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Sabesp está preparada para enfrentar gigantes internacionais, diz presidente

Com o aumento da concorrência após a nova lei de saneamento, Gesner de Oliveira afirma a EXAME que aposta na escala para não perder concessões

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.

Nos próximos dois anos, a Sabesp enfrentará a tarefa de renovar 129 das 366 concessões atendidas no estado de São Paulo. Presidente da empresa desde 2007, o ex-presidente do Cade Gesner de Oliveira precisa driblar a concorrência das operadoras privadas, cujo interesse no mercado brasileiro reavivou após a aprovação, no início do ano passado, da Lei Geral de Saneamento Básico. "É claro que a concorrência aumentou", afirma Oliveira.

Mas ele mostra confiança no poder de atuação da Sabesp, a maior concessionária de água e esgoto do Brasil. Nesta entrevista a EXAME, Oliveira explica porque, na sua avaliação, a empresa pode bater gigantes internacionais do setor, como a francesa Suez, e fala dos planos de diversificar o leque de serviços prestados.

EXAME - Com a nova lei de saneamento, as empresas privadas voltaram a se interessar pelo setor. Nos próximos dois anos, 129 concessões da Sabesp precisarão ser renovadas. Como a empresa vai enfrentar a concorrência privada?
Gesner de Oliveira - É claro que a concorrência cresceu, mas acreditamos na competitividade da Sabesp e estamos muito otimistas. Desde que assumimos, em janeiro de 2007, 156 concessões foram renovadas. Em 2008, foram 49. Nossa meta é encerrar o ano com 80 renovações, mas houve uma parada nas negociações por causa das eleições municipais.

EXAME - Quais seriam as armas da Sabesp para enfrentar a maior concorrência?
Oliveira - A primeira é a economia de escala. Temos 16 unidades de negócios e atendemos 366 municípios. Temos uma grande capacidade para incorporar um novo município sem elevar muito os custos. Uma nova empresa precisaria investir mais em capital fixo. Outra é a nossa grande capacidade de investimentos, dada a nossa capacidade de financiamento. Entre 2007 e 2010, pretendemos investir 5,9 bilhões de reais, ou 40% do total de investimentos do setor. E é raro encontrar uma empresa com essa capacidade de investir. A terceira é o nosso conhecimento e tradição no setor. Temos 35 anos de atividades e somos pioneiros.

EXAME - E em relação a gigantes mundiais do setor, como as francesas Suez e Veolia, que possuem atuação internacional e capacidade de investir também?
Oliveira - Os grupos internacionais têm uma elevada capacidade de investimentos, mas não possuem o mesmo conhecimento que temos do mercado brasileiro, em particular das grandes regiões metropolitanas.

EXAME - A Sabesp está estruturando uma área de Novos Negócios, com o objetivo de vender tecnologias e serviços e montar parcerias com outras empresas. Quais são as áreas que a empresa vai priorizar?
Oliveira - A nova lei nos permite atuar em vários setores, como drenagem, tratamento de resíduos sólidos, energia. Mas isso é um processo gradual e estamos nos organizando. Nossa visão estratégica é universalizarmos os serviços de saneamento nas regiões em que atuamos dentro de dez anos. Quando se fala em novos negócios, pode parecer que vamos diversificar nosso portfólio em detrimento dos serviços básicos. Mas nosso foco é universalizar os serviços onde já estamos.

EXAME - De qualquer modo, a Sabesp já fechou algumas parcerias com empresas públicas e privadas.
Oliveira - Estabelecemos acordos de cooperação técnica com a Casal, de Alagoas, e com a Corsan, do Rio Grande do Sul. E estamos negociando com a Cersan, do Espírito Santo.

EXAME - Mas as parcerias tendem a evoluir para a venda de softwares e equipamentos desenvolvidos pela Sabesp.
Oliveira - O acordo com a Cersan, por exemplo, envolveria equipamentos de tratamento de água. Mas as parceiras com outras empresas são importantes, desde que permitam trocas técnicas que contribuam para a universalização dos serviços em São Paulo. Mesmo quando falamos de parcerias em outros países, elas podem nos ajudar a trazer novas tecnologias e mais capital.

EXAME - A Sabesp já manifestou o interesse de atuar em outros países, como México, China e Índia. Como estão os planos?
Oliveira - Temos que ser muito realistas e prudentes nessa trajetória. Não temos experiência internacional. Estamos preparando a empresa para que faça isso daqui dez anos. Nossa meta básica é universalizar os serviços em dez anos. A partir daí, podemos pensar em atuar em outros estados ou país.

EXAME - A Sabesp vai entrar em novos mercados somente após esses dez anos?
Oliveira - Algumas parcerias são importantes instrumentos para universalizar os serviços. Em Mogi-Mirim, por exemplo, a parceria com a OHL e a Etep foi fundamental para isso. As parcerias inclusive são uma forma de acessar capitais, em um momento de escassez de crédito.

EXAME - A crise financeira mundial está atrapalhando a captação de recursos da Sabesp?
Oliveira - Nosso programa de investimentos tem um esquema de financiamento confortável. Já apresentamos uma carta-consulta ao BID para a terceira etapa do Projeto Tietê (de despoluição do rio). No programa Onda Limpa (de saneamento na Baixada Santista), nossa âncora é o JBIC (instituição de fomento japonesa). Nossas fontes de financiamento são de longo prazo, como a Caixa Econômica Federal.

EXAME - O mercado não gostou dos números trimestrais da Sabesp, como o aumento de custos e a queda da margem de ebitda [lucro sem o desconto de juros, impostos e amortizações]. Como o senhor responde às críticas aos números?
Oliveira - Uma coisa é lucrar cerca de 230 milhões de reais com um mar tranqüilo. Outra é conseguir esse lucro sob um céu cinzento, como o atual. Acho que o ponto mais notável foi a solução das pendências financeiras com o governo paulista. Foi um salto qualitativo. Era uma pendência de muitos anos, e agora o governo reconheceu uma dívida de 915 milhões de reais com a empresa. Além disso, parte do aumento das despesas deveu-se a fatores não-recorrentes ou, pelo menos, importantes para melhorar nossa receita. Gastamos 9,6 milhões de reais em contratos de risco para recuperação de créditos. Com esses gastos, conseguimos recuperar uma receita de 30 milhões de reais. Esperamos que isso nos traga mais receitas.

EXAME - A reestruturação da Sabesp, rumo aos novos tempos, pode seguir um modelo como o da Suez, onde o governo francês, embora seja o maior acionista, detém apenas 37% da companhia (na Sabesp, o governo paulista possui 50,3% do capital)?
Oliveira - Nosso programa de trabalho não inclui qualquer mudança ou qualquer projeto de privatização. O governador José Serra tem reiterado que a empresa não está à venda.

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