Sorocaba (SP) está ficando conhecida como a "cidde-dormitório" de aviões particulares, por ser boa opção para armazenamento temporário (Alexandre Battibugli/Exame)
Da Redação
Publicado em 2 de junho de 2016 às 10h08.
Última atualização em 28 de novembro de 2018 às 20h53.
Sorocaba - Dos 60 mil aviões que aterrissaram em 2015 no Aeroporto Bertram Luiz Leupolz, em Sorocaba (SP), pelo menos 40 mil não levantaram voo no mesmo dia.
De monomotores a jatos de longo curso, essas aeronaves permaneceram em terra, em hangares e oficinas das 34 empresas da cidade credenciadas pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para manutenção e reparo.
Há ainda outras 18 de apoio e suporte ao setor. Juntas, somam 1,2 mil empregos diretos, a maioria de nível técnico ou superior.
Instaladas nos arredores da pista de pouso, elas formam uma das maiores concentrações de serviços para aviação do País.
No polo aeronáutico de Sorocaba, estão centros de serviços de grandes companhias da aviação mundial, como Embraer, Pratt&Witney, Bombardier e Dassault-Breguet.
Por ser um boa opção para posicionamento temporário das aeronaves, Sorocaba passou a ser conhecida no meio aeronáutico como a "cidade-dormitório" dos aviões privados.
"Já somos o maior polo de aviação executiva da América do Sul", diz Ari Bordieri Junior, presidente da Associação dos Operadores do Aeroporto de Sorocaba.
No mês passado, a Federal Aviation Administration (FAA), autoridade aeronáutica dos Estados Unidos, emitiu certificado de aprovação do centro de serviços da Embraer para manutenção de todos os jatos executivos da companhia com registro de operação americana. Certificação semelhante havia sido emitida pela Agência Europeia para a Segurança da Aviação (Easa).
Com isso, a unidade de Sorocaba passa a fazer parte de um grupo restrito de oficinas de manutenção e reparos na América Latina certificados para atender os jatos executivos da Embraer com matrícula nacional ou estrangeira, em passagem pelo País.
Outras empresas, como a Dassault-Breguet, já possuem as mesmas certificações e, como a Embraer, estão na expectativa das aeronaves de matrícula internacional que virão para o Brasil durante a Olimpíada.
"Em razão das restrições de operação dos principais aeroportos do Rio de Janeiro e São Paulo, Sorocaba será uma das principais opções para a 'hangaragem' temporária de aviões privados", diz Bordieri.
No caso da Embraer, as instalações no aeroporto somam 20 mil metros quadrados de hangares, oficinas e serviços para jatos das famílias Phenom, Legacy e Lineage, incluindo áreas VIP para tripulação e passageiros. No total, até 40 jatos podem ser atendidos simultaneamente.
Atualmente, há mais de 200 jatos executivos da Embraer na América do Sul que podem utilizar Sorocaba ou outros seis centros de serviços na região. No mundo, são mais de mil aeronaves executivas da companhia, 70% delas registradas nos EUA e na Europa.
Até o ano passado, o centro de serviços de Sorocaba era restrito à manutenção de aviões de matrícula nacional, da América do Sul, principalmente Argentina, Paraguai, Chile e Colômbia, e de alguns países da América Central. Mesmo assim, mais de 650 atendimentos foram realizados, entre manutenção, reparo e serviços aeroportuários.
"Com a validação internacional, a expectativa é de aumento na demanda. Autoridades estrangeiras visitaram as instalações e avaliaram itens como capacitação dos profissionais, ferramentas e equipamentos", informou Ricardo Santos, da área de comunicação.
O centro Embraer tem cerca de 200 funcionários e está ampliando o leque de serviços, o que já resultou em contratações.
Já o centro de serviços Dassault, mais conhecido como "Falcon do Brasil", está instalado desde 2009 numa área de 2,1 mil metros quadrados e pode atender até quatro aviões ao mesmo tempo.
O diretor da Master Serviços Aeronáuticos, Marcos Valdir Dias, lembra que o Brasil tem a segunda maior frota de aviões do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, e todos têm de fazer manutenção periódica.
"No Brasil, são mais de 15 mil aviões leves e médios que procuram Sorocaba porque fazemos todos os tipos de manutenção, desde motores, até pinturas e reparos após acidentes."
O crescimento desse mercado atraiu para a cidade escolas para pilotos e técnicos, como a Wings Aviação Civil.
"Só dois aeroportos no mundo reúnem essa quantidade de empresas e uma gama tão variada de serviços: o de Le Bourget, em Paris, e o de Sorocaba", diz o professor Carlos Alberto Tavares, diretor da Wings.
Entre os cursos mais procurados está o de mecânico de manutenção aeronáutica, com duração de dois anos
Com o polo consolidado, o próximo passo será internacionalizar o aeroporto de Sorocaba para reduzir a limitação aos voos executivos procedentes do exterior, explica Bordieri Junior.
Como as aeronaves são obrigadas a entrar ou sair do País por aeroportos internacionais, elas não podem se dirigir diretamente ao terminal de Sorocaba, que não tem esse status, e têm de passar pelos aeroportos de Campinas, Guarulhos, Belo Horizonte ou Curitiba, que não dão prioridade à aviação executiva.
"No momento em que houver a internacionalização, nosso movimento dobra", diz.
Segundo ele, grandes multinacionais passarão a deixar os aviões na cidade e poderão decolar direto de Sorocaba. Para ser internacional, o aeroporto precisa atender às formalidades da alfândega, da polícia de fronteira e de vigilância agropecuária.
O processo de Sorocaba já teve anuência do Ministério da Agricultura e Pecuária, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da Polícia Federal, mas parou na Receita Federal, que alega falta de pessoal.
A parte técnica avança com a mudança de categoria do terminal. O Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo (Daesp) encaminhou pedido de homologação da ampliação da pista, de 1,4 mil para 1,6 mil metros de extensão, ao Departamento de Controle do Tráfego Aéreo (Decea).
A torre de controle, necessária para a operação por instrumentos, deve ficar pronta no primeiro semestre de 2017.
O Estado prepara licitação para os equipamentos e contratação de pessoal. Segundo Bordieri, com a operação da torre, o movimento cresce de 40% a 50%.
"As seguradoras de multinacionais que trabalham com aeronaves caras, entre US$ 30 milhões e US$ 80 milhões, não permitem que usem aeroportos não controlados."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.