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Réis durou 400 anos, mas não foi tão estável quanto o real

A adoção do real em 1994 entrou para a história como uma das maiores substituições de dinheiro já realizada no mundo. Em apenas três meses, o Banco Central recolheu cerca de 3 bilhões de cédulas de cruzeiro real e colocou em circulação 1,5 bilhão de notas de reais, que na época valiam 27 bilhões de […]

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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.

A adoção do real em 1994 entrou para a história como uma das maiores substituições de dinheiro já realizada no mundo. Em apenas três meses, o Banco Central recolheu cerca de 3 bilhões de cédulas de cruzeiro real e colocou em circulação 1,5 bilhão de notas de reais, que na época valiam 27 bilhões de dólares. Cerca de 90% das notas foram fabricadas na Casa da Moeda, no Rio de Janeiro, e o restante impressas no exterior. A mudança custou aos cofres públicos 10 milhões de dólares (quando um real valia um dólar). A escolha do nome real para a nova moeda não foi aleatória. O real tem um simbolismo histórico. Herdado de Portugal e popularmente apelidado de réis, foi a moeda que por mais tempo circulou no Brasil: do descobrimento em 1500 a 1942. Foi substituída pelo cruzeiro na reforma monetária do governo Getúlio Vargas, a primeira a tentar organizar o sistema financeiro nacional.

O real do século XX foi a oitava moeda brasileira em 30 anos e a expectativa do governo era que ele tivesse a mesma resistência que seu homônimo dos tempos coloniais e imperiais. No entanto, apesar de longa, a história do réis não foi marcada pela estabilidade ou pela organização nesse sentido, pode-se dizer que o real dos dias atuais já conseguiu superar seu antecessor. Em diferentes períodos da história, o réis foi corroído pela inflação em Portugal e suas moedas marcadas com novos valores. O hábito de carimbar as moedas começou por volta de 1640, no reinado de D. João IV. O costume foi importado cedo pelos governos locais. A primeira casa da moeda, aberta na Bahia, no século XVI, tinha a específica função de carimbar moedas desvalorizada. Mais tarde, quando a colônia ganhou o direito de emiti-las, chegou a ter três casas da moeda -- no Rio de Janeiro, Salvador e Minas Gerais.

A proliferação desmedida do dinheiro perdurou depois de a família real se instalar no país. As primeiras cédulas foram lançadas em 1810 por outra instituição: o recém criado Banco do Brasil. Até a proclamação da república, em 1889, outros bancos regionais, como o da Bahia e o do Rio Grande do Sul, tiveram autorização para emitir dinheiro. O Tesouro Nacional gozava da mesma prerrogativa, com o diferencial de que não precisava ter lastro em ouro. "Quando o réis foi substituído pelo cruzeiro, estavam em circulação centenas de notas diferentes, emitidas pelas mais diversas instituições", diz Paulo de Oliveira Mello, assessor do Museu de Valores do BC, um dos maiores acervos sobre a história do dinheiro brasileiro.

A mudança nas regras de circulação e emissão ou a completa ausência delas é a principal marca da história do dinheiro no Brasil. Nos primeiros anos após o descobrimento circularam moedas portugueses dos colonizadores e de várias outras nacionalidades trazidas por invasores e piratas. Até o final do século XVII, a maior parte do dinheiro era constituída por moedas espanholas de prata (os reales) do Peru. Outra parcela importante do comércio era realizada pelo escambo (troca de mercadorias). Funcionaram como moeda o pau-brasil, o açúcar, o cacau, o tabaco e até o tecido.

As primeiras moedas nacionais foram cunhadas às pressas em 1645, pelos invasores holandeses. Cercado pelos portugueses em Recife, eles ficaram sem dinheiro para pagar mercenários e comprar armas. Derreteram colares e anéis particulares e recortaram a esmo moedas quadradas. A primeira tentativa de emissão organizada de uma moeda local foi um ensaio monetário em 1695, batizado de Terra de Santa Crvsis. Mas a idéia não deu em nada e essa passagem das finanças brasileiras só entrou para a história porque restaram dois exemplares da experiência. Um está exposto no Banco de Portugal, em Lisboa, o outro, no Itaú Numismática, o museu de moedas Herculano Pires, em São Paulo.

O réis também servia aos caprichos do governantes. D. Pedro I, por exemplo, mandou refazer a moeda que marcou sua coroação em 1822. O imperador achou que sua imagem lembrava muito mais um ditador romano e não o súdito da constituição, como ele preferia ser retratado. Restam 64 moedas erradas que hoje são consideradas relíquias. A nova emissão, com a figura aprovada pelo imperador, chegou às ruas em 1823 depois de consumir as últimas gramas de ouro que na época restavam à linhagem brasileira da família real. Uma passagem melancólica para os cofres de uma estirpe acostumada a opulência das terras brasileiras.

Muito ouro das brasileiro serviu de lastro e de matéria-prima para o dinheiro de Portugal. Os dobrões feitos com ouro extraído de minas locais ao longo do século XVI estão hoje entre as maiores moedas de ouro do mundo. Pesam 54 gramas. As últimas moedas de ouro do Brasil foram cunhadas nos primeiros anos da república. Mais recentemente, no período de inflação, as moedas chegaram a ser feitas com alumínio, um metal barato e descartável. Hoje são produzidas com aço inóx e banhadas em tons cobreados, prateados e dourados para lembrar os metais nobres do extinto réis.

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