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Um palácio do luxo em SP

Rafael Kato Dos prédios que sobem aos casarões que vêm ao chão, o único status permanente da cidade de São Paulo e de seus 12 milhões de habitantes é a própria impermanência. É no bairro do Panamby — uma área emblemática do avanço urbano posta em prática pela iniciativa privada nos início dos anos 1990, […]

CELSO DAVID DO VALLE, DO PALÁCIO TANGARÁ: obras aceleradas para a inauguração do hotel em maio; diárias custarão a partir de 1.575 reais / Germano Lüders

CELSO DAVID DO VALLE, DO PALÁCIO TANGARÁ: obras aceleradas para a inauguração do hotel em maio; diárias custarão a partir de 1.575 reais / Germano Lüders

DR

Da Redação

Publicado em 11 de março de 2017 às 08h01.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h22.

Rafael Kato

Dos prédios que sobem aos casarões que vêm ao chão, o único status permanente da cidade de São Paulo e de seus 12 milhões de habitantes é a própria impermanência. É no bairro do Panamby — uma área emblemática do avanço urbano posta em prática pela iniciativa privada nos início dos anos 1990, e colada à favela de Paraisópolis — que surgirá mais um símbolo da transfiguração infindável da cidade. É o luxuoso hotel Palácio Tangará — situado em um terreno que já teve de tudo: chácara, devaneios de amor de um industrial e de uma nobre alemã, brigas com a prefeitura e um projeto com envolvimento da Previ. A abertura está prevista para maio.

O Palácio Tangará será o primeiro hotel da categoria “luxo premium” da cidade. Serão 141 apartamentos com diárias entre 1.575 e 9.630 reais. EXAME Hoje visitou as obras do local, que seguem em ritmo acelerado, e pôde verificar as facilidades que estarão disponíveis: um moderno centro de fitness, spa, duas piscinas (uma delas no subsolo do hotel), salas de reunião, salão de festas para 530 convidados — que já começou a ser procurado para casamentos — e um espaço exclusivo de entretenimento para crianças. Na gastronomia, o bar, o lounge bar e o restaurante contarão com a assinatura de Jean-George Vongerichten, dono de 30 restaurantes pelo mundo, sendo o principal deles um estabelecimento com três estrelas no Guia Michelin que leva o seu nome, em Nova York. Para o transporte de hóspedes e convidados, veículos Mercedes-Benz estarão disponíveis — embora também haverá a possibilidade de alugar uma Ferrari ou uma moto Harley-Davidson, por exemplo.

“No final do dia, o típico hóspede corporativo está louco para voltar ao quarto de hotel. O que nós queremos é que os hóspedes estejam loucos para voltar ao hotel e não apenas ao quarto”, afirma Celso David do Valle, diretor geral do Palácio Tangará. Além da possibilidade de tomar um coquetel à beira da piscina ou agendar uma hora de massagem no spa, a aposta no sucesso do empreendimento está em sua localização, cercado pela vegetação nativa do Parque Burle Marx, além da sua linha arquitetônica neoclássica, lembrando, de fato, um palácio. “É uma situação única na cidade. O hóspede se sente praticamente num resort. É um oásis de tranquilidade em São Paulo. Não se ouve um barulho aqui”, diz Valle.

A história da região é uma trajetória comum no desenvolvimento acelerado da cidade, em que sonhos e demolições surgem com a mesma velocidade. O local era uma propriedade, a chácara Tangará, do industrial, playboy e jet setter Baby Pignatari, um membro do clã Matarazzo. Nos anos 1950, Pignatari encomendou a Oscar Niemeyer uma residência para ele e sua segunda esposa. O casamento naufragou e o projeto foi paralisado. No começo da década de 1960, Pignatari tentou retomar a obra como presente para a sua terceira mulher, a atriz, socialite e princesa alemã Ira von Fürstenberg. Acostumada com as praias do sul da França e os castelos da Baviera, ela se recusou a morar em local que, quando pronto, pareceria mais com uma fazenda do que com um palácio. Do projeto original, sobreviveu apenas o jardim (hoje público) quadriculado de Burle Marx — reformado com o surgimento do parque a partir do acordo entre os criadores do empreendimento imobiliário do Panamby com a prefeitura, nos anos 1990.

A ideia de um hotel no terreno contíguo ao parque data de 1999. Na época, a construtora Birmann e o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, a Previ, se juntaram para abrir um spa de luxo no local. Com os problemas financeiros enfrentados pela construtora, o projeto foi paralisado três anos depois. Sobrou apenas um esqueleto de concreto no local. O gigante neoclássico abandonado fez parte da paisagem do parque até 2013, quando o fundo americano GTIS comprou o terreno e o prédio, decidindo por terminar o projeto do hotel.

Redes do luxo
Apesar do investimento inicial, cujo valor não foi revelado, ser do fundo GTIS, a construção e futura operação do hotel ficará a cargo da Oetker Collection, o braço hoteleiro do conglomerado alemão Oetker — dono, entre outros coisas, de fermento e gelatina em pó e da empresa de transporte marítimo Hamburg Süd. O Tangará será o nono hotel do grupo, o primeiro na América Latina — com exceção de um empreendimento no Caribe. Entre as famosas propriedades da Oetker Collection está o lendário Hotel du Cap-Eden-Roc, na riviera francesa, que abriga celebridades desde os anos 1920 e foi imortalizado pelo escritor F. Scott Fitzgerald no romance Suave é a Noite, de 1934, como o Hotel dos Estrangeiros.

“Fazia tempo que São Paulo merecia e precisava de um hotel de luxo como o Palácio Tangará. Algo que tenha história e extremo bom gosto”, afirma Carlos Bernardo, professor do curso de Hotelaria da Universidade Anhembi Morumbi. Segundo Bernardo, os hotéis de São Paulo classificado como upscale — Fasano, Emiliano e Unique — embora sejam hotéis de altíssimo padrão, não atendem ao gostos de uma parcela mais refinada e exigente de clientes. “Não se trata apenas de sheiks árabes e chefes de estado, mas empresários muito bem-sucedidos que, em vez de irem ao exterior para fecharem seus negócios, poderão fazer seus negócios por aqui”, diz.

Outras grandes redes internacionais também perceberam que havia uma demanda reprimida por hotéis de “luxo premium” em São Paulo. A Rosewood Hotels, por exemplo, deve inaugurar em 2019 um hotel com 150 quartos na Cidade Matarazzo — o projeto de 1,5 bilhão de reais de requalificação do antigo hospital próximo da Avenida Paulista. A arquitetura será do vencedor do prêmio Pritzker Jean Nouvel e decoração do badalado designer Philippe Starck. Antes disso, em 2018, será a vez da rede canadense Four Seasons abrir sua unidade em São Paulo, em uma nova região de prédios comerciais criada pela Odebrecht e chamada de Parque da Cidade.

“A chegada dessas novas redes também mostra que é importante não descuidar de um público que preza pela qualidade do serviço”, diz Bernardo. Segundo o professor de hotelaria, as inaugurações recentes no mercado brasileiro tinham uma preocupação em demasia com estadas de baixo custo e em como atrair a geração Y.

Mas os números mostram que é possível crescer no setor dos super-ricos. Segundo a consultoria Zion Market, especializada em hotelaria, o setor de hotéis de luxo deve se expandir no mundo nos próximos anos. A projeção é que o mercado cresça de 158 bilhões de dólares em 2016 para 194 bilhões em 2021. O motivo para o crescimento, segundo a empresa, é que o estilo de vida dos países mais ricos tende a aumentar nos países emergentes, pressionando a necessidade de hotéis de luxo para férias e reuniões de negócio.

Apesar de futuros concorrentes, o diretor geral do Tangará acredita que há espaço para todos na cidade de São Paulo, que se firmará de vez com um destino tanto de estrangeiros como dos endinheirados brasileiros. O Brasil tem 155.000 milionários e 64.500 estão na cidade — sendo 950 deles com uma fortuna superior a 30 milhões de dólares, segundo a consultoria Knight Frank Research.

Com clientes desse nível socieconômico, a preocupação mesmo é, por enquanto, com a experiência que será oferecida quando o hotel abrir. “O bem-estar não é o algodão egípcio no lençol, o travesseiro de pluma de ganso ou o Jean-George comandando nossa gastronomia. O momento da verdade está em propiciar uma experiência única ao hóspede”, diz Valle. Só que com um pressão adicional no caso de hotéis como o Tangará: “não ser uma experiência boa, é péssimo. Nota 7 não é para este empreendimento”. Ainda mais com uma conta que pode passar de 9.000 reais.

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