissos da iniciativa a longo prazo. O MOVER estabeleceu três principais compromissos a serem realizados até 2030:

  1. a ocupação de 10 mil posições de liderança por pessoas negras;
  2. capacitar e melhorar a vida de 3 milhões de pessoas negras em todo o Brasil;
  3. promover ações e conteúdos de letramento e incentivo ao debate com a sociedade.

“Quem decide se tornar parte da associação tem de entender que o MOVER não é apenas um selo, que você faz uma doação e fica certificado, é preciso haver um compromisso concreto. Temos reuniões com CEOs a cada dois meses, com 60% de média de participação. Inclusive, nós acompanhamos e computamos os resultados alcançados, então elas precisam estar realmente dispostas”, destaca Miranda.

A diversidade é boa para os negócios

Graça Machel destacou que mais da metade do talento brasileiro está sendo desperdiçada, e reforçou que equipes mais diversas são também uma forma de fazer com que as empresas se fortaleçam.

“Para mim, é uma questão de justiça social, mas para vocês se trata também de business. A estrutura de uma empresa precisa refletir a biografia do país e esse deve ser um plano do conselho administrativo, do CEO e das lideranças de RH”, disse a ativista.

Liel Miranda endossou a fala de Machel, reforçando que diversas pesquisas mostram que equipes diversas são mais efetivas, mais inovadoras, resilientes, colaborativas e entregam melhores resultados.

“Ninguém mais tem dúvidas de que a diversidade é boa para os negócios. Uma empresa formada somente por brancos ou que só tem brancos na liderança, que provavelmente vieram das mesmas universidades e mesmas classes sociais, não tem condições de entender seus consumidores por completo, por exemplo.”

É por causa disso que as frentes trabalhadas pela associação têm a ver com capacitar, mas também com abrir espaços nas companhias. “Não adianta eu continuar exigindo inglês, especializações e experiência. Se eu não der a chance do primeiro emprego, a pessoa não tem como conseguir o segundo. Outro aspecto é que as capacitações são também para que pessoas negras possam empreender e se tornar fornecedores dessas companhias, mudando todo o ecossistema do mercado”, diz.

-(Arte/Exame)

Um futuro de igualdades

No evento, foram divulgados também os resultados da 3ª edição do Índice de Equidade Racial nas Empresas (IERE) , que, para José Vicente, doutor em educação, reitor da Universidade Zumbi dos Palmares e membro do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), trazem um alento. “Nem nos meus melhores sonhos imaginei que seria ponderável ver empresas que, antes, exigiam a chamada ‘boa aparência’ em suas vagas, agora há líderes discutindo a equidade de forma aberta, franca e honesta”, diz ele.

Para o futuro, Vicente espera que, com as provocações de 2022, os próximos fóruns sejam ainda maiores e que já seja possível apresentar resultados como a inclusão de mais pessoas negras em posições de liderança. “Estou esperançoso por números melhores, mais empresas alocando recursos e se associando. Queremos fazer, desse, o Fórum de Davos da equidade racial no mundo.”

Quanto ao MOVER, reforça Marina Peixoto, a expectativa, em 2020, era conseguir chegar a um número próximo a 50 empresas engajadas. O sonho já se tornou realidade. Agora, a ideia é fazer ainda mais encontros de relacionamento e, quem sabe, aumentar o crescente quórum.

“Eu gostaria de chegar a 100 organizações fazendo parte da associação. Mas não é uma meta, é um potencial. No fim, não importa quantas empresas são, desde que elas estejam comprometidas. Estamos abertos para todos que queiram conhecer melhor o nosso trabalho e fazer parte dessa transformação”, conclui.

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