Sob Klein, foco da Via Varejo deve ser a venda online
Questão das vendas pela internet está sendo tratada como primeiro passo para a recuperação dos resultados da rede
Estadão Conteúdo
Publicado em 13 de junho de 2019 às 18h39.
Última atualização em 13 de junho de 2019 às 18h50.
São Paulo —A família Klein, fundadora da Casas Bahia , deve sacramentar no pregão de amanhã da B3 — a Bolsa paulista — a tomada do controle da Via Varejo , da qual é minoritária do grupo francês Casino, dono do brasileiro Pão de Açúcar. Segundo apurou o jornal 'O Estado de S. Paulo', a nova configuração da empresa, arquitetada pelo empresário Michael Klein, com a ajuda do XP Investimentos, vai incluir vários outros fundos. A aquisição das 469 milhões de ações do GPA na Via Varejo deve movimentar pouco mais de R$ 2,2 bilhões.
Ao dividir o peso da aquisição com os fundos, a família Klein deverá ficar como a maior acionista da Via Varejo, com cerca de 40% do capital, apurou o Estado. Os fundos que entrarão como sócios deverão reter uma fatia, enquanto o "free float" - porcentual negociado em Bolsa - permanecerá igual ao atual. Ontem, o conselho de administração da Via Varejo deu o sinal verde para a operação.
Para o Casino, a venda à família Klein representa o fim de uma saga que começou há dois anos e concretiza o objetivo da companhia de sair do setor de eletrodomésticos, segmento em que não tem tradição. Após flertar com grupos nacionais e internacionais, sem êxito, o Casino fechou o acordo em um momento em que sua controladora pediu ajuda da Justiça francesa para renegociar débitos.
Foco no online
A mudança de mãos do controle da Via Varejo será apenas o primeiro passo de uma mudança que a empresa luta para implementar: a melhora dos resultados de sua operação online, vista hoje como ponto fundamental para o sucesso de uma rede focada em eletrodomésticos. Neste quesito, além de resolver problemas internos, a companhia terá o desafio de correr atrás de uma concorrente que é considerada um modelo na relação virtual com o cliente: o Magazine Luiza .
Segundo dados do fim do ano passado, a dona da Casas Bahia e do Ponto Frio ainda é uma empresa bem maior do que o Magazine Luiza, com receita bruta de R$ 30,6 bilhões (veja quadro ao lado). No entanto, a companhia mostra um resultado líquido inferior ao da rival e está bem distante em performance em vendas pela internet. Enquanto 38% da receita do Magazine Luiza são originados em canais online, a Via Varejo arrecadou 19% do que vendeu na internet.
Segundo fontes próximas às negociações entre a família Klein e os fundos - lideradas pela XP Investimentos -, a questão das vendas pela internet está sendo tratada como primeiro passo para a recuperação dos resultados da rede. Uma das fontes consultadas disse que Michael Klein poderia até colocar à disposição imóveis de seu portfólio para melhorar a distribuição do braço online.
Um dos movimentos mais criticados do Casino à frente da dona da Casas Bahia e do Ponto Frio envolveu justamente a separação da operação online - a CNova - das lojas físicas, anunciada em 2014. O objetivo de unir todas as operações globais de e-commerce do grupo Casino atrapalhou o desempenho da Via Varejo por aqui - a estratégia acabou descartada dois anos mais tarde. Nesse ínterim, porém, o Magazine Luiza implantou inovações.
O resultado das distintas estratégias das duas varejistas pode ser percebido no valor das ações: ontem, o papel da Via Varejo fechou cotado a R$ 4,84, enquanto o do Magazine Luiza valia mais de R$ 200, apesar de ter registrado queda acentuada no pregão de ontem. A Via Varejo tem valor de mercado de R$ 6,3 bilhões, enquanto o da rival supera R$ 38 bilhões.
Para o analista Luiz Gustavo Pereira, da Guide Investimentos, o interesse da família Klein em reassumir o controle da Via Varejo inclui a percepção de que a companhia passa por um momento de recuperação. "A volta da família Klein ao controle e gestão da empresa pode influenciar de forma positiva no negócio. Vemos valor a ser destravado com o negócio", disse.
Na visão de Andrés Estevez, o analista do banco Brasil Plural, o movimento permitirá que o GPA se concentre nas operações de varejo alimentício e na expansão de projetos de digitalização. Já a Via Varejo é vista como um desafio para Klein. "Apesar de agora estar livre da governança do GPA na definição de estratégia, Klein deve ter um grande desafio para fazer a empresa vingar", disse.
Procurado, Michael Klein não comentou.