Rede J.C. Penney, ex-dona da Renner, pode quebrar com coronavírus
As dificuldades da varejista não são inéditas e a empresa já enfrenta o aumento do comércio eletrônico nos EUA, que levou ao fechamento de milhares de lojas
Karin Salomão
Publicado em 15 de abril de 2020 às 10h51.
Última atualização em 15 de abril de 2020 às 22h33.
A varejista americana J.C. Penney considera pedir falência em meio à pandemia do novo coronavírus. A crise forçou a empresa a fechar 850 lojas de departamento e reconsiderar o seu plano de reestruturação, disseram fontes à Reuters.De acordo com as fontes, a J.C. Penney tem acesso a caixa e a financiamento para passar pelos próximos meses, mesmo com a redução das receitas em decorrência do fechamento das lojas.
Ainda assim considera pedir falência , nos Estados Unidos um recurso jurídico semelhante à recuperação judicial no Brasil. Outras opções incluem ainda pedir mais tempo para pagamento das dívidas e novas fontes de financiamento para proteger a empresa e guardar caixa para passar por esse momento de pandemia.
A empresa de lojas de departamento foi, durante alguns anos, controladora da brasileira Renner. Comprada em 1998, a Renner expandiu sua atuação pelo Brasil. Em 2005, a J.C. Penney vendeu o controle da brasileira por 230 milhões de dólares.
Enquanto a Renner se tornou uma das maiores empresas brasileiras, a americana seguiu o caminho contrário. Pressionada pelo crescimento do comércio eletrônico e mudanças no consumo, em 2018, o valor das ações da empresa caiu para menos de 1 dólar pela primeira vez desde que começou a ser negociada nos Estados Unidos. Ontem as ações da empresa chegaram a cair 2,7%. Desde o início do ano, perderam mais de 70% do seu valor e hoje valem 32 centavos de dólar.
As dificuldades da varejista não são inéditas. De um lado, a empresa já enfrenta há bastante tempo o aumento do comércio eletrônico nos Estados Unidos, protagonizado pela gigante Amazon, que levou ao fechamento de milhares de lojas no país.
Por outro lado, há um problema novo: o coronavírus, que forçou varejistas em todo o mundo a fechar lojas momentaneamente para diminuir o risco de contaminação. Todas as 850 lojas da J.C. Penney nos Estados Unidos e Porto Rico foram fechadas. São mais de 95.000 funcionários.
Em 2019, as vendas da empresa caíram 8%, para 10,7 bilhões de dólares. O prejuízo da empresa no ano foi de 268 milhões de dólares, maior que há um ano, quando a empresa reportou perdas de 255 milhões de dólares.
Em setembro, a J.C. Penney contratou a consultoria AlixParners para buscar novas opções financeiras, segundo a Bloomberg. A empresa se aproxima de 4 bilhões de dólares de dívidas e vê suas receitas encolhendo cada vez mais.
No início desta semana, a agência de classificação de risco Moody's cortou o rating da varejista por prever riscos maiores e dificuldades em continuar com seu plano de reestruturação.
"Embora a liquidez da JC Penney seja adequada, o fechamento generalizado de lojas como resultado da pandemia de coronavírus e a supressão contínua da demanda do consumidor devem pressionar o EBITDA da JC Penney, impedir sua estratégia de recuperação e enfraquecer sua alavancagem para níveis insustentáveis", alerta a agência.
Se a pandemia já afeta empresas que estavam em crescimento, o impacto é muito maior para a J.C. Penney, que já lutava pela sua sobrevivência.