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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h41.
As conseqüências da quebra da safra de 2005 não se restringirão apenas a este ano. Descapitalizados e com o câmbio desfavorável, os agricultores encontrarão dificuldades no plantio da próxima safra. Segundo os especialistas, ainda é cedo para saber se a colheita encolherá novamente, mas é certo que o perfil da safra de 2006 tende a ser inferior, devido à redução do uso de fertilizantes e defensivos agrícolas, e ao plantio de sementes de pior qualidade.
Diversos fatores prejudicam o planejamento das próximas culturas. O primeiro é o câmbio. Quando compraram os insumos para a safra deste ano, como sementes, adubos e pesticidas, os agricultores pagaram as despesas com um dólar mais valorizado que o atual, pelo qual estão vendendo seus produtos tanto no Brasil, quanto no exterior. Além disso, uma supersafra de soja nos Estados Unidos derrubou a cotação da commodity nos mercados mundiais, pressionando ainda mais as margens dos brasileiros. O resultado previsível foi a descapitalização do setor, que levou ao acúmulo de dívidas.
Outro fator foi a seca no Sul do país, principal responsável pela quebra esperada de 4,91% da safra deste ano, em relação a 2004, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Espera-se agora que o país colha 113,507 milhões de toneladas de grãos.
Contratos adiados
O primeiro reflexo da situação sobre a safra de 2006 é o adiamento da compra dos insumos para iniciar o plantio. Geralmente, nesta época do ano, os agricultores já encomendaram boa parte das sementes de soja e milho que utilizarão. Mas, até agora, os pedidos estão bem abaixo da média. "Ainda há muita incerteza no mercado e a decisão de plantio não foi tomada", diz Luiz Sallada, diretor administrativo da Agroceres.
Até agora não se sabe, por exemplo, como se comportarão os preços do milho e da soja dado essencial para que os agricultores decidam qual das culturas terá mais espaço em suas fazendas. Outro ponto em aberto é a taxa de câmbio. "Se o dólar subisse, os plantadores ficariam mais animados", afirma Sallada.
No mercado de sementes, há os produtores oficiais, como a Agroceres, mas nada impede que os agricultores cultivem suas próprias sementes, ou guardem uma parte do plantio anterior, para reduzir o volume de compras dos fornecedores especializados. Para Ywao Miyamoto, presidente da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem), é justamente isso que uma parcela dos agricultores está fazendo para economizar dinheiro.
Menor qualidade
O problema é que, cultivadas sem os devidos cuidados, essas sementes tendem a ser de pior qualidade, segundo Miyamoto. Um dado concreto é o índice de reprovação do Ministério da Agricultura. Normalmente, cerca de 5% das amostras de sementes enviadas pelas fazendas para análise do ministério são reprovadas. Neste ano, a taxa de rejeição bateu em 20%. "O lavrador guarda a semente, mas ela não vai germinar", diz Miyamoto.
A crise do setor também afeta os próprios produtores de sementes e mudas. Segundo o presidente da Abrasem, para a safra deste ano, foram produzidos 969 952 toneladas de sementes de soja. Para o próximo ano, espera-se 850 000 toneladas.
Miyamoto afirma que isso não significa que haverá outra quebra de safra em 2006. O mais provável é que a oferta de sementes seja bem justa. Sallada, da Agroceres, concorda com a avaliação. "Não diria que 2006 será uma catástrofe, mas a oferta de sementes será bem apertada", diz.