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Queiróz e Ticle: “O Minerva será um gerador de dividendos”

Principais executivos do endividado frigorífico falam sobre aumento de capital e expectativas do IPO da subsidiária Athena Foods no Chile

Minerva: Fernando Queiróz e Edison Ticle, presidente e diretor financeiro da empresa, respectivamente, falam sobre os planos para diminuir o endividamento da companhia

Minerva: Fernando Queiróz e Edison Ticle, presidente e diretor financeiro da empresa, respectivamente, falam sobre os planos para diminuir o endividamento da companhia

AJ

André Jankavski

Publicado em 28 de setembro de 2018 às 10h58.

Última atualização em 28 de setembro de 2018 às 16h40.

Os últimos doze meses foram bem diferentes para o frigorífico Minerva, conhecido por ter as finanças sob controle. Mas o cenário mudou. O Minerva viu sua alavancagem praticamente dobrar de tamanho e seu patrimônio líquido ficar negativo. Hoje, o índice de alavancagem, medido pela relação entre a dívida líquida e o Ebitda (lucro antes de impostos e amortizações), está em cinco vezes – valor considerado muito alto pelo mercado.

A saída anunciada pela companhia foi um aumento de capital na B3 e a abertura de capital de sua subsidiária, Athena Foods, no Chile, marcado para o ano que vem. Em entrevista a EXAME, Fernando Queiróz e Edison Ticle, presidente e diretor financeiro da empresa, respectivamente, falam sobre os planos para diminuir o endividamento e sobre o futuro da companhia, que faturou 14 bilhões de reais no ano passado

O que aconteceu com o Minerva para chegar a esse nível de endividamento? Por que as finanças saíram de ordem?

Fernando Queiróz: As finanças ainda estão ordem. Dividimos com o mercado, há mais de cinco anos, a nossa estratégia de diversificação na América do Sul. Começamos fazendo a diversificação dentro dos estados brasileiros e, em 2012, decidimos expandir para a América do Sul. O continente tem vantagens competitivas que são imbatíveis e já está ocupando o espaço no mercado internacional. No ano passado, nós tivemos a oportunidade de consolidar essa fase do plano de negócios com as compras dos ativos da JBS na Argentina, no Paraguai e no Uruguai. Dessa maneira, consolidamos a nossa posição de líder no Paraguai e na Argentina, além do segundo lugar no Uruguai. O que era esperado que acontecesse em cinco anos, se realizou em um. Isso, obviamente, fez com que nós elevássemos o nosso endividamento para pagar os ativos.

A alavancagem dobrou em dois anos. Não passou do ponto?

Edison Ticle: Houve dois fatores que não estavam nos planos. O primeiro deles foi o aumento do câmbio. Na época das aquisições, o dólar estava em 3,40 reais. Agora, com o câmbio mais alto, tivemos um descasamento entre o financeiro e o operacional. Estimamos que leve três trimestres para o impacto financeiro seja totalmente compensado pelas melhorias das margens e do caixa na operação, já que somos uma empresa essencialmente exportadora.

Qual foi o outro fator?

Edison Ticle: Tivemos problema com o capital de giro das operações que adquirimos. Compramos ativos que estavam funcionando abaixo do nível que era recomendado para a utilização de capacidade. Com isso, tínhamos um desafio de melhorar a eficiência e a rentabilidade das operações. Então, resolvemos investir no capital de giro. O investimento foi em torno de 400 milhões de reais no último trimestre do ano passado. Esse crescimento na alavancagem trouxe um desbalanceamento da estrutura de capital, que seria corrigido pela geração de caixa das operações. Mas decidimos antecipar a diminuição da dívida com o aumento de capital e a abertura de capital da Athena Foods.

As operações que vieram da JBS estavam ineficientes?

Fernando Queiróz: Não dá para fazer juízo de valor. O que dá para dizer é que os ativos representavam menos de 2% do faturamento da JBS. Ou seja, a empresa não teria o mesmo cuidado com esses negócios em comparação com outros que representavam 30%, por exemplo. Com isso, surgem oportunidades de melhorias. Para nós, os ativos se tornaram bastante relevantes. Na época da aquisição, representavam cerca de 35% do nosso faturamento e 40% da operação. Como era algo bem relevante, decidimos nos debruçar efetivamente sobre a operação. Com isso, mudamos algo de gestão. Na Argentina, por exemplo, em vez de ter uma só empresa dividimos em duas: uma com o foco em industrializados e na marca e outra em commodities. Resolvemos aumentar a utilização de capacidade em todas as regiões para diluir mais custos e extrair mais eficiências. Os resultados estão aparecendo nas margens.

E por que optaram pelas operações financeiras para diminuir a alavancagem se os ativos trariam melhores resultados no futuro?

Edison Ticle: Com a companhia mais alavancada, uma parte grande da geração de caixa ficaria para servir a dívida e os credores. Se quiséssemos gerar dividendos, precisaríamos de um processo mais rápido. A desvalorização cambial também trouxe um prejuízo grande em nosso patrimônio líquido, de 1 bilhão de reais. Ao observar o panorama e a situação de balanço da companhia, resolvemos propor aos acionistas controladores e para o conselho de administração um plano de melhoria de estrutura de capital.

Quanto vocês pretendem arrecadar com as duas operações?

Edison Ticle: No total, estimamos que pode chegar a 2,5 bilhões de reais. O aumento de capital privado prevê uma operação de aproximadamente 1 bilhão de reais e que será realizada a preço de mercado. E para incentivar os nossos acionistas atuais a comparecerem, estamos dando uma opção exercível em até três anos, no mesmo preço do aumento de capital atual. Isso passa a ser bastante atrativo para os acionistas que acreditam que a empresa está barata e que as ações vão subir no futuro. Esse é o nosso caso e dos outros controladores. O aumento de capital resolve o nosso problema de patrimônio líquido negativo. Além disso, na perspectiva de doze a dezoito meses, traremos a alavancagem para níveis de antes da compra dos ativos da JBS. Já o IPO pode arrecadar até 1,5 bilhão de reais.

Qual é a intenção de abrir o capital da Athena Foods? E por que escolheram o Chile?

Edison Ticle: A operação do IPO tem dois objetivos principais. O primeiro e primordial é destravar valor. Hoje, nós temos uma operação internacional que representa 45% do nosso faturamento. Por isso, acreditamos que ela pode ser mais bem valorizada pelo mercado na forma de um veículo separado. O outro objetivo é diminuir a alavancagem. A nossa escolha pelo Chile é pela importância do mercado para nós. O país é o único com grau de investimento na América do Sul. É uma nação com uma poupança de longo prazo relevante e uma população que investe em renda variável, por isso achamos um mercado mais adequado. Estimamos que o IPO pode acontecer em abril.

Alguns analistas estão em dúvida a respeito do destino desse dinheiro. O Minerva vai levantar esse dinheiro para diminuir a alavancagem ou também irá atrás de outros ativos?

Fernando Queiróz: Esse é o grande erro dos analistas. Eles não estão acreditando que todo o dinheiro levantado vai ser para pagar dívida. Tanto da emissão secundária quanto do aumento de capital. A companhia vem em um processo de crescimento muito acelerado. Em 2009, o Minerva tinha 2 bilhões de reais de faturamento. No nosso guidance deste ano, vai para 16 bilhões de reais. É difícil encontrar empresas que cresceram oito vezes no Brasil nesse período. Então, o processo de crescimento já aconteceu. Vamos entrar em uma nova fase em que a Minerva quer ter uma estrutura de capital mais equilibrada para podermos retornar dinheiro aos acionistas. Pelo menos 2 bilhões de reais vão para o pagamento de dívidas

Houve especulações que o fundo árabe Salic compraria a totalidade na empresa. Essa possibilidade chegou à mesa de vocês?

Fernando Queiróz: Foi um boato que saiu e que negamos oficialmente. Não tem nada em discussão. Até porque tem a pílula do veneno (regra do estatuto social que limita um teto máximo de participação para os acionistas), que não permitiria ao Salic comprar o controle, a não ser que fizesse uma oferta pública.

Mas foi levantado que eles fariam uma Oferta Pública de Ações (OPA). E a pílula de veneno será alterada.

Edison Ticle: A VDQ (holding ligada à família Vilela de Queiroz) tem um acordo com a Salic que vence em 2026 e que está sendo estendido até 2031. Isso garante à VDQ, caso ela mantenha no mínimo 20% do capital da empresa, a prerrogativa de indicar cinco conselheiros e o presidente do conselho da administração em dez, no total. Com isso, a VDQ controla a companhia. Por isso, independentemente de a Salic ir para 33% na pílula do veneno (o limite anterior era 20%), o controle está assegurado com a VDQ. Pelo menos, até 2031.

A VDQ pode ser diluída nessa nova formação?

Edison Ticle: Nenhuma das duas serão diluídas. A Salic pode crescer com a alteração da pílula de veneno. Mas se a VDQ subscrever, também vai aumentar a participação. E sabemos que cada um vai subscrever as suas parcelas. Acreditamos que os outros acionistas vão acompanhar. Se isso não acontecer, teremos as sobras que serão oferecidas para todos que subscreveram. Com isso, cada um tomará uma decisão individual. No mínimo, Salic e VDQ terão o mesmo tamanho que são hoje.

Quais serão os próximos passos depois do IPO e do aumento de capital?

Fernando Queiróz: A empresa veio de uma estratégia de crescimento, mas já atingimos a meta. O nosso foco é transformar o Minerva em um gerador de dividendos para os acionistas. Por isso, vamos manter o foco na expansão orgânica. Vamos atrás de mais margem e de mais eficiência e de abrir novos mercados para a exportação via América do Sul.

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