Aviões da TAM: controladores querem ampliar o leque de negócios (--- [])
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.
Ao promover a abertura de capital da Multiplus, empresa que gerencia o seu programa de fidelidade, a TAM dá os primeiros passos para deixar de ser apenas uma companhia aérea. Para quem a conhece por dentro, o pedido protocolado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) nesta semana reflete um plano mais amplo da família Amaro - o de apostar em novos negócios, sejam eles controlados pela TAM ou diretamente subordinados à TEP, holding que reúne os ativos dos herdeiros do Comandante Rolim. Depois da Multiplus, o próximo candidato ao IPO seria o Centro de Manutenção de São Carlos (SP), que seria transformado em uma nova empresa para ir a mercado. Em paralelo, os Amaro também desejam participar da operação de aeroportos se o governo decidir privatizá-los.
A TAM foi a pioneira dos programas de milhagem no Brasil, ao lançar o seu em 1994. A primeira vez em que a empresa cogitou transformá-lo em um negócio com vida própria foi em 2005. Naquele ano, os executivos da companhia foram a campo para promover o roadshow de abertura de capital da própria TAM. Nos encontros, os investidores estrangeiros indagavam se a aérea seguiria os passos da Air Canada. Em 1984, a canadense havia lançado o seu programa de fidelidade, o Aeroplan. Dezoito anos depois, a Aeroplan tornou-se uma companhia independente. Com uma política de aquisições agressiva, a empresa diversificou seu portfólio e se transformou em uma gestora de programas de fidelidade no Canadá, Inglaterra e Golfo Pérsico, em áreas que vão de bens de consumo a serviços financeiros. A Aeroplan realizou seu IPO em 2005 e hoje tem cerca de 5 milhões de clientes e 69% das ações em circulação.
A direção da TAM gostou da idéia, mas avaliou que, na época, seu programa de fidelidade ainda não tinha porte suficiente para se tornar uma empresa autônoma. Em 2005, por exemplo, a empresa faturou 85 milhões de reais com o programa TAM Fidelidade - o antecessor do Multiplus, lançado em maio deste ano. "Era preciso encorpar o programa", afirma uma fonte que acompanha de perto a empresa. A paciência deu resultado. Com o avanço do mercado brasileiro de aviação, a expansão da TAM em rotas internacionais e o maior número de parcerias, o TAM Fidelidade encerrou 2008 com uma receita de 528 milhões de reais. O crescimento continua neste ano. Até o terceiro trimestre últimos dados disponíveis a receita gerada pelo Cartão Fidelidade é de 522,330 milhões de reais, o que representa um salto de 55% sobre o mesmo período do ano passado.
Novo tripulante
O Multiplus nasceu como uma divisão da TAM para programas de fidelidade. Mas, desde a sua criação, a diretoria da empresa admitia que a unidade de negócios fora concebida para andar sozinha quando fosse o momento oportuno. A gestão do Multiplus já era, na prática, tocada como uma empresa autônoma. A TAM aguardava apenas o melhor momento para levá-la a mercado.
Embora as raízes do projeto datem de quatro anos atrás, quem conhece intimamente a TAM afirma que o IPO da Multiplus é o primeiro fruto concreto da parceria entre a família Amaro e o banqueiro André Esteves, do BTG Pactual. Esteves foi contratado pela família em meados do ano para assessorar na gestão do portfólio de investimentos da TEP, a holding que reúne seus ativos. Sendo a TAM a parte mais importante do patrimônio dos Amaro, o contrato já estabelecia que Esteves também participaria do conselho da aérea.
Foi assim que Esteves assumiu um assento na empresa. Trazê-lo para a TAM era estratégico para os Amaro. "Esteves é muito bem relacionado e será o responsável por atrair investidores para os outros projetos da família", afirma uma fonte bastante próxima da companhia. Não é por acaso que o líder do IPO da Multiplus é o BTG Pactual. O principal parceiro de Esteves no conselho da TAM é o seu ex-presidente, Marcos Bologna. Enquanto Esteves contribui com a sua visão de financista, Bologna oferece sua experiência como operador de uma empresa aérea além de também falar a língua do mercado, já que foi o responsável pela abertura de capital da TAM.
Novos negócios
A idéia é explorar os negócios que gravitam ao redor da companhia aérea a exemplo do próprio programa de milhagem. "O transporte de passageiros apresenta margens apertadas", diz uma fonte que conhece bem a TAM. "Mas há negócios ao redor do setor de aviação com grande rentabilidade". Depois que o IPO da Multiplus for concluído, a direção da TAM deve se voltar para outro projeto o de transformar o Centro de Manutenção de São Carlos, no interior paulista, em uma empresa autônoma.
O desdobramento natural, claro, é levá-la à Bovespa. Certificado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e pelas suas similares da Europa (Easa) e Estados Unidos (FAA), o centro é capaz de realizar a manutenção de grandes aeronaves, como Fokker 100, e Airbus. Também está em processo de homologação para aeronaves Boeing 767. Com as certificações internacionais, esse serviço pode ser estendido para empresas americanas e européias. Ao contrário do programa de fidelidade, a TAM não discrimina em seus demonstrativos a receita gerada pela prestação de serviços de manutenção. "Dos outros ativos da TAM, o centro tecnológico é o que apresenta maior potencial para se tornar um novo negócio", diz uma fonte familiarizada com o mercado de aviação.
Outro projeto que os Amaro e Esteves devem analisar é o de impulsionar sua operadora de turismo - a TAM Viagens. Criada em 1998, a companhia é controlada pela TAM, e atende cerca de 5.000 agências no Brasil, com pacotes para mais de 200 cidades, incluindo passagem aérea, translado e acomodação. Comparado à Multiplus e ao Centro de Manutenção, porém, a TAM Viagens é atualmente um negócio de pequeno porte. No acumulado até setembro, o agenciamento de viagens e turismo rendeu 46,764 milhões de reais em receitas para a TAM - 12% mais que no mesmo período do ano passado.
Aeroportos
Quando anunciou a chegada de Esteves ao grupo, a própria presidente do conselho da TAM, Maria Cláudia, filha do Comandante Rolim, afirmou publicamente seu interesse em participar da gestão de aeroportos. Para os especialistas, é apenas uma questão de tempo para que eles sejam privatizados. A TAM poderia participar como minoritária nos consórcios que assumissem a gestão dos terminais.
Para se ter uma idéia do potencial de negócios, basta lembrar que a Infraero, a companhia estatal que hoje administra os aeroportos brasileiros, encerrou 2008 com um lucro líquido de 163,5 milhões de reais, revertendo dois anos consecutivos de prejuízos. A receita cresceu 12,7%, para 2,54 bilhões de reais. Já o ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) cresceu 15,5%, para 586 milhões de reais. "Mal administrada, a Infraero já apresenta esses resultados", diz uma fonte do setor. "Imagine nas mãos de uma gestão competente."
Maior companhia aérea do país, a TAM hoje pode ser comparada a uma potente aeronave monomotor, já que a grande fatia das receitas e lucros vem do transporte de passageiros. Mas, para ganhar altitude e empuxo, os Amaro preparam-se para pilotar um aparelho com mais turbinas e com Esteves entre os tripulantes.