Seripieri, ex-Qualicorp: Cliente paga caro e não está satisfeito com plano
"Quero que o cliente me ligue se o filho tiver febre", diz empresário, que acaba de lançar plano de saúde individual
Mariana Desidério
Publicado em 21 de outubro de 2020 às 09h50.
Última atualização em 22 de outubro de 2020 às 23h18.
O empresário José Seripieri Filho, que fundou a administradora de planos de saúde Qualicorp nos anos 1990, colocou no ar um novo negócio esta semana. É a operadora QSaúde, focada em um produto tido como o patinho feio do mercado: os planos de saúde individuais.
A modalidade desapareceu do portfólio da maioria das grandes operadoras e seguradoras nos últimos anos, que passaram a vender apenas planos coletivos. O motivo é simples: os planos individuais têm seu reajuste regulado pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), enquanto nos coletivos a negociação é livre entre as partes. Além disso, no plano individual a operadora não pode rescindir o contrato; no coletivo, ela pode não renovar o contrato de um ano para o outro.
Para o empresário, essa equação é desvantajosa para o cliente. “Nos últimos 8 anos, os planos coletivos tiveram em média 315% de reajuste, ante 120% de reajuste da ANS nos planos individuais. E além de pagar caro, se você perguntar para os clientes, a grande maioria diz que não se sente verdadeiramente atendida ou protegida pelo plano”, diz.
A Qsaúde nasce da avaliação de que as operadoras são ineficientes em gerir a saúde de seus clientes. A A premissa é de que, muitas vezes, os planos de saúde têm uma grande quantidade de hospitais e médicos credenciados, mas não conhecem a fundo a saúde dos usuários. O que leva a exames desnecessários e ao agravamento de condições que poderiam ter sido tratadas mais cedo, com menor custo, gerando mais sustentabilidade ao sistema e bem-estar ao paciente.
“A sustentabilidade desse setor passa pela acessibilidade do cliente, o que promoverá uma alta escalabilidade, maior que os 47 milhões de brasileiros em queestá estagnado há anos", diz o empresário. Filho se refere ao número de pessoas com planos de saúde no país. O setor perdeu clientes nos últimos anos -- foi de 50 milhões de usuários em 2015 para 47 milhões.
O novo empreendimento parte também da experiência do empresário na negociação com planos de saúde quando estava à frente da Qualicorp. Ele deixou o comando da administradora há um ano. Em janeiro, comprou a Qsaúde da antiga empresa. Desde então, vem trabalhando no negócio, que consumiu até agora 120 milhões de reais em investimento. Com 180 funcionários, a operadora tem capacidade para atender 188 mil beneficiários.
Os clientes da Qsaúde podem optar por quatro modalidades de plano, que custam a partir de 246 reais Dentre os serviços ofertados está o atendimento dos médicos de família nas clínicas de atenção primária do Hospital Albert Einstein, disponível para todos os clientes.
Além de selecionar bem os credenciados, a operadora nasce com forte investimento em tecnologia e inteligência artificial, com o objetivo de gerenciar a saúde do cliente e com isso fazer a conta do plano de saúde individual fechar. Um modelo é parecido é o da operadora Prevent Senior, que trabalha só com planos individuais, é focada no público idoso e busca fazer um acompanhamento mais próximo dos pacientes.
“Tenho que saber quem são as melhores equipes dos hospitais credenciados, tenho que estar de mãos dados com o paciente no atendimento dele. Quero que o cliente me ligue se o filho dele tiver febre”, diz o empresário.
Com o negócio em pé, o foco agora é fazer com o que o público conheça a Qsaúde. A operadora colocou no ar uma campanha publicitária provocativa. No vídeo, o ator Otaviano Costa afirma: “Seu plano de saúde só pensa na saúde financeira dele". Fala também do contrato com “letras miúdas”, e da dor de cabeça para marcar consultas.
A meta é ganhar visibilidade até janeiro, quando termina a suspensão do reajuste dos planos de saúde, definida pela ANS por conta da pandemia. A expectativa de analistas é que, com o represamento este ano, os reajustes em 2021 sejam muito maiores, o que pode gerar problemas aos consumidores no ano que vem.