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Quais serão as apostas das empresas em 2018, segundo analista

Em entrevista, analista da Bloomberg fala sobre os desafios e a recuperação das empresas em 2017 e o que esperar de 2018

Empreendedor olhando para o futuro (Foto/Thinkstock)

Empreendedor olhando para o futuro (Foto/Thinkstock)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 13 de dezembro de 2017 às 06h00.

Última atualização em 13 de dezembro de 2017 às 06h00.

São Paulo – As varejistas foram as grandes ganhadoras deste ano. Elas arrumaram a casa, fizeram as reformas necessárias para sair da crise e já veem resultados positivos.

O grupo foi o que mais viu suas ações e receitas subirem, afirma Julie Chariell, analista sênior da Bloomberg Intelligence para produtos de consumo. Segundo ela, as fabricantes de produtos de consumo também começaram a se recuperar, mas não com tanta força quanto empresas do varejo.

De acordo com o último relatório publicada por ela, em conjunto com Carlo Villasenor, analista associado de Business Inteligence, "as ações das empresas brasileiras de produtos de consumo aumentaram 19% no acumulado do ano, mas ainda oferecem oportunidades."

Chariell cobre, para a Bloomberg, o setor de consumo da América Latina, tanto empresas fabricantes quanto varejistas. Ela é analista para 17 companhias, metade do Brasil e a outra metade do México e Chile.

Ela conversou com EXAME.com sobre as empresas que se destacaram em 2017, que foram principalmente as varejistas, as dificuldades macroeconômicas que elas sofreram e o que esperar para 2018.

Confira a entrevista abaixo.

Site EXAME - Como foi 2017 para as empresas do setor de consumo?

Julie Chariell - No Brasil, em geral foi um bom ano. As ações estão subindo, porque os investidores estão prevendo a retomada da economia. As empresas também dão sinais de crescimento.

A inflação diminuiu bastante, o que não é tão fácil para as fabricantes, mas é bom para os consumidores. As taxas de juros também baixaram, o que ajuda varejistas a oferecerem produtos mais acessíveis. Desemprego ainda é, provavelmente, o maior problema, mas já começou a cair.

O governo aprovou a reforma trabalhista, que pode ajudar empresas, principalmente varejistas, a ter jornadas mais flexíveis. Agora estamos de olho na reforma da previdência.

Site EXAME - Quais foram as empresas que mais se destacaram esse ano? E quais foram as que passaram pelos maiores desafios?

Julie Chariell - Quando pensamos em quem são os perdedores e ganhadores do ano, os perdedores aparecem de maneira mais óbvia. JBS, por exemplo, teve problemas claros.

Quando se dos ganhadores, no setor que cubro, as varejistas foram as empresas de maior destaque. Algumas das varejistas, que não dependem tanto da flutuação da inflação, se beneficiaram do retorno do consumidor, que voltou a gastar.

Já empresas como o Atacadão, do Carrefour, e o Grupo Pão de Açúcar batalharam mais este ano. O volume de vendas foi consistente, apesar de preços e receitas afetados pela inflação, e elas conquistaram o consumidor no formato cash and carry, ou atacarejo, com preços muito competitivos.

Se você olhar para o ano que vem, o consumidor provavelmente estará mais forte, as taxas de desemprego devem ser menores, assim como a inflação. As empresas devem ter um 2018 bem melhor.

Site EXAME - Entre as empresas que cobre, quais foram seus principais desafios e mudanças em 2017?

Julie Chariell - A Ambev, por exemplo, perdeu receitas, já que o consumidor migrou para marcas mais baratas, de outras empresas ou do próprio portfólio. A acreditamos que, com a melhora do poder de compra do consumidor, ele irá voltar para as marcas líderes.

Já a Hypermarcas teve uma história muito interessante este ano. Decidiu focar no mercado farmacêutico, que é mais atrativo em termos de preço e demograficamente, com o envelhecimento da população. Assim, vendeu algumas marcas (Em 2016, ela vendeu seu negócio de fraldas para a belga Ontex por 1 bilhão de reais, sua área de preservativos para a Reckitt Benckiser por 675 milhões de reais e, em 2015, seu negócio de fabricação e comercialização de cosméticos por 3,8 bilhões de reais, para a Coty).

Ela também investiu bastante em inovação, o que dá a ela uma boa base de crescimento para o ano que vem.

A Natura tem batalhado bastante com seu modelo de venda, mas já começa a sair de sua recessão. Reestruturaram o modelo de vendas diretas e acrescentaram outros, como a loja própria. Também compraram a Body Shop, o que foi uma estratégia agressiva e acertada. De uma hora para a outra, a Natura é uma empresa internacional, com dezenas de lojas e presença em e-commerce. Ao mesmo tempo, também há muito trabalho para ser feito, para conseguir margens.

A Natura e a Hypermarcas estão entre as ações mais fortes de 2017 na América Latina, crescendo 27% e 24% para liderar o setor de produtos de consumo e superar o índice Ibovespa do Brasil, que ganhou 19% neste ano.

As ações da Ambev aumentaram 27% em antecipação a uma recuperação da economia brasileira.

As empresas sofreram esse ano, investiram e se reestruturaram, para estarem prontas para o ano que vem, mais bem posicionadas.

Site EXAME - Em algumas empresas, como é o caso do Grupo Pão de Açúcar, vimos a integração das vendas online e off-line, uma tendência de buscar ser omnichannel. A Natura também abriu lojas pela primeira vez em abril de 2016. Isso é só uma tendência ou é um movimento inevitável para todo o mercado?

Julie Chariell - Acredito que é o próximo passo lógico no varejo. A questão do omnichannel irá definir o futuro do varejo e as empresas que fizerem isso mais cedo estarão melhor posicionadas.

No entanto, isso irá acontecer no Brasil de uma maneira diferente do que acontece hoje nos Estados Unidos e Europa.

Nessas regiões, o mercado viu a chegada de players puros, que atuam apenas no online, que dominaram o mercado. Foi muito doloroso, e continua sendo, porque os varejistas tradicionais ainda estão se esforçando para encontrar um lugar.

Já aqui, a história é outra. As empresas, que já tinham lojas físicas, estão embarcando no comércio eletrônico. Elas estão em posição melhor, já que não existe um único concorrente que domina o mercado.

Há muitas coisas positivas em ter lojas físicas ao entrar no mercado online. A presença física contribui com a logística, distribuição, meios de pagamento, entrega na casa das pessoas ou retirada em loja.

As empresas aqui estão mais seguras. Se elas fizerem os investimentos certos, elas não sentirão as dificuldades que empresas em outros países sentiram.

Site EXAME - Em que aspectos o mercado brasileiro está atrás de outros? E em que aspectos está à frente desses mercados, como México e Chile?

Julie Chariell - Quando comparamos as empresas de produtos de consumo, não acredito que as brasileiras estão atrás, de maneira alguma. Pelo contrário, quando se fala de comércio eletrônico o Brasil está inclusive à frente de países como o México.

A diferença é que o México tem a chance de crescer ainda mais rapidamente. Em primeiro lugar, por ter uma base menor. Eles também estão investindo muito e têm um modelo de distribuição melhor, com mais empresas grandes de logística, como Fedex e UPS. Outra questão é que o país está mais próximo dos Estados Unidos, então é mais fácil de receber produtos e oferecê-los aos consumidores.

O México também tem uma população mais jovem e com uma tendência forte de urbanização e aumento da classe média, por isso a taxa de crescimento das empresas também tende a ser maior. O Brasil já é um país mais maduro, com população se estabilizando.

Site EXAME - Quais são as tendências que devemos prestar atenção? No que devemos ficar de olho em 2018?

Julie Chariell - As grandes empresas de consumo foram bem em 2017, mas não tão bem assim, então ainda há oportunidades de crescimento. Ambev e Natura, por exemplo, ainda têm chances de melhorar receitas e valorizar suas ações.

Outro fator importante para prestar atenção são as empresas de comércio eletrônico, tanto as que atuam puramente na internet quanto as que também têm lojas físicas. Mercado Livre e B2W, por exemplo, estão mostrando bons resultados, com melhoria de seus serviços e crescimento na adoção desse modelo de vendas.

As empresas tradicionais, grandes, estão com ótimas ações no e-commerce, como o Magazine Luiza e o Grupo Pão de Açúcar, com formatos de clique e retire, programas de fidelidade e compras pelo aplicativo.

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