Ultra ignora crise e busca novas aquisições
Com o Brasil mais barato e empresas estratégicas à venda, a Ultrapar deu duas importantes tacadas para crescer em meio à recessão
Estadão Conteúdo
Publicado em 21 de novembro de 2016 às 08h21.
São Paulo - No cenário de crise econômica, gigantes como a canadense Brookfield e a chinesa State Grid emergiram como grandes compradoras de ativos brasileiros, ao lado de um grupo nacional: o Ultra, dono da Rede Ipiranga e da Ultragaz.
Com o Brasil mais barato e empresas estratégicas à venda, a Ultrapar - holding que atua em distribuição de combustíveis, gás de cozinha, logística, química e varejo farmacêutico - deu duas importantes tacadas para crescer em meio à recessão.
Em menos de seis meses, o grupo fundado pela família Igel, com sede em um prédio espartano no centro de São Paulo, desembolsou R$ 5 bilhões em duas aquisições. Primeiro, em junho, comprou a Rede Ale para reforçar a operação da Ipiranga e garantir a vice-liderança no segmento.
Na semana passada, garantiu a liderança isolada em gás de cozinha ao arrematar a Liquigás, distribuidora que pertencia à Petrobras.
Discretamente, o time do Ultra - sob o comando de Paulo Cunha, presidente do conselho de administração da companhia, Pedro Wongtschowski, também do colegiado, e Thilo Mannhardt, presidente executivo - está selecionando ativos que possam fazer sentido à expansão da companhia no País e olham também negócios na América Latina.
No início do ano, antes de entrar de vez na briga pela Liquigás, o Ultra, por meio de sua divisão Ultragaz, fez uma oferta pelos ativos de GLP (Gás Liquefeito de Petróleo) da espanhola Repsol, na América Latina, mas não ganhou. Não se deu por vencido. Vai continuar pinçando oportunidades.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Thilo Mannhardt, à frente do grupo, e Pedro Jorge Filho, diretor-superintendente da Ultragaz, afirmaram que o conglomerado busca sua expansão em setores resilientes nos quais já atua e que a prioridade é o crescimento orgânico. Isso não quer dizer, contudo, que o grupo vai fechar os olhos para aquisições dentro e fora do País.
A divisão química Oxiteno é o braço do grupo com negócios no exterior - Estados Unidos, México e Uruguai. Mas a companhia tem uma equipe que está olhando ativos de gás que podem ser complementares à estratégia do grupo na América Latina.
Botijão
No mercado interno, o Ultra tem escolhido a dedo seus ativos. Líder em vendas de gás de cozinha no País, a compra da Liquigás vai acelerar a expansão do grupo nesse segmento, afirmou o diretor-superintendente da Ultragaz, Pedro Jorge Filho.
"Esse setor movimenta 7,5 milhões de toneladas por ano e pode chegar a 9 milhões de toneladas nos próximos anos com o pré-sal, a partir da maior disponibilidade de gás", disse o executivo. "O grupo é pioneiro em gás GLP no Brasil, com uma história de 80 anos (em 2017)."
A disputa foi acirrada. Apontado como favorito, o grupo disputou os ativos com os principais concorrentes do setor - Supergasbras (holandesa SHV), Nacional Gás e Copagaz, entre outros. A operação ainda depende da aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que terá de nove a 12 meses para dar seu aval. Até lá, as empresas vão atuar de forma independente.
A expectativa é que a marca Liquigás seja mantida onde tem força. "A marca faz parte do ativo adquirido. Vamos mantê-la onde for forte. Foi o caso da Brasilgás, adquirida pelo grupo nos anos 70 na Bahia", disse Jorge.
Embora tenha uma equipe própria para fazer fusões e aquisições, o grupo contratou o Bradesco BBI para fechar com a Liquigás. O banco também deu o aval final para a compra da rede Ale e coordenou recentemente a emissão de bonds (título de dívida) de US$ 750 milhões.
Com intenso movimento de grupos de fora olhando o Brasil, o Ultra é um dos poucos conglomerados nacionais que estão indo às compras.
"Beneficiam-se nesse cenário de crise as empresas com forte caixa e menor endividamento", afirmou Sérgio Lazzarini, do Insper. Com um faturamento anual de R$ 75,6 bilhões, a relação dívida líquida e Ebitda do grupo é considerada baixa: 1,4 vez (dado anualizado). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.