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O que Santos e Neymar ensinam sobre gestão de carreira

A proeza do clube paulista em segurar o grande nome do futebol brasileiro de 2010 é um bom exemplo de efetiva renteção de talentos

Neymar surpreendeu o público ao trocar uma oferta milionária por um plano de carreira do Santos (Wikimedia Commons)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.

São Paulo - A decisão do atacante Neymar, do Santos, anunciada nesta quinta-feira (19/8), de permanecer no clube, e abrir mão de um salário de aproximadamente 9 milhões de reais por ano no clube inglês Chelsea, surpreendeu o público. Contrariando o clichê de que todo jogador de futebol brasileiro tem como única meta jogar na Europa, Neymar deu provas de que salário nem sempre é determinante nas decisões entre um trabalho e outro.

O Santos, por sua vez, resistiu à tentação de vender o atleta por 67,6 milhões de reais (ou 30 milhões de euros) e não deixou por menos. Para segurar o jogador, fez uma contraproposta que levou em conta as necessidades, não apenas financeiras, do jogador. Juntos, Santos e Neymar mostraram que um bom plano de carreira pode ser uma estratégia eficaz para manter os talentos da equipe.

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Para mostrar algumas lições que o caso pode dar, o site EXAME conversou com a coordenadora do Veris Carreiras, da Veris Faculdades, do Grupo Ibmec Educacional, Priscila de Azevedo Costa Martins, e com a professora associada da Fundação Dom Cabral, Rosângela Pedrosa. Confira as lições que as empresas podem tirar deste episódio.

A empresa deve propor o que o profissional busca

Muito além das cifras, o presidente do Santos, Luis Álvaro Ribeiro, conseguiu cativar Neymar por algo bem característico do jogador, a vaidade. Dentre outras coisas, o plano de carreira oferecido pelo clube prevê ações sociais, media training e todo o preparo para que ele possa se firmar como ídolo. Ribeiro quer transformar o craque em um mito, como aconteceu com Pelé.

Além disso, o clube aumentou a multa de rescisão contratual de Neymar, ajustou seu salário e prolongará por mais cinco anos o tempo de contrato. Para a especialista em carreiras Priscila Martins, o clube soube montar o plano de acordo com as necessidades do profissional.

"Neymar faz parte de uma geração que geralmente busca crescimento rápido, novos desafios, reconhecimento. Se o presidente do clube não fizesse um plano que desse essa possibilidade, certamente o jogador não ficaria".

A professora Rosângela Pedrosa acredita que esse acordo só foi possível por um benefício mútuo. "Essa foi a prova do potencial do jogador e do interesse do Santos, mas nem sempre as empresas percebem o potencial dos funcionários. É preciso ficar mais atento a isso", diz.


Consultas a profissionais de sucesso podem ser benvindas

Como parte da estratégia, o presidente do Santos pediu para que Pelé conversasse pessoalmente com Neymar para dar um aconselhamento particular. A tática de colocar o rei do futebol em campo deu certo.

Para Priscila Martins, as pessoas sempre buscam um modelo em quem se espelhar, e consultar os mais experientes pode ser muito válido. "O presidente do clube buscou um profissional para validar a proposta feita, para mostrar que aquilo é factível, pode ser concretizado. É importante que os profissionais conversem com pessoas mais experientes para definir o que querem fazer", diz.

Já Rosângela Pedrosa tem mais dúvidas em relação ao real poder de decisão de Neymar. Ela acredita que, mesmo tendo sido um contrato em comum acordo, talvez o jogador ainda não tenha maturidade suficiente para compreender a real proporção de suas decisões. Essa segurança sobre os passos futuros é, para ela, algo que vem com a experiência de trabalho e com o tempo.

Não se deve priorizar apenas a remuneração

A frase clichê de que "dinheiro - apenas - não traz felicidade" se encaixa neste caso. Não que o jogador vá ganhar pouco ou menos do que já recebia pelo clube paulista - ao contrário, ele receberá reajuste salarial, mas o fato é que o valor nem sempre supera tudo.

Neymar ficou no Brasil em troca da proposta talvez mais valiosa de se tornar "um mito". O Santos brigou por Neymar pelo potencial vencedor que ele tem. Nesse jogo de interesse, os 67,6 milhões de reais oferecidos pelo Chelsea não pareceram uma fortuna que valesse a pena.

No mundo dos negócios isso também acontece. Priscila Martins, do Grupo Ibmec Educacional, confirma que atualmente o valor da remuneração nem sempre é tão importante. "O reconhecimento do trabalho, as possibilidades de crescimento, os novos desafios, tomada de decisão, impacto na equipe, tudo isso conta na hora de um profissional continuar ou não em uma empresa", explica.


Ela deixa claro que isso não é uma regra, mas é o que ocorre principalmente em relação a jovens da geração Y, como Neymar - aqueles nascidos a partir dos anos 80.

A empresa deve ter uma política de carreira

O Santos inovou ao apresentar um plano de carreira personalizado para o jogador, mas essa prática não tem sido adotada pelas empresas. Segundo Priscila Martins, isso deveria se tornar uma política nas companhias e não uma coisa pontual, como o caso do clube. "Essa política de carreira deve ser adotada também para atrair outros talentos e não só manter o que já está na empresa", comenta.

Ela também considera que criar planos de carreira estruturados para cada profissional pode ser uma boa estratégia para motivar os funcionários e mantê-los produtivos. Já Rosângela Pedrosa discorda dessa posição. A professora acredita que dificilmente uma companhia pode definir planos de carreira estruturados por não terem certezas sobre o futuro da empresa.

Para ela, a retenção de talentos, e não planos de carreira, deve ser o foco. "Os profissionais querem crescer, as empresas querem dar espaço para crescer, mas não há espaço para planos estruturados de carreira para eles", diz.

Se prometeu, tem que cumprir

Um plano de carreira pode ser muito tentador para qualquer profissional, seja ele um atacante de futebol ou um gestor, mas é preciso que a empresa garanta que ele seja cumprido. Esse será o desafio do Santos pelos próximos cinco anos. Neste ponto, as especialistas Priscila Martins e Rosângela Pedrosa concordam: o clube - e quem quiser seguir os passos dele - terá que cumprir suas próprias regras, pelo bem de seu patrimônio.

Priscila Martins resume: "Se o profissional perceber que aquela proposta é mentira, ele vai querer sair mesmo. É um risco também para a empresa".

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