Toys "R" Us: ontem, nas últimas horas de vida, grande parte da loja em Long Island City, em Nova York, estava com prateleiras vazias (Luke Sharrett/Bloomberg)
EFE
Publicado em 29 de junho de 2018 às 19h55.
Nova York - A famosa rede varejista de brinquedos Toys'R'Us fechou nesta sexta-feira nos Estados Unidos suas últimas lojas que estavam em operação, que viram passar crianças - e adultos - durante 70 anos até sucumbir às dívidas e à força do comércio eletrônico.
Algumas estão com um cartaz de "Aluga-se" na porta, mas outras contam hoje com um "Forever" ("para sempre"), contou à Agência Efe Amy von Walter, vice-presidente executiva de comunicação da marca, que agora busca "oportunidades de venda" para as filiais no exterior.
Ontem, nas últimas horas de vida, grande parte da Toys "R" Us em Long Island City, em Nova York, estava com prateleiras vazias, enquanto várias famílias observavam o restava em um pequeno espaço demarcado com fitas amarelas.
"Vim ver os brinquedos, mas está vazio", disse Holly, uma moradora do bairro e que, na falta dos brinquedos, decidiu levar pilhas e livros.
Mãe de duas crianças, uma de 5 e outra de 14 anos, ela disse ser consumidora frequente da loja, mas admitiu que passou a recorrer à internet para adquirir produtos ultimamente.
"A Amazon Prime matou a Toys "R" Us", declarou.
Entre revistas, bichos de pelúcia e carrinhos com descontos de até 90%, Luz, outra cliente, disse à Efe que queria trocar três cartões de presente que não conseguiu usar porque passou a comprar tudo online.
As 182 lojas que a rede decidiu fechar em janeiro não foram suficientes para evitar a quebra, e desde março, quando anunciou o fim, passou a liquidar o estoque das 735 unidades, que empregavam 33 mil pessoas.
Marcada pela mudança de hábitos de consumo na era digital, mas principalmente arruinada pelas dívidas, a Toys "R" Us se abrigou, em setembro, na Lei de Falência dos Estados Unidos na esperança de começar uma nova etapa, mas acabou selando seu final.
"Estamos convencidos de estar dando os passos certos para garantir que as emblemáticas marcas Toys "R" Us e Babies "R" Us vão perdurar ao longo de muitas gerações", argumentou, na época, o presidente e executivo-chefe desde 2015, Dave Brandon.
Mas, nos documentos para a Comissão de Valores dos Estados Unidos, Brandon deixava transparecer a árdua tarefa que a empresa teria pela frente: cambaleava em frentes que iam desde a condição geral das lojas até o salário dos funcionários, passando pela baixa taxa de natalidade dos clientes.
Segundo analistas do mercado, no entanto, o maior obstáculo era o fato de boa parte dos recursos da empresa ter sido usada para o pagamento de credores desde que um grupo de empresas de investimento privado adquiriu a marca em 2005 por US$ 6,6 bilhões.
Conforme a informação fiscal, com a coordenação de Brandon, as perdas da Toys "R" Us diminuíram de US$ 130 milhões, em 2015, para US$ 36 milhões, em 2016. Mas no acumulado de 2017 até outubro, quando publicou seu último relatório trimestral aberto, após a quebra, as perdas chegaram a US$ 953 milhões.
De acordo com os analistas, a dívida impediu a loja de brinquedos de manter a competitividade, muito necessária num ambiente em transformação e em um setor que tem Walmart, Target e agora a gigante do comércio eletrônico Amazon participando.
Fundada em 1948, em Wayne, no estado de Nova Jersey, a Toys "R" Us teve cerca de 1.600 lojas no mundo todo. Em tempos áureos, chegou a empregar 60 mil pessoas, e no Natal já teve 100 mil funcionários.
O negócio foi aberto por Charles Lazarus, um jovem que consertava bicicletas na loja do pai, em Washington. Ao notar a chegada do "baby boom", ele resolver abrir uma loja de berços, que acabaria evoluindo para o conglomerado de brinquedos.
Lazarus morreu em março deste ano, uma semana depois de saber da necessidade do fechamento das lojas e tendo visto desaparecer, em 2015, as duas principais unidades: a da Times Square e a da Quinta Avenida, embas em Nova York.
O adeus da empresa aos clientes nas redes sociais teve grande repercussão. Em post, a girafa Geoffrey, símbolo da marca, se despede acenando com uma mão e segurando uma mala com a outra.
"Acho que todo mundo cresceu. Não existem mais crianças", diz um cartaz colocado em uma das lojas e cuja foto também viralizou.