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O que a Telefônica ainda pode fazer para crescer no Brasil

Após ver sua oferta de compra da Vivo rejeitada pela Portugal Telecom, espanhóis ainda têm outras opções

Loja da Vivo: nem portugueses, nem espanhóis querem abrir mão da empresa (.)

Loja da Vivo: nem portugueses, nem espanhóis querem abrir mão da empresa (.)

DR

Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h10.

São Paulo - A rejeição da oferta de compra da Vivo pela Portugal Telecom, anunciada na noite desta segunda-feira (10/5), aguçou as apostas sobre as alternativas que a Telefônica terá, agora, para crescer no Brasil. Do puro e simples aumento da oferta aos portugueses à possibilidade de comprar a TIM Brasil, uma série de opções é cogitada pelo mercado. De concreto, resta apenas a certeza de que a companhia espanhola precisa contar com uma operação forte de telefonia móvel no país, se quiser se manter competitiva.

A primeira reação da Telefônica pode ser simplesmente elevar a oferta de compra da fatia da Portugal Telecom na Vivo. A oferta rechaçada pelos portugueses foi de 5,7 bilhões de euros pelos 50% que possuem na Brasilcel, a holding que controla a Vivo. Segundo a corretora Link, a proposta embutia um prêmio de cerca de 130% sobre o valor das ações ordinárias em poder da Portugal Telecom. A analista Maria Tereza Azevedo, que assina o relatório da Link, afirma que aumentar a oferta pode ser arriscado para a Telefônica, "já que a Portugal Telecom pode superestimar o valor de sua participação, fugindo de níveis razoáveis".

A analista observa que a oferta já coloca a Vivo em um patamar acima da de empresas semelhantes. Quando se consideram os múltiplos da operação, por exemplo, o valor proposto equivale a 7,4 vezes o seu ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) esperado para 2010. A cifra também equivale a 32 vezes a relação P/L (preço da ação pelo lucro por ação). "São valores expressivamente superiores aos múltiplos negociados para a Telefônica, Portugal Telecom, Telesp e pares locais de telefonia móvel ou integrada", diz.

Fusão forçada

Outra saída para a Telefônica seria forçar uma fusão entre a Telesp - o nome oficial da operadora de telefonia fixa dos espanhóis no Brasil - e a Vivo. Neste caso, o controle poderia continuar compartilhado com a Portugal Telecom. "A operação pode ser complexa e não ideal para os espanhóis, mas é uma alternativa mais interessante que a manutenção do cenário atual", afirma a analista.


O mercado também desenha outra possível fusão - a da Vivo com a TIM. Um acordo entre a Portugal Telecom e a Telefônica determina que, no caso da compra de ativos de telefonia móvel no Brasil por qualquer uma delas, essa mesma parte teria que oferecer uma fatia equivalente da empresa em aquisição à sua parceira. Na prática, se a Telefônica comprasse a TIM Brasil, os espanhóis teriam de ofertar uma fatia igual à adquirida para os portugueses. Isso conduziria naturalmente à fusão entre a Vivo e a TIM.

A solução é considerada a ideal por alguns especialistas, porque permitiria o ganho de sinergias entre as operadoras, além de atenuar a concorrência no setor. O problema é que seriam muito remotas as chances de uma fusão desse porte ser aprovada tanto pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), quanto pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Somadas, as duas operadoras passariam a deter mais da metade do mercado brasileiro de telefonia móvel - o que despertaria protestos de associações de consumidores e de concorrentes.

Separação total

A terceira opção da Telefônica é o fim da parceria com a Portugal Telecom. Para tanto, os portugueses comprariam os 50% que os espanhóis detêm da Vivo. O mercado avalia que a Telefônica poderia receber cerca de 7 bilhões de reais pelo acordo. Devido ao baixo nível de endividamento, os analistas acreditam que os portugueses não teriam dificuldade para financiar a operação, seja por meio de novas dívidas, seja emitindo papéis.


Com o dinheiro, a Telefônica teria caminho livre para avançar sobre a TIM Brasil. Em 2007, os espanhóis participaram de um grupo de investidores estrangeiros que adquiriram o controle da Telco, a holding que dirige a Telecom Itália. Desde então, de tempos em tempos, alguém toca na possibilidade de a Telefônica comprar o braço brasileiro da Telecom Itália.

Se prevalecer a máxima que o mercado costuma antecipar os fatos e vender os papéis quando eles se consumam, esta a forte alta das ações da TIM Brasil mostra que essa é a aposta dos investidores. Nesta terça-feira (11/5), as ações ordinárias da holding que controla a operadora, a TIM Participações (TCSL3, com direito a voto), fecharam em alta de 8,72%, cotadas a 6,61 reais por papel. Com base nessa cotação, o valor de mercado da TIM chega a 13,442 bilhões de reais. Em contraste, o Ibovespa, principal indicador da bolsa brasileira, encerrou em queda de 1,54%, aos 65.453 pontos.

Após a negativa da Portugal Telecom, cresce a impressão de que os portugueses não querem sair da Vivo. "A empresa é um ativo estratégico da companhia, e um dos poucos mercados que ainda apresentam forte crescimento", afirmou o analista Carlos Constantini, da Itaú Corretora, em relatório.

A briga pela Vivo apenas ressalta a importância que o Brasil vem conquistando no cenário mundial das telecomunicações. A Link lembra que o país respondeu, no ano passado, por 51% do faturamento da Portugal Telecom. Do outro lado, com a crise econômica da Espanha, o mercado brasileiro tornou-se a principal esperança de crescimento e lucros da Telefônica. "A oferta deixou óbvia a importância da Vivo para os dois players europeus", afirma a corretora. Perder a Vivo, sem uma contrapartida para seguir crescendo, seria um duro golpe nos planos da Telefônica. No ano passado, os espanhóis sofreram um forte revés ao perder a disputa pela GVT para a francesa Vivendi. Reforçar a atuação no Brasil é a esperança da empresa para compensar as turbulências no maduro mercado europeu, sacudido pela crise econômica.

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