Steinbruch, o bom gestor que não controla o próprio temperamento
Tentativa de comprar a Usiminas pode esbarrar num velho adversário de Benjamin Steinbruch: ele mesmo
Da Redação
Publicado em 9 de setembro de 2011 às 17h17.
São Paulo – Benjamin Steinbruch é um homem de negócios que não consegue, há tempos, fechar um bom negócio. E não é só a concorrência que joga contra ele. Seu temperamento inflexível tem sido, muitas vezes, apontado por quem o conhece como o seu maior adversário.
É claro que todo empresário compra brigas ao longo da carreira. Perde algumas e ganha outras – e isso faz parte do jogo. Mas Steinbruch parece ter perdido algumas bem importantes.
Nos últimos quatro anos, Steinbruch liderou a CSN na tentativa de adquirir quatro grandes companhias. Sua última grande derrota ocorreu no ano passado, quando perdeu a briga pela cimenteira portuguesa Cimpor para as brasileiras Votorantim e Camargo Corrêa.
Quem acompanhou a negociação aponta o estilo agressivo de Steinbruch como um ingrediente importante para o fracasso. O empresário teria entrado na disputa de modo espalhafatoso, sem o cuidado de ir a Portugal tentar uma costura mais diplomática antes de apresentar sua oferta pública de compra. Isso teria assustado os portugueses e colocado a opinião pública local contra o brasileiro.
A bola é minha
A mesma falta de diplomacia teria contribuído para as duas derrotas de Steinbruch ao tentar comprar a siderúrgica anglo-holandesa Corus, primeiro em 2002 e, depois, em 2007. No primeiro round, há nove anos, o empresário teria chegado muito perto de comprá-la.
O problema é que se recusava a ceder num ponto nevrálgico no mundo dos negócios: poder. Steinbruch queria dar as cartas na administração, mesmo sendo a Corus, à época, maior que a CSN. O acordo não vingou e, no ano seguinte, a Corus deu o troco, derrotando Steinbruch na disputa pela compra da siderúrgica Sparrows Point.
Na segunda tentativa, entre o final de 2006 e meados de 2007, Steinbruch atravessou uma negociação praticamente concluída entre a Corus e o bilionário indiano Ratan Tata, que estaria disposto a pagar 7,6 bilhões de dólares pela siderúrgica. Steinbruch ofereceu 8,1 bilhões e praticamente causou um leilão pela companhia.
Enquanto Steinbruch apertava os bancos de investimento que o apoiavam em busca de mais crédito, Tata costurou a compra nos bastidores. No dia do leilão, o indiano bateu Steinbruch com uma oferta de 12 bilhões de dólares – 100 milhões a mais que a proposta do brasileiro.
Agnelli na mira
Steinbruch também colecionou algumas brigas ruidosas no Brasil. O caso mais emblemático foi a rixa com Roger Agnelli, então presidente da Vale. Tudo começou em 2000, quando a mineradora e a siderúrgica iniciaram conversas para o lendário descruzamento de participações. Steinbruch teve de ceder a presidência do conselho de administração da Vale a Agnelli, e ficou apenas com a CSN.
Além disso, Steinbruch nunca se conformou com o acordo que foi obrigado a assinar, que garantia a exclusividade de venda do minério de Casa de Pedra, pertencente à CSN, para a Vale. Na avaliação do empresário, isso corroía as possibilidades de expansão da siderúrgica nesse setor.
O grupo alemão ThyssenKrupp também já foi alvo da irritação de Steinbruch. Depois de uma malsucedida negociação, os alemães se associaram à Vale para construir a CSA. A parceria ficou engasgada na garganta de Steinbruch por anos, a ponto de o empresário chegar a pedir um afastamento temporário do Instituto Aço Brasil, a entidade que representa o setor siderúrgico. Tudo porque, no ano passado, a CSA pediu sua filiação – algo, em tese, normal.
Bons resultados
É claro que, se a trajetória de Steinbruch fosse marcada apenas por fracassos, ele já estaria fora do mercado. O grande mérito do empresário, segundo analistas e colaboradores, é sua capacidade de gestão.
Steinbruch soube proteger a CSN das oscilações do mercado, ao garantir a autossuficiência em energia e minérios. Com isso, conseguiu gerar resultados acima da média do mercado. No segundo trimestre, por exemplo, o lucro líquido da Usiminas – a bola da vez para a CSN - caiu 62% em relação ao mesmo período de 2010. Já a CSN avançou 32%.
A CSN é considerada uma das empresas mais eficientes do setor. Com cerca de 11 bilhões de reais em caixa, comprar a Usiminas por 5 bilhões, como noticiou a imprensa nesta semana, não seria uma loucura – mas Steinbruch vai precisar explicar isso com calma para a Votorantim, a Camargo Corrêa e a Nippon Steel, os atuais donos da Usiminas. Será que ele consegue?
São Paulo – Benjamin Steinbruch é um homem de negócios que não consegue, há tempos, fechar um bom negócio. E não é só a concorrência que joga contra ele. Seu temperamento inflexível tem sido, muitas vezes, apontado por quem o conhece como o seu maior adversário.
É claro que todo empresário compra brigas ao longo da carreira. Perde algumas e ganha outras – e isso faz parte do jogo. Mas Steinbruch parece ter perdido algumas bem importantes.
Nos últimos quatro anos, Steinbruch liderou a CSN na tentativa de adquirir quatro grandes companhias. Sua última grande derrota ocorreu no ano passado, quando perdeu a briga pela cimenteira portuguesa Cimpor para as brasileiras Votorantim e Camargo Corrêa.
Quem acompanhou a negociação aponta o estilo agressivo de Steinbruch como um ingrediente importante para o fracasso. O empresário teria entrado na disputa de modo espalhafatoso, sem o cuidado de ir a Portugal tentar uma costura mais diplomática antes de apresentar sua oferta pública de compra. Isso teria assustado os portugueses e colocado a opinião pública local contra o brasileiro.
A bola é minha
A mesma falta de diplomacia teria contribuído para as duas derrotas de Steinbruch ao tentar comprar a siderúrgica anglo-holandesa Corus, primeiro em 2002 e, depois, em 2007. No primeiro round, há nove anos, o empresário teria chegado muito perto de comprá-la.
O problema é que se recusava a ceder num ponto nevrálgico no mundo dos negócios: poder. Steinbruch queria dar as cartas na administração, mesmo sendo a Corus, à época, maior que a CSN. O acordo não vingou e, no ano seguinte, a Corus deu o troco, derrotando Steinbruch na disputa pela compra da siderúrgica Sparrows Point.
Na segunda tentativa, entre o final de 2006 e meados de 2007, Steinbruch atravessou uma negociação praticamente concluída entre a Corus e o bilionário indiano Ratan Tata, que estaria disposto a pagar 7,6 bilhões de dólares pela siderúrgica. Steinbruch ofereceu 8,1 bilhões e praticamente causou um leilão pela companhia.
Enquanto Steinbruch apertava os bancos de investimento que o apoiavam em busca de mais crédito, Tata costurou a compra nos bastidores. No dia do leilão, o indiano bateu Steinbruch com uma oferta de 12 bilhões de dólares – 100 milhões a mais que a proposta do brasileiro.
Agnelli na mira
Steinbruch também colecionou algumas brigas ruidosas no Brasil. O caso mais emblemático foi a rixa com Roger Agnelli, então presidente da Vale. Tudo começou em 2000, quando a mineradora e a siderúrgica iniciaram conversas para o lendário descruzamento de participações. Steinbruch teve de ceder a presidência do conselho de administração da Vale a Agnelli, e ficou apenas com a CSN.
Além disso, Steinbruch nunca se conformou com o acordo que foi obrigado a assinar, que garantia a exclusividade de venda do minério de Casa de Pedra, pertencente à CSN, para a Vale. Na avaliação do empresário, isso corroía as possibilidades de expansão da siderúrgica nesse setor.
O grupo alemão ThyssenKrupp também já foi alvo da irritação de Steinbruch. Depois de uma malsucedida negociação, os alemães se associaram à Vale para construir a CSA. A parceria ficou engasgada na garganta de Steinbruch por anos, a ponto de o empresário chegar a pedir um afastamento temporário do Instituto Aço Brasil, a entidade que representa o setor siderúrgico. Tudo porque, no ano passado, a CSA pediu sua filiação – algo, em tese, normal.
Bons resultados
É claro que, se a trajetória de Steinbruch fosse marcada apenas por fracassos, ele já estaria fora do mercado. O grande mérito do empresário, segundo analistas e colaboradores, é sua capacidade de gestão.
Steinbruch soube proteger a CSN das oscilações do mercado, ao garantir a autossuficiência em energia e minérios. Com isso, conseguiu gerar resultados acima da média do mercado. No segundo trimestre, por exemplo, o lucro líquido da Usiminas – a bola da vez para a CSN - caiu 62% em relação ao mesmo período de 2010. Já a CSN avançou 32%.
A CSN é considerada uma das empresas mais eficientes do setor. Com cerca de 11 bilhões de reais em caixa, comprar a Usiminas por 5 bilhões, como noticiou a imprensa nesta semana, não seria uma loucura – mas Steinbruch vai precisar explicar isso com calma para a Votorantim, a Camargo Corrêa e a Nippon Steel, os atuais donos da Usiminas. Será que ele consegue?