Renner quer comprar Dafiti e virar o "Magalu da moda"
Com uma oferta de ações de até 6,5 bilhões de reais, a varejista do Sul mira o e-commerce de moda, no movimento mais ousado de sua história
Ivan Padilla
Publicado em 21 de abril de 2021 às 15h30.
Última atualização em 23 de abril de 2021 às 09h52.
Em meio à oferta de ações que poderá lhe render até 6,5 bilhões de reais, a varejista Renner já tem um alvo claro: o e-commerce de moda Dafiti , que tem um valor estimado pelo mercado de 10 bilhões de reais, segundo apurou o Estadão. O foco da Renner com o movimento, o mais ousado de sua história, ajudará a companhia a se posicionar no novo mercado de moda , que tem acelerado sua migração para o mundo digital com a pandemia de covid-19.
Se a aquisição avançar, a Renner conseguirá dar um novo salto, colocando-se de vez entre as maiores empresas do varejo de moda online no país. Na B3, a bolsa paulista, a Renner é avaliada em 36 bilhões de reais, com valorização de 13% em um ano. Por causa do preço estimado da Dafiti, a leitura é de que a transação envolverá, além de dinheiro, ações. A empresa já atua no Brasil, na Argentina, na Colômbia e no Chile. A estimativa é que neste ano a Dafiti registre 4,5 bilhões de reais de volume bruto de mercadoria, ou GMV, que é a métrica utilizada para estimar a receita bruta de um e-commerce.
A Renner não é a primeira empresa a buscar uma operação online de moda para alavancar seu negócio. Em 2019, o Magazine Luiza e a Centauro disputaram a Netshoes, um negócio que enfrentava dificuldades, mas tinha a vantagem de ter forte presença digital. No fim das contas, o Magalu levou a melhor, mas, diante do leilão, teve de pagar quase o dobro do que originalmente havia oferecido.
A Netshoes foi uma importante âncora da diversificação do Magazine Luiza, que fez nada menos de 17 aquisições em menos de 18 meses, comprando negócios que vão desde o site de livros Estante Virtual, passando por fintechs, empresas de logística, de propaganda digital e até de conteúdo.
Agora, a Dafiti pode fazer o mesmo pela Renner: ser o pontapé inicial de uma virada no negócio da varejista de moda, que está buscando uma estratégia de diversificação. Uma fonte do mercado financeiro definiu a questão de forma direta: "A Renner quer ser o Magalu da moda".
Fontes de mercado chegaram a considerar que um dos alvos da Renner poderia ser uma concorrente direta, como C&A ou Marisa — a primeira sofre com o desinteresse de seus sócios holandeses em continuar no Brasil, enquanto a segunda enfrenta cenário difícil há vários anos. No entanto, ir atrás de uma C&A, por exemplo, poderia significar dor de cabeça com órgãos reguladores, como o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). E, ao contrário da Dafiti, a C&A também não traria a camada de diversificação à Renner.
O movimento da Renner para se capitalizar e ganhar musculatura para uma grande aquisição ocorre em um momento de grande agitação do setor de moda do país, com empresas que se saíram melhor na crise sanitária, por terem a vertente digital de seus negócios mais madura, partindo para as compras.
A Arezzo, por exemplo, tenta adquirir a Hering. Outra que tem se movimentado é o Grupo Soma, de marcas como a Animale e Farm, que agora negocia a compra da Shoulder. De maneira geral, a situação do setor é ruim, por causa do fechamento das lojas por causa da pandemia de covid-19 — o que gera oportunidades para os grupos em melhor situação financeira.
A Renner não quis comentar a questão da aquisição da Dafiti. Porém, ao confirmar sua oferta de ações, informou que utilizará os recursos a ser captados para o desenvolvimento e fortalecimento de seu ecossistema de moda com projetos internos e aquisições, além da continuidade na digitalização e no desenvolvimento de omnichannel (uso de vários canais de venda).
O Itaú BBA coordena a oferta juntamente com o BTG Pactual, J.P. Morgan, Morgan Stanley e Santander. Procurada pela reportagem, a Dafiti afirmou que não comenta especulações de mercado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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