Brasília, São Paulo e Rio - A modelagem encontrada pela nova direção da Petrobras para registrar no balanço as perdas decorrentes de atos de corrupção levará em conta os sobrepreços verificados nos projetos listados na investigação da Operação Lava Jato.
Dessa forma, segundo apurou o Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, foram contabilizados os valores iniciais de cada projeto e os acréscimos ao longo da obra. Ponderadas as justificativas, o valor final indica o eventual superfaturamento.
De um modo geral, esse cálculo de impairment - atualização do valor dos ativos, excluindo o superfaturamento - dará a dimensão da perda acarretada para a companhia.
Ou seja, quanto valeria a obra se não tivesse sido inflada em negociações suspeitas. A metodologia já foi até apresentada a conselheiros pelo diretor financeiro da estatal, Ivan Monteiro.
A Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, por exemplo, foi inicialmente orçada em US$ 2,3 bilhões. Depois de sucessivos aditivos ao contrato inicial, a obra acabou chegando a US$ 20 bilhões.
O então diretor de Abastecimento, Paulo Roberto Costa - personagem central do escândalo de corrupção e que virou o principal delator da investigação da Lava Jato - era o responsável pelo acompanhamento dos projetos de refino e tinha autonomia para autorizar os aumentos de custo. Costa disse, em depoimento, que as propinas pela facilitação dos contratos variavam entre 1% e 3% das obras.
A parte da propina revelada pela Operação Lava Jato, e estimada em torno de R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões, pode ser usada pela Advocacia-Geral da União na negociação dos acordos de leniência das empreiteiras.
Poderia servir como devolução dos recursos utilizados em "comissões" a executivos da Petrobras para facilitar contratos.
A modelagem de cálculo das perdas já foi submetida à apreciação dos órgãos reguladores no Brasil e Estados Unidos - Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e Securities and Exchange Comission (SEC) - que teriam aprovado o método.
Hoje, o conselho de administração se reúne para referendar os cálculos e avalizar as perdas a serem lançadas nos balanços do terceiro e quarto trimestres do ano passado.
O registro tende a anular o lucro da companhia, que em 2014 não deverá distribuir dividendos. Considerando que, nos últimos anos, a empresa tem registrado lucros superiores a R$ 20 bilhões, as perdas podem ficar em torno desse valor.
Segundo fontes envolvidas na negociação, na semana passada o diretor financeiro da Petrobras, Ivan Monteiro, reuniu informalmente alguns conselheiros para mostrar a solução encontrada.
"O objetivo era apresentar e tirar dúvidas, foi bastante informativo", afirmou uma fonte que acompanhou as conversas. "A empresa está engajada em fechar o balanço."
Consenso
A intenção seria obter unanimidade no conselho sobre a forma de contabilizar as perdas decorrentes da Lava Jato.
O valor das perdas divulgado inicialmente, em torno de R$ 61 bilhões (conta entre R$ 88,6 bilhões de ativos sobrevalorizados e R$ 29 bilhões de outros subavaliados), será descartado.
Esse método, utilizado pela Deloitte e o BNP, contratados para o trabalho, foi considerado inapropriado.
A conta considerou o chamado valor justo dos ativos observados isoladamente.
Era como se fosse colocado um preço para venda de cada um dos projetos, sem considerar as sinergias envolvidas.
Essa visão prevalece até mesmo entre os conselheiros independentes, que, juntamente com a ex-presidente Graça Foster, pressionaram para a divulgação do número na ocasião. A publicação do cálculo acabou resultando na queda de Graça.
Esses conselheiros vêm defendendo ajustes, como a avaliação dos ativos com base no critério de que a companhia segue ativa e obtém benefícios com a operação de forma integrada.
Depois desse acerto contábil, a companhia poderia seguir acompanhando as investigações da Operação Lava Jato e buscar ressarcimento também com base nos acordos de leniência a serem firmados com as empreiteiras envolvidas, na visão de um profissional diretamente envolvido.
É de se esperar que os conselheiros independentes analisem os termos com lupa e exijam os devidos pareceres para darem o aval aos números.
A reunião de conselho será realizada hoje, a partir das 10 horas, no Rio de Janeiro, onde estará o presidente da companhia, Aldemir Bendine.
Conselheiros baseados em São Paulo se deslocarão para lá, em vez de participarem por videoconferência. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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1. Tempos difíceis
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1/9 (Divulgação/EXAME)
São Paulo – De suspeitas de corrupção a multas bilionárias, a
Petrobras tem sido protagonista de algumas das principais - más - notícias do Brasil nos últimos tempos. Alvo de uma das maiores investigações de corrupção corporativa do país, a petroleira hoje sofre uma crise de credibilidade que a faz perder valor de mercado a cada novo fato divulgado. E tem sido um exemplo de que realmente tudo pode dar errado ao mesmo tempo agora. Listamos oito fatos recentes sobre a Petrobras que comprovam que o ruim pode sempre piorar.Veja nas fotos.
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2. Operação Lava Jato
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2/9 (Arquivo/Agência Brasil)
Deflagrada em março de 2014, a
Operação Lava Jato investiga um esquema de corrupção dentro da Petrobras em que um possível esquema de lavagem de dinheiro e contratos irregulares por meio de licitações beneficiaria partidos políticos. Desde então, pessoas, grandes transações e contratos fechados com irregularidade são alvo de investigação da Polícia Federal. A operação em curso ainda tem muito que apurar – e a lista de possíveis envolvidos no escândalo só aumenta. Inclui grandes empreiteiras, fornecedores e políticos.
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3. Fornecedores na mira
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3/9 (Germano Lüders/Exame)
Até agora, 23 empreiteiras foram indiciadas por envolvimento na operação. Em uma segunda etapa, mais recente, outras 82 empresas de setores diversos foram indiciadas. Além de executivos presos, algumas das companhias citadas passam por dificuldades de acesso a crédito, falta de pagamentos de aditivos de contratos com a Petrobras e contam com muitas obras paradas e prejuízo. Algumas dessas empresas já
decretaram falência. Outras, como a Camargo Correa, fizeram
demissão em massa. O estrago até o fim da operação pode ser ainda maior. A estimativa é que a Petrobras tenha hoje cerca de 6.000 fornecedoras no país.
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4. Balanço incompleto
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4/9 (REUTERS/Paulo Whitaker)
O atraso na divulgação de resultados da companhia, previsto inicialmente para outubro do ano passado, acabou criando uma expectativa negativa no mercado sobre o que estaria por vir. Mas o estrago foi ainda maior que o previsto quando a empresa fez a efetiva publicação do balanço, no final de janeiro. No relatório, a estatal divulgou uma diferença de quase R$ 62 bilhões entre o valor real dos ativos e o contabilizado no balanço anterior, do segundo trimestre. A diferença não foi identificada como perdas com corrupção e a auditoria de todos os ativos não foi feita de maneira independente. A revelação do número assustou e gerou ainda mais incertezas nos investidores. Acabou criando uma situação insustentável para a Petrobras, que viu suas ações desabarem.
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5. Mudança de comando
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5/9 (Ueslei Marcelino/Reuters)
Dias depois da divulgação dos resultados,
Graça Foster e outros cinco diretores da companhia
renunciaram ao comando da Petrobras. Por dois dias, ficou no ar a dúvida sobre quem assumiria a responsabilidade de liderar a maior empresa do país em meio a um turbilhão de incertezas e denúncias. A expectativa era a de que o governo escolhesse alguém do mercado, que tivesse independência para decidir os rumos da empresa de agora em diante. Dilma Rousseff anunciou o nome de
Aldemir Bendine para o cargo. Tido como
um perito em crises e aliado do governo, Bendine deixou o comando do Banco do Brasil para assumir como presidente da Petrobras. A notícia azedou ainda mais o humor dos investidores.
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6. Acidente fatal
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6/9 (REUTERS/Gabriel Lordello)
Uma semana depois da troca de comando, um novo desastre atingiu a empresa – esse vindo dos mares e com consequências fatais. A explosão a bordo do navio-plataforma FPSO Cidade de São Mateus, no Espírito Santo, causou a
morte de cinco pessoas e deixou outras dez feridas – duas delas em estado grave. A norueguesa BW Offshore era a proprietária da embarcação e trabalhava para a petroleira brasileira. Ainda não se sabe o que causou a explosão.
A única certeza é a de que o acidente foi o terceiro maior desse tipo na história da empresa e que ela terá de arcar com uma multa, caso fique comprovado erro de operação.
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7. Revolta dos acionistas
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7/9 (Scott Eells/Bloomberg)
Além dos problemas internos, a Petrobras e seus acionistas no Brasil podem enfrentar uma possível revolta dos investidores estrangeiros. A estatal tem ações na Bolsa de Nova York e, se as denúncias de corrupção forem comprovadas, uma multa bem pesada pode chegar. Nos Estados Unidos,
uma ação simultânea da Securities and Exchange Comission (SEC), do Departamento de Justiça (DoJ) e dos tribunais americanos já fez com que técnicos fossem enviados ao Brasil para analisar o caso da Petrobras. A punição para a Petrobras, caso se comprove fraudes contra os acionistas, pode superar os valores de casos emblemáticos, como o da elétrica Enron, fechado em US$ 7,2 bilhões em 2006.
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8. Dívidas em dólar
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8/9 (Scott Eells/Bloomberg)
O momento ruim da Petrobras ainda conseguiu piorar com ajuda da alta do dólar. A valorização da cotação, a mais alta desde 2004, fez com que a dívida da companhia explodisse ao patamar da maior de toda a sua história. Calcula-se que 70% do endividamento da Petrobras estejam atrelados à moeda estrangeira, por isso um baque tão grande. Além do aumento do endividamento, fica mais caro para a Petrobras importar insumos, o que, por consequência, reduz seu caixa.
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9. Agora, veja 14 fatos incríveis sobre a Apple
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9/9 (Divulgação)