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Sobretaxa dos EUA ao suco de laranja distorce competição global

Punição por dumping agrava uma tarifa já em vigor de 418 dólares por tonelada

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h41.

Além de prejudicar os negócios com os Estados Unidos, a imposição americana de uma sobretaxa ao suco de laranja do Brasil gera danos indiretos aos exportadores brasileiros. Na briga pelo mercado mundial, os produtores nacionais ficam em desvantagem em relação aos citricultores da Flórida. "Nosso maior concorrente global é justamente o produtor da Flórida que sai favorecido com essa decisão do governo americano", diz Maurício Mendes, consultor de citricultura do Instituto FNP. "E nesse mercado, qualquer desfavorecimento do produtor daqui representa vantagens para o de lá."

As autoridades americanas anunciaram ontem (17/8) que, em resposta a uma ação movida por produtores da Flórida e em nome do combate ao dumping, vão exigir dos brasileiros o pagamento de sobretaxas que variam de 24% a 31% sobre os preços. Há um caso excepcional, da Montecitrus, em que a tarifa supera 60%, fixada como castigo pela falta de prestação das informações solicitadas. As sobretaxas já começam a ser cobradas, apesar de a decisão final estar programada para o início do ano que vem. E vão sobrepor a tarifa em dólares que já achatava a receita líquida dos exportadores. Por tonelada, o produtor fatura entre 800 e 900 dólares e já paga uma tarifa de 418 dólares. A sobretaxa, somada à tarifa, cria uma barreira equivalente a 2,50 dólares por caixa de suco de laranja.

Em nota oficial, a Associação Brasileira dos Exportadores de Cítricos (Abecitrus) condena a imposição americana e afirma: "ainda que provisória, a sobretaxa praticamente inviabiliza as exportações de suco de laranja para o mercado norte-americano". A associação considera que a sobretaxa transfere para o Brasil os prejuízos causados em 2004 pelos furacões na Flórida que já teriam sido recuperados. Estimativas apontam que a produção de laranjas na Flórida será maior que a previsão inicial (149,6 milhões), chegando a um total de de 207 milhões de caixas. "Essa decisão aumenta o preço do suco para o consumidor local, prejudicando mais ainda o já hesitante mercado doméstico americano. O resultado, a médio prazo, pode ser prejuízo para a própria indústria da Flórida e para o suco de laranja", diz a associação em nota oficial.

Apesar de ser o maior mercado do mundo em suco de laranja, os Estados Unidos não são o maior importador do Brasil. Atualmente, os Estados Unidos e o Canadá ficam com até 15% das exportações brasileiras -- há 15 anos, consumiam cerca de um terço. Nos últimos 12 meses, foram exportadas 1,4 milhão de toneladas de suco concentrado de laranja. Desse total, apenas 213 mil toneladas foram para os Estados Unidos e Canadá. "A participação no faturamento total com exportações para os Estados Unidos não é significativa", diz Ronaldo Anacleto, diretor-superintendente da Montecitrus.

Para o consultor da FNP, a tendência é que o Brasil acione os Estados Unidos na Organização Mundial do Comércio. "Os produtores americanos têm condições de custo e produção ruins, só conseguem competir em condições artificiais", diz.

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