Presos são contratados para diminuir turnover em empresa
Empresa de serviços de alimentos, no Paraná, preenche quadro de funcionários com mão de obra vinda de presídio
Luísa Melo
Publicado em 27 de fevereiro de 2014 às 17h28.
São Paulo - Um turnover de 4 a 5% ao mês e a impossibilidade de pagar salários competitivos. Essa combinação poderia resultar em uma grave crise de gestão em muitas empresas , mas na Risotolândia foi uma oportunidade para a criação de um premiado programa de sustentabilidade .
Em 2008, por conta da dificuldade em encontrar mão de obra, a companhia de serviços de alimentação decidiu criar um projeto que envolvia a contratação e ressocialização de detentos, o "Liberdade Construída".
Realizado em parceria com a Secretaria de Justiça e Cidadania do Paraná, o programa já levou 225 presidiários em regime semiaberto da Colônia Penal Agroindustrial do estado para trabalhar na unidade da Risotolândia em Araucária (PR).
Atualmente há 26 detentos desempenhando funções como higienização de bandejas, de hortifrutis e manutenção de veículos na empresa. Lá, eles compartilham o ambiente de trabalho e de refeições com o restante da equipe, mas são acompanhados por um agente penitenciário. O número de participantes do programa varia a cada ano, de acordo com a necessidade da companhia, e já chegou a 60.
De acordo com Carlos Humberto de Souza, diretor superintentende da Risotolândia, de todos os presidiários que passaram pela empresa, apenas dois tiveram problemas de conduta—os quais ele prefere não especificar—e precisaram ser retirados do programa.
"As vantagens são maiores do que as desvantagens. É uma oportunidade de que eles não voltem para o mundo do crime", garante Souza.
Para os detentos, essas vantagens são claras: a cada três dias trabalhados, eles conseguem um dia de redução na pena, além da remuneração e da oportunidade de recomeçar.
Para a Risotolândia, os benefícios vão além da possibilidade de preencher o quadro de funcionários e fazer uma ação social: o salário pago aos presidiários é equivalente a 75% do mínimo nacional.Um funcionário regular trabalhando na mesma função receberia um valor 10% maior que o salário mínimo.
"Não é preciso registro (na carteira de trabalho) e por isso não temos encargos fiscais, mas temos a mão de obra", diz Souza.
A remuneração do "Liberdade Construída" é a determinada pela Lei de Execução Penal. Segundo a Secretaria de Justiça e Cidadania do Paraná, o dinheiro é entregue pela empresa ao Depen (Departamento de Execução Penal do Paraná) que repassa o valor para uma conta bancária aberta em nome do detento. A quantia pode ser acumulada até o trabalhador conseguir o seu alvará de soltura, ou mensalmente retirada em 80% por algum familiar autorizado, enquanto ele estiver preso.
Contratação efetiva
Os presidiários que participam do programa na Risotolândia, têm chances de serem efetivados pela empresa quando conseguem a liberdade. "A contratação é praticamente certa quando ele faz o trabalho direitinho no 'estágio'", conta Souza.
Desde 2008, 15 detentos fizeram parte do quadro de funcionários regulares da empresa. Atualmente, há 4 deles em serviço: um estoquista, um auxiliar de higienização, um mecânico e um operador de estação de tratamento de resíduos.
A alta rotatividade
Ao todo, a Risotolândia possui 4,5 mil funcionários. Só na unidade de Araucária (PR), onde existe o projeto "Liberdade Construída", eles são mil.
Com um turnover entre 4 e 5%, cerca de 200 vagas ficam abertas na empresa, todo mês. Hoje, há 40.
"Nosso quadro de funcionários é composto 80% de mulheres, em uma faixa etária entre 18 e 24 anos. Geralmente, é o primeiro emprego dessas pessoas e quando aparecem oportunidades melhores elas acabam deixando a empresa, já que a situação do país hoje é de pleno emprego", explica Souza.
Continuidade
O "Liberdade Construída" tem duração anual, mas tem sido renovado pela Risotolândia desde sua criação. A ideia é dar continuidade à iniciativa que, segundo Souza é um sucesso.
"O programa nos auxilia em momentos muito difíceis, quando precisamos contratar mão de obra imediata", diz.
Além disso, segundo ele, os detentos que chegam à empresa são muito dedicados. "Nós já trabalhávamos em projetos dentro do presídio e percebemos o engajamento. Como já sabíamos como conviver com eles, tudo foi muito tranquilo", afirma.
O projeto já recebeu prêmios. Um deles foi o "Ser Humano Paraná - Luiz Hamilton Berton", em 2011, promovido pela Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH).
São Paulo - Um turnover de 4 a 5% ao mês e a impossibilidade de pagar salários competitivos. Essa combinação poderia resultar em uma grave crise de gestão em muitas empresas , mas na Risotolândia foi uma oportunidade para a criação de um premiado programa de sustentabilidade .
Em 2008, por conta da dificuldade em encontrar mão de obra, a companhia de serviços de alimentação decidiu criar um projeto que envolvia a contratação e ressocialização de detentos, o "Liberdade Construída".
Realizado em parceria com a Secretaria de Justiça e Cidadania do Paraná, o programa já levou 225 presidiários em regime semiaberto da Colônia Penal Agroindustrial do estado para trabalhar na unidade da Risotolândia em Araucária (PR).
Atualmente há 26 detentos desempenhando funções como higienização de bandejas, de hortifrutis e manutenção de veículos na empresa. Lá, eles compartilham o ambiente de trabalho e de refeições com o restante da equipe, mas são acompanhados por um agente penitenciário. O número de participantes do programa varia a cada ano, de acordo com a necessidade da companhia, e já chegou a 60.
De acordo com Carlos Humberto de Souza, diretor superintentende da Risotolândia, de todos os presidiários que passaram pela empresa, apenas dois tiveram problemas de conduta—os quais ele prefere não especificar—e precisaram ser retirados do programa.
"As vantagens são maiores do que as desvantagens. É uma oportunidade de que eles não voltem para o mundo do crime", garante Souza.
Para os detentos, essas vantagens são claras: a cada três dias trabalhados, eles conseguem um dia de redução na pena, além da remuneração e da oportunidade de recomeçar.
Para a Risotolândia, os benefícios vão além da possibilidade de preencher o quadro de funcionários e fazer uma ação social: o salário pago aos presidiários é equivalente a 75% do mínimo nacional.Um funcionário regular trabalhando na mesma função receberia um valor 10% maior que o salário mínimo.
"Não é preciso registro (na carteira de trabalho) e por isso não temos encargos fiscais, mas temos a mão de obra", diz Souza.
A remuneração do "Liberdade Construída" é a determinada pela Lei de Execução Penal. Segundo a Secretaria de Justiça e Cidadania do Paraná, o dinheiro é entregue pela empresa ao Depen (Departamento de Execução Penal do Paraná) que repassa o valor para uma conta bancária aberta em nome do detento. A quantia pode ser acumulada até o trabalhador conseguir o seu alvará de soltura, ou mensalmente retirada em 80% por algum familiar autorizado, enquanto ele estiver preso.
Contratação efetiva
Os presidiários que participam do programa na Risotolândia, têm chances de serem efetivados pela empresa quando conseguem a liberdade. "A contratação é praticamente certa quando ele faz o trabalho direitinho no 'estágio'", conta Souza.
Desde 2008, 15 detentos fizeram parte do quadro de funcionários regulares da empresa. Atualmente, há 4 deles em serviço: um estoquista, um auxiliar de higienização, um mecânico e um operador de estação de tratamento de resíduos.
A alta rotatividade
Ao todo, a Risotolândia possui 4,5 mil funcionários. Só na unidade de Araucária (PR), onde existe o projeto "Liberdade Construída", eles são mil.
Com um turnover entre 4 e 5%, cerca de 200 vagas ficam abertas na empresa, todo mês. Hoje, há 40.
"Nosso quadro de funcionários é composto 80% de mulheres, em uma faixa etária entre 18 e 24 anos. Geralmente, é o primeiro emprego dessas pessoas e quando aparecem oportunidades melhores elas acabam deixando a empresa, já que a situação do país hoje é de pleno emprego", explica Souza.
Continuidade
O "Liberdade Construída" tem duração anual, mas tem sido renovado pela Risotolândia desde sua criação. A ideia é dar continuidade à iniciativa que, segundo Souza é um sucesso.
"O programa nos auxilia em momentos muito difíceis, quando precisamos contratar mão de obra imediata", diz.
Além disso, segundo ele, os detentos que chegam à empresa são muito dedicados. "Nós já trabalhávamos em projetos dentro do presídio e percebemos o engajamento. Como já sabíamos como conviver com eles, tudo foi muito tranquilo", afirma.
O projeto já recebeu prêmios. Um deles foi o "Ser Humano Paraná - Luiz Hamilton Berton", em 2011, promovido pela Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH).