Fábrica da Nissan no Japão: antes do desastre, montadoras se recuperavam da crise (Koji Watanabe/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 25 de março de 2011 às 12h31.
Tóquio - A produção perdida nas duas semanas desde o terremoto e tsunami que atingiram o nordeste do Japão soma cerca de 330 mil veículos e o setor pode levar meses, não semanas, para se recuperar.
Veículos atuais são produzidos com até 30 mil peças, 70 a 80 por cento das quais são fornecidas por centenas de fabricantes. Um único parafuso em falta pode suspender linhas de montagem e criar uma reação em cadeia no famoso processo de manufatura "just in time" adotado pelas empresas.
Com cerca de 500 empresas de autopeças afetadas pelo desastre no nordeste do país, o que cortou a oferta de componentes eletrônicos, produtos de resina e outras peças, a indústria de veículos do Japão está especialmente vulnerável a uma ruptura da cadeia de suprimentos.
"Estamos em um estágio em que somente podemos ter esperança de termos uma melhora incremental", afirmou o analista do setor de veículos do Deutsche Bank, Kurt Sanger, que previu que uma retomada de operações normais deve levar meses para acontecer.
Antes do desastre, a indústria de veículos do Japão, que movimenta 700 bilhões de dólares, estava começando a se recuperar da brutal crise financeira que afetou a indústria mundial de veículos. Fabricantes estavam cortando custos e também ampliando produção no exterior para enfrentarem a valorização do iene.
O terremoto de 11 de março danificou uma fábrica da Renesas Electronics, uma grande fornecedora de unidades automotivas de micro controles. Cerca de um quinto da produção global de automóveis depende dos produtos da fábrica da Renesas em Naka, estima o Deutsche Bank.
Quando o terremoto de 2007 danificou uma fábrica da Riken Corp, maior fornecedora de anéis de pistão do Japão, todas as 12 montadoras de automóveis e caminhões do Japão tiveram de parar por três dias.
No pior cenário, a produção mundial de veículos pode despencar 30 por cento dentro de seis semanas por causa da falta de autopeças provocada pelo terremoto japonês, alerta a empresa de pesquisa IHS Automotive.
"É uma situação completamente sem precedentes", disse o analista Tatsuo Yoshida, do UBS.
As montadoras do Japão ainda estão fabricando veículos no exterior com os estoques de peças que possuem, mas eles podem acabar em breve. A Toyota já alertou esta semana trabalhadores e concessionárias na América do Norte de que a produção pode desacelerar.
No Japão, o setor está praticamente paralisado desde o tremor, e montadoras incluindo Toyota, Nissan Motor e Honda estão tendo que divulgar quase que diariamente alertas sobre seus planos de produção.
"É muito, muito difícil de prever quando vamos poder retomar a produção", disse o porta-voz da Nissan, Toshitake Inoshita.