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Uma jornalista brasileira na Toyota

A editora executiva Cristiane Correa, autora da reportagem de capa da edição 892, conta como foi sua visita à maior montadora do mundo

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h39.

Entrar no mundo da Toyota não é fácil. Passaram-se exatos 14 meses entre o primeiro contato que fiz com a empresa para tentar uma visita à matriz e a definição do meu cronograma de viagem. Nesse tempo, troquei dezenas de e-mails com a assessoria de imprensa (no Brasil e no Japão) para detalhar ao máximo o objetivo da matéria. Sempre formais, mesmo depois de tanto tempo eles continuavam me chamando de Ms. Correa (embora eu assinasse as mensagens simplesmente como "Cris"). Um sinal de que ali não haveria espaço para muita brincadeira ou improviso.

Ao chegar no Japão, percebi que estava certa. Todos as atividades (visitas à fábrica e ao centro de inovação, entrevistas etc) foram rigorosamente cronometradas. Embora sempre atenciosos e simpáticos, os executivos da montadora evitam a todo custo fazer comentários incisivos ou polêmicos, o que dificulta um bocado a vida de qualquer jornalista. Para piorar, quase todas as entrevistas foram em japonês, já que a maioria dos executivos não fala inglês (obviamente, sempre havia uma tradutora por perto).

Aos poucos fui percebendo como a lógica da Toyota é diferente da maioria das empresas que conheço. Estou acostumada a encontrar companhias que motivam seus funcionários com bônus generosos e possibilidade de ascensão rápida dentro da empresa. Lá, essa lógica simplesmente não existe. Como numa empresa que não há demissões os funcionários não se acomodam? Como a diferença entre o salário de um operário e do presidente pode ser tão baixa (o principal executivo ganha cerca de 10 vezes mais que um trabalhador da fábrica)? Como as pessoas concordam em esperar as "idades mínimas" para que possam ser promovidas? Toda vez que eu perguntava algo desse tipo, o pessoal da Toyota me olhava como se eu fosse um ET. Para eles, nada disso é importante. O importante é fazer o trabalho melhor, dia após dia. Só isso.

Depois de conversar com tanta gente, ficou claro para mim que o grande trunfo da Toyota não é seu já tão falado sistema de produção. O que acontece nas fábricas é apenas um reflexo do que as pessoas pensam. E antes que alguém generalize e diga que "empresa japonesa é assim mesmo", eu faço um alerta. A também japonesa Nissan, acaba de anunciar a demissão de 1.500 funcionários. A também japonesa Sony já enfrentou um bocado de solavancos. A Toyota não é uma máquina de ganhar dinheiro porque é uma empresa japonesa. Ela é um sucesso porque é a Toyota.

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