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Um hospital como você nunca viu

Desde o fim do ano passado, um passo foi dado no universo dos hospitais com a inauguração do CopaStar, nova unidade da Rede D’Or São Luiz

Copastar: nova unidade da Rede D’Or São Luiz tem serviço de quarto equivalente ao de hotéis cinco estrelas (Eduardo Guedes/Divulgação)

Copastar: nova unidade da Rede D’Or São Luiz tem serviço de quarto equivalente ao de hotéis cinco estrelas (Eduardo Guedes/Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 24 de junho de 2017 às 08h37.

Última atualização em 24 de junho de 2017 às 11h31.

Jardel Sebba

Segundo dados atualizados da Confederação Nacional de Saúde (CNS), dos 6.761 hospitais em funcionamento no país, 70% pertencem à rede privada. E destes, alguns poucos — que se destinam a um público restrito e capaz de pagar o preço por um atendimento de excelência combinado à alta tecnologia — em nada ficam devendo ao que há de melhor na experiência médica no mundo. Desde o fim do ano passado, um passo adiante foi dado neste universo com a inauguração do CopaStar, nova unidade da Rede D’Or São Luiz, uma das maiores empresas do setor. Inaugurado em Copacabana, na zona sul carioca, o novo hospital abriu com a pretensão de levar a experiência hospitalar a um novo patamar.

O CopaStar agrega em um hospital de médio porte alta tecnologia, equipe de profissionais de saúde qualificada e conforto. Entendemos que hospitais de maior porte estrutural, inclusive os da Rede D’Or São Luiz, têm dificuldade em oferecer conforto e tecnologia na mesma proporção”, revela o CEO da Rede D’Or São Luiz, Heráclito Gomes. A Rede investiu na nova unidade R$ 400 milhões, sendo R$ 150 milhões especificamente voltados para equipamentos médicos. Distribuídos por sete andares em uma área de 21 mil metros quadrados, o hospital destaca três salas cirúrgicas como exemplos do investimento tecnológico: uma destinada à neurocirurgia, outra com o robô Da Vinci, que auxilia em cirurgias minimamente invasivas, e uma terceira com um angiógrafo robótico.

Entre o investimento e o custo operacional, no entanto, Gomes garante que a maior dificuldade está na escala. “O mais custoso é prover em um hospital de médio porte a tecnologia de ponta, como fazemos aqui, uma vez que o fluxo de utilização tende a ser menor do que em uma unidade de grande porte. O CopaStar está projetado para 150 leitos, no máximo, o que é um diferencial até mesmo dos outros hospitais da Rede, uma equação que faz reduzir a rentabilidade, mas ressalta o caráter de exclusividade da unidade”, avalia o médico.

A gente não quer só comida

Com cerca de 700 funcionários, o novo hospital joga luz sobre questões que vão além da tecnologia de ponta e compõem o pacote completo da experiência do paciente. Os ambientes foram decorados com obras do escultor e pintor Yutaka Toyota. A gastronomia e a hotelaria ganharam importância equivalente aos equipamentos médicos. “Quebramos paradigmas quando implantamos uma experiência gastronômica diferenciada no CopaStar, que já estamos implantando em outras unidades. Entregamos a escolha do menu à consultoria do chef francês Roland Villard, e a definição das dietas é acompanhada pela chef Vitória Torraca e sua equipe”, explica o CEO. O restaurante que atende médicos e acompanhantes, e oferece opções rápidas ou mais elaboradas, teve inspiração no nova-iorquino The Modern. Na área da hotelaria, o serviço de quarto é equivalente ao de hotéis cinco estrelas, com atendimento de camareiras.

O movimento feito pela Rede D’Or São Luiz com a inauguração do CopaStar inspira outros hospitais tradicionais do mercado, mas nem todos compartilham da mesma cartilha de prioridades.

“No momento atual da economia, procuramos olhar para a experiência do paciente como um possível diferencial competitivo. É um conceito muito mais amplo do que ter apenas uma boa hotelaria ou um diferencial de instalações físicas. Claro que é importante ter um ambiente acolhedor, que favoreça a cura, mas ele tem um peso determinado”, avalia a diretora da unidade hospitalar Morumbi do Hospital Israelita Albert Einstein, Claudia Regina Laselva. Segundo ela, a maior revolução da relação entre hospitais e pacientes está na digitalização. “Cada vez mais usamos plataformas digitais para fazer contato, engajar e ativar nossos pacientes. Isso é fundamental para encurtar distancias e reduzir custos. Aplicativos que permitam ao paciente se localizar dentro o hospital, ser atendido à distância, ou mesmo mais específicos, para reeducação alimentar, ou para parar de fumar. Numa cidade como São Paulo, poder fazer as coisas sem precisar se deslocar pode ser o maior dos confortos”, resume Claudia.

O CopaStar também tem um programa desenvolvido exclusivamente para a unidade, o Smart Hospitality, que permite ao paciente, por meio de tablets, desde controlar luminosidade e temperatura do quarto até fazer contato com o médico assistente. “Nossa equipe visitou hospitais de alta linha fora do país e encontrou alguns conceitos que foram inseridos no Smart Hospitality. No entanto, estas unidades têm serviços mais direcionados para os médicos, enquanto nós agregamos ferramentas mais voltadas ao conforto do paciente”, conta Gomes, que ressalta que, no mesmo equipamento, o médico pode ver os exames e mostrar ao paciente o que for necessário.

Um mercado extremamente saudável

Outro indicativo que a inauguração do CopaStar revela é que, se o Brasil está em crise, o mercado de medicina vai bem. O faturamento bruto estimado para 2016 era de R$ 25,3 bilhões, e a expectativa em torno de fusões e aquisições no setor nos próximos dois anos é que elas movimentem algo em torno de R$ 5 bilhões. Essa prosperidade está diretamente ligada à aprovação da medida provisória que permitiu a entrada de capital estrangeiro no setor, em janeiro de 2015. Ainda assim, há quem garanta que a vida poderia ser bem melhor. “Nossa grande dificuldade hoje é que essa combinação de alta tecnologia com uma grande experiência é uma exceção, não a realidade. Temos uma das maiores cargas tributárias do mundo, o que dificulta muito que os hospitais façam investimentos grandes”, reclama o médico e secretário-geral da Federação Brasileira de Hospitais, Adelvânio Morato. “Somos hoje o setor que mais oferece empregos no país, mas a taxa tributária é muito violenta”, ele reforça.

Neste mercado, a Rede D’Or São Luiz tornou-se, nos últimos anos, um dos maiores e mais importantes grupos do país. Iniciada pelo cardiologista carioca Jorge Moll Filho há quarenta anos, a empresa foi a campeã da edição de 2016 na categoria saúde de MELHORES E MAIORES de EXAME. Em 2015, faturou R$ 4,9 bilhões, um crescimento de 10,5% em relação ao ano anterior, já descontada a inflação. A família Moll hoje detém 68,1% da empresa. O banco BTG Pactual era dono de um pedaço e negociou, ano retrasado, a entrada do fundo de private equity Carlyle no negócio, que teria pago R$ 1,75 bilhão por 8,3% da Rede, cujo valor total teria sido avaliado em R$ 19,6 bilhões – os valores oficiais não foram divulgados.

A lógica que deu origem ao CopaStar sempre esteve no DNA da Rede. Desde o começo, a ideia de Moll já era associar a tecnologia de ponta com serviços de hotelaria. Uma de suas referências foi a clínica Mayo, no Minnesota, Estados Unidos, e seus primeiros hospitais já buscavam oferecer diferenciais como chefs de cozinha e cabelereiros. “Na medicina, entendemos que o bem-estar do paciente, obviamente, interfere na receptividade e na melhora do tratamento. O conforto e a satisfação reduzem o estresse e contribuem para que a experiência de internação seja mais agradável e eficaz”, reforça Héraclito Gomes.

Em um mercado tão aquecido, a Rede D’Or São Luiz vai bem mas não anda sozinha. Redes como a Amil e a Impar vêm aumentando significativamente suas participações no mercado de saúde carioca, e empresas americanas e europeias também estão de olho nele, especialmente na parte voltada ao público AA, aquele em que o CopaStar mira. O conceito que Heráclito Gomes define como “estado da arte em saúde” deve ser replicado em novas unidades. “A Rede D’Or São Luiz já tem projetos para outras unidades com este perfil, assim como o conceito star em especialidades, resultando em melhor qualidade e serviço ao público com perfil high-end”, resume o CEO, que informa que, mesmo com pouco tempo de funcionamento, pesquisas de qualidade indicam um índice de aprovação dos pacientes do novo hospital superior a 92%.

Claudia Regina Laselva, do Albert Einstein, aproveita para abordar outro aspecto importante desta equação: a formação do médico. “Nosso processo seletivo tem prova de conhecimentos, como todas as universidades, mas, na segunda fase, fazemos uma avaliação do ponto de vista comportamental, se aquele aluno sabe trabalhar em equipe, se tem boa liderança, boa formação ética, respeito pelos outros”, ressalta a diretora da unidade Morumbi do Hospital Israelita Albert Einstein, que tem seu próprio curso de graduação em medicina e em enfermagem. Quem acredita no capitalismo sabe que um paciente cada vez mais extremamente exigente, e apto a pagar um preço alto por tudo isso, certamente ajuda a equilibrar naturalmente todas as exigências deste delicado mercado, que lida diretamente com a vida das pessoas.

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