Esta linha do tempo mostra por que a Apple perdeu US$ 73 bilhões em um dia
A dona do iPhone foi do céu ao inferno em apenas seis meses. Em agosto de 2018 valia US$ 1 trilhão; agora, perde bilhões na bolsa. Entenda a crise da Apple.
Mariana Desidério
Publicado em 5 de janeiro de 2019 às 07h00.
Última atualização em 5 de janeiro de 2019 às 07h00.
São Paulo – A fabricante de smartphones Apple foi do céu ao inferno em apenas seis meses. Em agosto de 2018, a companhia comemorava o posto de empresa mais valiosa do mundo, com valor de mercado de 1 trilhão de dólares – a primeira companhia da história a atingir essa marca.
No entanto, foi só 2019 começar para as ações da companhia derreteram. Essa semana, a Apple perdeu 73 bilhões de dólares na Bolsa em um único dia. O motivo foi a revisão para baixo das receitas da empresa. Em comunicado no dia 2 de janeiro, o CEO da companhia Tim Cook reduziu em 7 bilhões de dólares as receitas para o primeiro trimestre do ano.
A queda abrupta no preço das ações influenciou todo o mercado de tecnologia. A própria Microsoft caiu na bolsa após a notícia vinda da Apple, assim como companhias menores, que integram a cadeia de fornecimento. Um dos motivos alegados pela companhia para a redução na previsão de vendas está na queda de braço entre Estados Unidos e China, que levou à redução das vendas do iPhone no mercado chinês.
Mas não dá para colocar a culpa só nos chineses. Fato é que a Apple tem alguns abacaxis para descascar, a começar pelo preço do iPhone. Veja a seguir uma sequência de eventos envolvendo a companhia que ajudam a explicar o inferno vivido pela companhia agora.
2 de agosto de 2018 – O valor de mercado da Apple chega ao 1 trilhão de dólares, e a companhia se torna a primeira a atingir esse montante. O recorde veio depois que a companhia divulgou os resultados do terceiro trimestre de 2018, que mostravam lucro líquido de 11,5 bilhões de dólares, uma alta de 32% na comparação anual. O bom desempenho se deveu às vendas de iPhones com preços mais altos e à receita de serviços como a Apple Store, Apple Music e iCloud.
12 de setembro de 2018 – A Apple lança os iPhones XS, XS Max e XR. Com preços na casa dos mil dólares (no Brasil, o XS Max pode sair por nada menos que 10 mil reais), os aparelhos foram criticados por não trazerem muitas novidades, apesar do valor salgado. E mais: a bateria dura menos que a da versão anterior, o iPhone X. Na Fast Company, um jornalista chegou a escrever que o aparelho é “uma farsa”.
5 de novembro de 2018 – A Apple anuncia que vai parar de divulgar os números de venda de seus aparelhos. Na época, o crescimento nas vendas havia sido de menos de 1% em relação ao mesmo período de 2017, chegando a 218 milhões de unidades. Para compensar a desaceleração nas vendas, a estratégia da companhia foi continuar a aumentar o preço do iPhone.
19 de novembro de 2018 – A Apple corta os pedidos de produção para todos os três modelos de iPhone lançados em setembro, informou o Wall Street Journal. O motivo é a baixa demanda. As previsões são particularmente problemáticas para o iPhone XR, com a Apple cortando seu plano de produção em até um terço das quase 70 milhões de unidades encomendadas a fornecedores para o período entre setembro e fevereiro.
28 de novembro de 2018 – A concorrente Microsoft ultrapassa a Apple em valor de mercado pela primeira vez em oito anos. Enquanto a empresa fundada por Steve Jobs chegou a 845 bilhões de dóalres naquela data, a companhia de Bill Gates atingiu o patamar de 848 bilhões de dólares – 3 bilhões de dólares a mais.
2 de janeiro de 2019 – Apple reduz as expectativas de receita para o primeiro trimestre do ano. A conta foi de 91 bilhões de dólares para 84 bilhões de dólares, queda de 7 bilhões. Dentre os motivos levantados pelo CEO da companhia, Tim Cook para a queda nas vendas estão a guerra comercial entre China e Estados Unidos e a alta do dólar.
O que será da Apple agora?
Os últimos eventos mostram um movimento já previsto por alguns analistas: a era do iPhone como principal fonte de receitas da companhia pode estar chegando ao fim. Em reportagem publicada agosto no site EXAME, logo após a Apple atingir valor de mercado de 1 trilhão de dólares, o analista Gene Munster dizia que o novo paradigma da Apple, quase onze anos depois do lançamento do primeiro iPhone, é o de serviços.
O faturamento desse setor — que responde por licenciamentos, além das vendas na loja de aplicativos, no serviço de streaming de música e na funcionalidade de pagamentos Apple Pay — foi de 9,5 bilhões de dólares no trimestre terminado em junho de 2018, o maior já registrado e com uma alta de 33% em relação a 2017.
Porém, nada é tão simples. Na mesma semana em que cortou a expectativa de receitas para o início de 2019, a Apple recebeu outra notícia ruim, vinda da Netflix. A gigante do streaming deixou de usar iTunes como meio de cobrança para seu serviço de assinatura, o que vai custar 256 milhões de dólares à Apple. O movimento pode ser copiado por outras companhias, o que renderá mais dores de cabeça à companhia fundada por Steve Jobs.