Negócios

Um negócio que começou numa estrada de terra de MG agora fatura R$ 100 milhões com alimentos veganos

No mercado desde 2015, a Vida Veg quer chegar ao faturamento de R$ 300 milhões no período de três anos

Anderson Rodrigues, da Vida Veg: investimos 10 milhões de reais para aumentar a fábrica pensando no horizonte de cinco anos (Vida Veg/Divulgação)

Anderson Rodrigues, da Vida Veg: investimos 10 milhões de reais para aumentar a fábrica pensando no horizonte de cinco anos (Vida Veg/Divulgação)

Marcos Bonfim
Marcos Bonfim

Repórter de Negócios

Publicado em 1 de fevereiro de 2024 às 11h09.

Última atualização em 1 de fevereiro de 2024 às 11h32.

O estado de Minas Gerais é conhecido por ser responsável por alguns dos principais pratos da culinária do país. É a terra de queijos, doces de leite e ainda da famosa pururuca e da tradicional cachacinha. Ou seja, a dificuldade para quem começa a transitar para uma dieta vegana é patente. 

Era assim que se sentia o empreendedor Anderson Rodrigues, sócio-fundador da Vida Veg, empresa de laticínios plant-based criada em 2015 em Lavras, cidade a 243 quilômetros da capital Belo Horizonte. 

A marca é dona de um portfólio de 40 produtos entre queijos, iogurtes, manteigas, creme de leite e leite vegetal. Em 2023, registrou faturamento de 100 milhões de reais, após crescer 80% em relação a 2022. Nos próximos três anos a ambição é chegar aos 300 milhões. 

O interesse de Rodrigues pelo universo vegano surgiu anos antes e foi tema do seu trabalho final de mestrado na Universidade Federal de Lavras. No mesmo período, em 2010, ele tinha entrado para uma ONG de proteção animal, espaço em que conheceu pessoas veganas e vegetarianas. Daí, a opção por analisar o comportamento desse perfil de consumidor.

Como a Vida Veg foi criada

“Nesta época, eu estava tentando ser vegano e não achava nada de produtos que imitam de origem animal e leite vegetal. Com a pesquisa eu vi que era uma dificuldade não só minha, mas de todo mundo”, diz.

Sem experiência e dinheiro, o caminho foi adiar a ideia de negócio e procurar emprego. O veganismo também não resistiu. A vontade ficou adormecida até 2015, quando decidiu largar o emprego no interior de São Paulo, retornar para Lavras e abrir a Vida Veg ao lado do Álvaro Gazolla, amigo de infância e engenheiro de alimentos. 

O negócio começou no edifício de um antigo laticínio na zona rural da cidade. “Nós pegávamos 5 km de estrada de terra até chegar nele. Não pegava internet nem telefone, os vidros estavam quebrados e tinha teia de aranha, mas era o mais barato pelo dinheiro que tínhamos”, diz Rodrigues.  

Foi lá que deram início à jornada empreendedora e a desenvolver os primeiros produtos, iogurtes e queijos à base de castanhas de caju e coco. Os dois alimentos são até hoje os principais para a criação dos itens no portfólio, composto por manteiga, cremes e leites. O período foi acompanhado pela retomada da transição alimentar, primeiro como vegetariano e desde 2019 como vegano.

O crescimento da Viva Veg foi aos poucos e com alto grau de dependência de processos manuais até 2019, quando chegaram dois novos sócios, Arlindo Curzi, ex-CEO da Verde Campo, e Iago Mazochi, engenheiro de produção e investidor.

A composição trouxe mais fôlego financeiro, permitindo à empresa quitar dívidas e construir uma nova fábrica, já na parte industrial da cidade. 

Em meados de 2021, ganhou um reforço para acelerar o negócio. A gestora de investimentos em venture capital X8, dedicada a empreendimentos em ESG, entrou com R$ 14 milhões no negócio.

De lá para cá, a empresa investiu cerca de 10 milhões de reais para aumentar a fábrica. Em uma estrutura de 5.000 metros quadrados, pode produzir 1.000 toneladas por mês, capacidade bem acima da demanda atual, 300 toneladas.

“Nós pretendemos chegar em 70%,80% rapidamente”, diz Rodrigues. “Todo esse investimento nessa fábrica foi pensado no horizonte de 5 anos a partir de 2022”, afirma. 

Como a empresa quer chegar nos 300 milhões

Diferentemente do começo da Vida Veg, o setor está cada vez mais competitivo. Dados da Euromonitor estimam o mercado de laticínios plant-based em R$ 647,7 milhões em 2023.

Os números abrangem, basicamente, leite e iogurte à base de plantas, mas servem como base para ilustrar o ritmo de expansão. Entre 2018 a 2023, o setor cresceu 2,8% anualmente. Até 2028, a projeção é mais agressiva, 10% ao ano, superando a barreira de R$ 1 bilhão. 

Segundo o empreendedor, o crescimento da Vida Veg deve se beneficiar do fato de ter chegado antes ao mercado e da capilaridade que conquistou ao longo dos anos em grandes varejistas. A empresa está em mais de 6.000 pontos de venda, distribuição que pretende ampliar para 10.000 nos próximos anos.

A empresa tem avançado em produtos, com versões variadas de queijos e iogurtes, as categorias com mais vendas. Queijos representam 35% do negócio, seguido por iogurtes, 25%, e pastas, 20%.

Uma oportunidade está em leite vegetal, hoje com resultados tímidos no portfólio. A empresa investiu 1 milhão de reais na compra de novos maquinários para melhorar o produto. “Vai nos permitir aumentar o tempo de vida e dar mais sabor e textura”, diz.

A mineira está apostando ainda no Vida Coffee, uma bebida energética. O produto foi inspirado em uma bebida que Rodrigues conheceu em viagem pela Austrália. “Eu fiquei até assustado de ver o tanto que eles bebem essa bebida por lá”. 

A viagem também contribuiu com a escrita do livro “Negócios com Propósito”, com lançamento previsto para março, em que compartilha aprendizados dos últimos anos como empreendedor. “Eu acho que vai ajudar muito pessoas a empreenderem, pensando, além de ganhar dinheiro, em causar impacto social e ambiental”, afirma.

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