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Usina de Itaipu completa 30 anos de operação

A usina, que completa hoje 30 anos de operação, gerou nesse período um total de 2.167.763.264 megawatts-hora


	Usina de Itaipu: para construí-la, foram necessários U$$ 27 bilhões, captados em orgãos nacionais e internacionais, incluindo as rolagens financeiras
 (Nani Gois)

Usina de Itaipu: para construí-la, foram necessários U$$ 27 bilhões, captados em orgãos nacionais e internacionais, incluindo as rolagens financeiras (Nani Gois)

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Da Redação

Publicado em 5 de maio de 2014 às 12h39.

Brasília - A Usina Hidrelétrica de Itaipu completa hoje (5) 30 anos de operação.

Nesse período, gerou um total de 2.167.763.264 megawatts-hora (MWh) – energia suficiente para suprir o consumo de todo o planeta por um mês, sete dias, 11 horas e 42 minutos.

A produção acumulada do período poderia também abastecer a Região Centro-Oeste por praticamente 66 anos, o Brasil por quatro anos e oito meses ou a América Latina por mais de dois anos e cinco meses.

“São números impressionantes, principalmente se levarmos em conta que por trás dessa obra estão o Brasil e o Paraguai: dois países que, na época, eram considerados periféricos e sem capacidade para tocar um empreendimento de tal magnitude”, disse à Agência Brasil o diretor-geral brasileiro de Itaipu, Jorge Samek.

A usina gera 2,8 mil empregos diretos: 1,4 mil em cada um dos dois países. Para construí-la, foram necessários U$$ 27 bilhões, captados em orgãos nacionais e internacionais, incluindo as rolagens financeiras.

Atualmente, a dívida é US$ 13 bilhões. Cerca de 60% dos custos anuais têm como destino o pagamento dessa dívida.

“Mas ela será quitada em 2023. A partir de então, teremos apenas os custos de operação, o que poderá resultar em tarifas mais módicas, caso seja esse o interesse do governo. Outro caminho que pode ser adotado é a manutenção do preço, com o objetivo de ampliar o setor com novas usinas financiadas. Há ainda um terceiro caminho, que é misturar os dois anteriores”, explica o superintendente da área de Operação de Itaipu, Celso Torino.

Itaipu já distribuiu US$ 280 milhões em royalties. Desse total, 45% foram destinados aos municípios que tiveram áreas alagadas, 45% aos estados e 10% aos ministérios de Minas e Energia, da Ciência, Tecnologia e Inovação e do Meio Ambiente.

Apesar de não ser mais a usina com maior capacidade instalada do mundo – ela perdeu o posto para a Hidrelétrica Três Gargantas, na China, com 22,4 mil MW – Itaipu, cuja capacidade é 14 mil MW, continua sendo a maior geradora de energia, graças ao maior volume de água que passa por suas turbinas.

“Nossa localização é o diferencial, e é por isso que somos mais produtivos do que a usina chinesa, apesar de termos menor capacidade instalada. Nenhuma usina recebe tanta água quanto Itaipu. Todas a água da Bacia do Paraná [constituída pelos rios com origem em Brasília, Minas Gerais, Goiás, São Paulo, no Paraná e sul de Mato Grosso] obrigatoriamente passa por aqui. A mesma água que passa por 45 outras usinas gera energia também em Itaipu, mostrando de forma clara e inquestionável como é renovável essa matriz energética”, explica Samek.


A usina bate recordes seguidos. Em 2012, foram gerados 98,3 milhões de MWh, recorde batido no ano seguinte, quando atingiu a marca de 98,63 milhões de MWh, enquanto Três Gargantas gerou pouco mais de 80 mil MWh. Itaipu poderia ter ultrapassado a marca de 100 milhões de MWh no ano passado, não fossem algumas medidas preventivas adotadas devido à Copa das Confederações.

Em 2014, há possibilidade de esse recorde não ser batido devido a medidas preventivas e “cuidados especiais” adotados por causa da Copa do Mundo.

“Para a Copa do Mundo, teremos o máximo de equipamentos de confiabilidade na usina, bem como equipes reforçadas”, antecipou Torino. “Será difícil batermos novo recorde porque estamos operamos com sistema de segurança maior”, completou Samek. .

A qualidade da usina é elogiada pelo diretor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), Luiz Pinguelli Rosa.

“Itaipu é uma obra de engenharia primorosa, com um sistema muito eficiente em termos de manutenção”, destaca o professor de energia do Programa de Planejamento Energético do instituto.

“Em 2001, na época em que o país teve de fazer racionamento de energia, Itaipu não parou. Faltava energia em várias usinas, mas lá não. Ela tinha muita água. O problema estava na transmissão de energia. Se houvesse uma estrutura [de transmissão] como a atual, certamente teriamos melhores condições para lidar com o problema”, disse ele à Agência Brasil.

Para Samek, a interligação do sistema avançou nos últimos anos.

“Foi montado um esquema chamado Erac [Esquema Regional de Alívio de Carga] que, ao identificar problemas mais sérios, mantém com energia lugares considerados estratégicos e desliga áreas mais remotas. Seria algo como um apagão seletivo, que preserva áreas sensíveis, onde o prejuízo seria muito maior caso houvesse queda [no fornecimento de energia]”, explica o diretor-geral de Itaipu.

“E se houver problema em outra usina e ela tiver de ser isolada do sistema, temos condições de, em dez minutos, repor cerca de 3 mil MW de energia ao sistema”, completou Torino.

Itaipu foi a primeira a adotar corrente contínua no Brasil. A energia sai da usina e viaja 1,1 mil quilômetros direto, sem passar por estações intermediárias. “Isso não existia no Brasil. Só agora, 30 anos depois, usamos a mesma tecnologia para fazer a linha que liga as usinas do Rio Madeira até Araraquara (SP), com perda inferior a 2% ao longo do caminho”, disse Samek.

Segundo Torino, grandes desafios aguardam Itaipu nos próximos anos. Entre eles, está o de preservar a produtividade da usina e a boa gestão de conhecimentos por ela adquiridos.

“Precisamos repassar isso a futuros trabalhadores, sem que a eficiência do empreendimento seja prejudicada”.

Ao longo dos 30 anos de operação, a usina não gerou apenas energia.

“Geramos muito conhecimento. A inteligência que se acumulou para construir Itaipu, especialmente pelos profissionais das áreas de tecnologia da informação, cientistas e ambientalistas, foi aproveitada também no nosso parque tecnológico”, ressaltou o diretor.

Entre os projetos desenvolvidos no parque da usina estão o carro elétrico brasileiro e acessórios para esse tipo de veículo, como baterias para aproveitamento de energias solar e hidráulica.

“Avançamos muito no desenvolvimento de técnicas de armazenamento e produção de energia por meio de hidrogênio”, lembrou Samek.

Itaipu gera também tecnologias sociais. Após constatar que o reservatório da usina e os rios da região haviam sido contaminados por fezes de gado e de porcos criados na área, os técnicos desenvolveram sistemas de aproveitamento energético a partir das fezes desses animais.

Com equipamentos de geração e transmissão de energia, as fezes são transformadas em biogás para abastecer, de energia elétrica, fazendas da região.

“Centenas de produtores e cinco cooperativas já adotaram a tecnologia. Os dejetos que sobram [desse processo] viram adubo para as plantações”, informou o diretor. “Agora, nosso desafio é fazer uma cidade inteira ser abastecida por essa energia”, acrescentou, referindo-se à cidade paranaense de Entre Rios do Oeste, que tem cerca de 4 mil habitantes.

A importância da usina para o desenvolvimento da região ultrapassa a fronteira, beneficiando consideravelmente o Paraguai, “embora eles ainda paguem parcela da dívida de construção”, explica o diretor do Coppe.

“Essa usina é um caso exemplar de cooperação internacional, porque o Paraguai, na época, não tinha a mínima condição de fazer uma obra como essa, que viria a se tornar a de maior geraçaõ elétrica de todo o mundo”, acrescenta. “Itaipu faz parte de uma estratégia de aproximação e desenvolvimento conjunto [da região], encabeçada pelo então presidente Ernesto Geisel”.

Recentemente, o Paraguai foi beneficiado com uma segunda linha de transmissão ligando a usina à capital do país, Assuncão, feita pela binacional com recursos da verba que o Brasil dá ao Mercosul.

“As discordâncias entre o Paraguai e o Brasil estão relacionadas principalmente ao valor pago pelo excedente [da energia cotada para o país vizinho]. Eles reclamam também da dívida, que é cobrada até hoje na tarifa”, explicou o professor.

“Antes disso, o problema era com a Argentina, que na época tinha muita rivalidade com o Brasil. A disputa pela hegemonia [na América do Sul] era muito grande. Eles alegaram que poderia haver ruptura da barragem, e que isso a colocava em situação de risco por causa de uma possível inundação”, explicou Pinguelli.

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