Ao separar o CPF do CNPJ, ela conseguiu transformar seu hobby num negócio de sucesso
A paranaense Maria Cristina Cavassin, proprietária do Spazio Cris, conseguiu otimizar a gestão do seu empreendimento com a ajuda do Sebrae
Repórter Especial
Publicado em 28 de outubro de 2024 às 20h37.
Sem saber o que esperar de um novo negócio, ou quais são as ferramentas para a profissionalização de uma empresa, muitas pessoas iniciam a sua jornada empreendedora de maneira informal. Segundo dados do IBGE, atualmente o Brasil possui quase 40 milhões de trabalhadores informais.
No caso de Maria Cristina Cavassin, proprietária do Spazio Cris, em Colombo, na região metropolitana de Curitiba (PR), a informalidade na prática empreendedora manteve-se por alguns anos justamente porque o seu negócio surgiu como um hobby. Professora do ensino infantil, Cristina sempre se viu realizada com a profissão escolhida. “Sempre quis ser professora, desde pequena alimentei esse sonho. Depois de formada, passei no primeiro concurso público que fiz e comecei a dar aulas”.
E foi enquanto atuava na educação, na década de 1980, que a professora percebeu o quanto a cidade sofria com a falta de profissionais da área de beleza. À EXAME, Cristina conta que quando a escola fazia eventos, como festas, peças e formaturas, não existiam profissionais suficientes para atender todos que queriam se arrumar para essas ocasiões.
Vendo o cenário, ela, que havia feito um curso de beleza incentivada pela mãe, começou a atender amigas e vizinhas na sala da casa de seus pais para suprir à demanda de clientes em dias festivos. “Eu fazia de uma maneira informal, só para atender mesmo, não cobrava de ninguém. Pedia para as amigas já virem com o cabelo lavado, para trazerem a tinta que desejavam passar. Era tudo bem improvisado”, conta.
Quando o hobby se torna empreendimento
Cristina viu o número de clientes aumentar gradualmente através do famoso esquema ‘boca a boca’ – uma amiga indicando para a outra. Mesmo com o crescimento da clientela ao longo dos anos, a empreendedora manteve o negócio de forma casual, conciliando uma dupla jornada: professora pela manhã e cabeleireira à tarde.
Mais de uma década depois, Cristina entendeu a necessidade de transformar o seu hobby-negócio em um empreendimento profissional. “O público começou a aumentar ainda mais e eu, sozinha, fazia tudo: cabelo, maquiagem, pé, mão... Já não havia como eu dar conta de atender tantas pessoas, eu precisava de uma equipe para me ajudar”, relembra.
Cristina, então, alugou um espaço para criar o seu primeiro salão, e passou a contar com a ajuda da filha no empreendimento. A gestão do negócio, porém, continuou um tanto informal. “Por ser professora, sempre tive facilidade em manter a organização do negócio. Eu tinha um caderno que funcionava como agenda e no qual eu também anotava a entrada e a saída de dinheiro. Sabia tudo sobre as finanças do salão”, explica.
CPF x CNPJ
Foi depois de fazer alguns cursos do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), alguns anos depois e já aposentada das salas de aula, que Cristina passou a encarar a gestão dos negócios de um jeito mais criterioso.
Incentivada pela filha, Cristina participou do Empretec , principal programa de formação de empreendedores do mundo, criado pela Organização das Nações Unidas (ONU), promovido em 40 países e exclusivo do Sebrae no Brasil.
A empreendedora destaca que o contato com o Sebrae foi fundamental para que ela entendesse a importância de manter as finanças pessoal e empresarial separadas. “Costumava colocar todo o dinheiro em uma conta só, sem diferenciação. Mas, aprendi no Empretec que você tem que separar o seu dinheiro pessoal do profissional. Só depois disso passei a deixar o dinheiro da minha aposentadoria, por exemplo, em uma conta pessoal, separado do que entra e sai do salão e que passei a movimentar apenas na conta jurídica”, explica.
A nova gestão ajudou a empreendedora a renovar o seu negócio e otimizar processos. As mudanças aplicadas por Cristina a levaram ao primeiro lugar no Prêmio Sebrae Mulher de Negócios 2022, na categoria Microempreendedora Individual (MEI). A iniciativa reconhece mulheres que lideram empresas de destaque no país.
“Para mim, o Sebrae fez muita diferença, por isso eu sempre indico para outras mulheres empreendedoras procurarem por cursos na organização. Depois que fiz o primeiro, acabei fazendo vários outroscursos e todos agregaram na minha trajetória empreendedora e nas mudanças que realizei na gestão do meu negócio”, ressalta a empresária.
Coworking
Para Cristina, o curso também foi uma injeção de ânimo para novos projetos. “Tudo o que eu aprendia ali me dava mais vontade de evoluir, crescer e ajudar as pessoas. Nesse período, comecei a entender mais sobre a parte estratégica e como o meu negócio também poderia criar oportunidades para outras pessoas”, analisa.
Rebatizado como Spazio Cris, atualmente o salão funciona no estilo coworking, com a empreendedora disponibilizando toda a estrutura do lugar para que outros profissionais atendam os seus clientes. Segundo a proprietária, o espaço também ajuda no desenvolvimento profissional de muitas pessoas.
Cristina também criou o Grupo Mulheres Empreendedoras de Colombo, um espaço de acolhimento e troca de dicas e conhecimento para mulheres que estão lidando com os desafios do universo empreendedor.
“Minha dica para um negócio dar certo é saber o que você tem como diferencial. Sempre vai ter muita gente fazendo muita coisa em todos os lugares, mas só você pode fazer algo de um jeito que apresenta o seu diferencial”, indica a empresária.