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Rony Meisler, da Reserva: a propriedade não faz mais sentido

Para o fundador da marca de roupas, no pós-pandemia a sociedade irá se questionar, inclusive, se é realmente necessário ser dono das coisas

Rony Meisler, da Reserva: "Temos uma tendência global de repensar a propriedade das coisas. De fato, ela não faz muito sentido. Um carro, um apartamento ou a camiseta que vestimos serão usados por um tempo, depois serão trocados" (Leandro Fonseca/Exame)

Rony Meisler, da Reserva: "Temos uma tendência global de repensar a propriedade das coisas. De fato, ela não faz muito sentido. Um carro, um apartamento ou a camiseta que vestimos serão usados por um tempo, depois serão trocados" (Leandro Fonseca/Exame)

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Rodrigo Caetano

Publicado em 12 de abril de 2021 às 06h40.

Última atualização em 12 de abril de 2021 às 16h00.

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Rony Meisler, da Reserva: "Temos uma tendência global de repensar a propriedade das coisas. De fato, ela não faz muito sentido. Um carro, um apartamento ou a camiseta que vestimos serão usados por um tempo, depois serão trocados" (Leandro Fonseca/Exame)

O empresário Rony Meisler, um dos fundadores da marca de roupas Reserva, é um carioca marrento – no sentido de ousadia, não de arrogância. Suas contendas com o mundo da moda são antigas. Em seu primeiro desfile no Rio Fashion Week, por exemplo, ele fantasiou as modelos de Bob Esponja, Flintstones e com outras fantasias compradas no Saara, tradicional centro popular de roupas do Rio de Janeiro. Meisler acredita que regras e tradições podem e devem ser quebradas, se for pelo bem da sociedade.

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A bola da vez entre os paradigmas a serem quebrados por Meisler é o próprio sentido de propriedade, um dos pilares do capitalismo. Para ele, possuir coisas, seja um carro, uma casa ou uma roupa, não faz mais sentido, sabendo que é no pós-consumo que os produtos geram o maior impacto ambiental. A moda, no pós-pandemia, será mais circular, menos descartável e até um pouco mais básica.

Em conversa por videoconferência com a EXAME, Meisler falou sobre o futuro da moda, a negociação com a Arezzo e qual será o papel das empresas daqui para frente. Veja os principais trechos da entrevista:

O papel das empresas na sociedade ficou mais evidente por causa da pandemia?

Vou filosofar um pouco. Não consigo acreditar isso tudo seja acaso. Deus, seja lá o que ele é, ou represente em termos energéticos, nos deu um sinal. Ou consertamos, ou será o nosso fim. E começam a aparecer alguns indicativos. É peixe na Baía de Guanabara, são os paulistas postando foto do pôr do sol, que antes não dava para ver. E ficamos restritos em casa por causa de uma doença que não escolhe cor, raça ou condição financeira. Numa situação como essa, experimentamos o que seria uma restrição social extrema, o que nos faz perguntar o que pode acontecer se não mudarmos. E assim há um aumento de consciência.

Os empresários estão passando por uma renovação espiritual?

Perfeitamente. A doação de 1 bilhão de reais para ajudar no combate à pandemia, para mim, foi um marco. Eu costumo falar sobre esse tipo de “oportunismo do bem”, que precisa aumentar. As empresas têm de investir socialmente devem ganhar mais dinheiro com isso. Não tem outro caminho, dado o desgoverno que vivemos hoje. A iniciativa privada precisa participar mais e depender menos do governo. Não tem outro jeito.

E o que vai ser da moda após a pandemia?

Temos uma tendência global de repensar a propriedade das coisas. De fato, ela não faz muito sentido. Um carro, um apartamento ou a camiseta que vestimos serão usados por um tempo, depois serão trocados. O pós-consumo é responsável por 90% do impacto ambiental de uma roupa, com as lavagens, o descarte etc. Cada vez mais veremos modelos de propriedade indireta no mundo da moda. Já temos investimentos na Troc, que é uma plataforma de compra e venda de roupas usadas – aliás, a primeira coisa que a Arezzo fez quando fechou a negociação foi aumentar o investimento. Outro modelo de negócios que nós vamos entrar é o de assinaturas.

Como foi o processo de negociação com a Arezzo, concluído durante a pandemia?

Foi um ano montanha russa. As coisas foram acontecendo. Gosto de usar figuras de linguagem, e a que eu uso para explicar o que aconteceu na virada de 2019 para 2020 é a do comandante Sully pousando o seu A-320 no Rio Hudson, em Nova York. Estávamos a 10 mil pés e tivemos de fazer um pouso de emergência. Nós decidimos não demitir, colocamos nossos vendedores para trabalhar de casa, nos valendo de nossas plataformas tecnológicas. Também não fizemos promoção. Se eu começo a liquidar o estoque, poderia deixar na mão alguns fornecedores. Olhando para a foto, a nossa situação estava pior do que a de outros varejistas. Mas o filme roda a nosso favor. Já pensávamos em abrir capital e, por meio de um amigo em comum, o Alexandre entrou em contato para armar uma parceria de marketing. A Reserva promoveria a Arezzo e vice-versa. Esse mesmo amigo levantou a ideia de uma união, então conversamos e vimos que fazia sentido.

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