(Arte/Exame)
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Publicado em 27 de abril de 2021 às 09h00.
Última atualização em 29 de abril de 2022 às 17h57.
Planejar ações estratégicas, gerenciar processos, distribuir os recursos disponíveis, zelar pelo bem-estar da equipe e garantir a produtividade e resultados de alta performance – provavelmente você relacionou essas atribuições a um gestor empresarial, correto? Mas as tarefas aqui se referem a outra atividade profissional: o trabalho doméstico, realizado majoritariamente por mulheres.
Talvez você não tenha parado para pensar, porém, enquanto cuidam da casa, da alimentação, dos filhos ou dos idosos de milhões de famílias brasileiras, as trabalhadoras domésticas desempenham todas essas funções, e com um impacto socioeconômico que vai muito além das residências.
O setor é uma parte significativa da força de trabalho no Brasil. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do último trimestre de 2021 apontam que 5,7 milhões do total de pessoas ocupadas no país atuam no serviço doméstico, movimentando cerca de R$ 5,5 bilhões por mês. Entre as mulheres, é o maior grupamento ocupacional.
Um estudo da economista Hildete Pereira de Melo, da Universidade Federal Fluminense, mostra que, se fossem contabilizadas, as tarefas domésticas corresponderiam a 11% do PIB brasileiro.
Mas não é só isso. À parte dos indicativos numéricos está outro impacto da categoria ainda mais relevante, imensurável: ao gerenciar o lar de outras pessoas, essas profissionais possibilitam que seus empregadores possam trabalhar, sendo assim peça-chave para o funcionamento da economia e da organização social.
“A organização da sociedade começa dentro das residências, com o trabalho doméstico”, diz Luiza Batista. “Ele permite que outras profissões sejam executadas. Na pirâmide da classe trabalhadora, essa atividade, inclusive a não remunerada das donas de casa, organiza a vida da família para que as outras pessoas possam estar no mercado”.
Essa dinâmica integra a chamada economia do cuidado, cujo papel essencial tem sido cada vez mais reconhecido internacionalmente. Na definição da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o campo envolve atividades diárias diretas (como encarregar-se de crianças, idosos ou indivíduos com deficiência) e indiretas (como limpar ou cozinhar).
Graças a um conjunto de transformações em curso – que incluem a transição para uma população mais velha, as mudanças na composição dos domicílios, a maior participação econômica feminina e as redes familiares cada vez menores –, a projeção é que seja crescente a demanda por esses serviços. Considerando apenas as funções diretas, por exemplo, a OIT prevê que 2,3 bilhões de pessoas no mundo vão precisar de cuidados em 2030.
A pandemia tornou ainda mais evidente a relevância desse trabalho: com as famílias fechadas em casa, assumindo todos os afazeres domésticos junto com os compromissos profissionais, revelou-se o peso e a importância das tarefas que sustentam uma residência. Por isso, embora tenha sido um dos principais grupos afetados pela crise, as trabalhadoras domésticas ocupam um lugar crucial na resposta aos danos da pandemia nesta fase de retomada.
Apesar do papel central na estrutura socioeconômica, a profissão infelizmente não tem a mesma visibilidade e valorização que outras ocupações.
“O trabalho doméstico é invisibilizado porque, diferentemente das outras profissões, é pulverizado, está dentro das casas. É algo essencial na base da sociedade, mas é visível apenas quando não está feito. Se uma casa está limpa e organizada, isso é o normal, não chama a atenção de ninguém. Só chama se chegar a uma casa e ela estiver desarrumada”, ressalta Luiza, da Fenatrad.
A outra grande luta da categoria é com relação à informalidade. Mesmo com os avanços legislativos dos últimos anos, com a profissionalização da atividade, a maioria das trabalhadoras ainda atua sem carteira assinada e, portanto, sem respeito a seus direitos trabalhistas, sem proteção social e expostas a condições de vulnerabilidade. Em 2020, só 25% das trabalhadoras do setor eram registradas, de acordo com o Ipea.
A relação, tão próxima e pessoal, entre empregador e trabalhadora também é um ponto crítico, com constantes relatos de abusos e humilhação. Uma pesquisa encomendada pela marca Veja® e realizada pelo Plano CDE, empresa de pesquisa e avaliação de impacto especializada nas famílias das classes C, D e E no Brasil, mostra que mais de 70% das trabalhadoras domésticas se sentem inferiorizadas no local de trabalho.
Para reverter esse quadro, a informação tem sido a principal ferramenta – tanto para empoderar as trabalhadoras domésticas com relação a seus direitos quanto para a sociedade perceber o valor dessas profissionais.
Veja®, marca de produtos de limpeza da Reckitt Hygiene Comercial, que possui um programa para valorização da profissão, está lançando o movimento #VejaMeuTrabalho, em celebração ao Dia da Trabalhadora Doméstica, comemorado neste 27 de abril. O objetivo da campanha é dar visibilidade e protagonismo a essas mulheres em ambientes onde nunca puderam estar.
A marca possui o Veja com o Coração, programa que busca dar visibilidade ao problema social enfrentado pelas trabalhadoras, bem como contribuir com a conscientização da sociedade sobre a importância e os desafios da categoria e promover qualificação socioprofissional, e conta com a parceria da Themis e da Fenatrad. No último ano, mais de 1,7 mil trabalhadoras domésticas foram diretamente beneficiadas, entre doações de vale-alimentação, créditos no celular para acessibilidade digital e formações sócio-profissionalizantes.
Iniciativas como essas se somam aos esforços das entidades ligadas à categoria para que as conquistas dos últimos anos não se percam – ao contrário, se ampliem e ganhem eco para além dos lares brasileiros. Afinal, expor e debater o tema do trabalho doméstico é dar espaço, luz e voz a essas mulheres que buscam apenas o merecido reconhecimento e o respeito a seus direitos.