Problemaem caldeira reduz eficiência de térmica de R$1,5 bi
Desde a entrada em operação comercial a usina Candiota III tem tido uma performance muito abaixo do esperado
Da Redação
Publicado em 15 de abril de 2014 às 14h44.
São Paulo - Problemas na caldeira da termelétrica Candiota III, usina da Eletrobras e uma das mais modernas instalações a carvão do país, têm prejudicado a continuidade da geração de energia da usina. Os problemas têm levantado dúvidas sobre confiabilidade do empreendimento em momento em que o Brasil precisa de térmicas para compensar o baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas.
Desde a entrada em operação comercial, há cerca de 39 meses, a usina Candiota III, situada no Rio Grande do Sul, com 350 megawatts (MW) de potência e operada pela subsidiária da Eletrobras CGTEE, tem tido uma performance muito abaixo do esperado para um empreendimento novo desse tipo.
A usina, que consumiu 1,5 bilhão de reais para ser erguida, tem operado em média com 58 por cento de sua capacidade, segundo o engenheiro coordenador da Unidade de Gerenciamento do Projeto da CGTEE, Hermes Ceratti Marques. Segundo ele, o fator de capacidade esperado para a usina era de cerca de 85 por cento.
"Estamos com um problema localizado na caldeira. A caldeira tem sofrido, em algumas regiões, um desgaste acentuado, o que tem feito com que haja interrupções na geraçãO", disse Marques, ao acrescentar que alguns problemas foram reparados e solucionados, mas novos desgastes surgiram.
Segundo diagnóstico da CGTEE, uma subsidiária da Eletrobras, os problemas surgiram por causa da excessiva abrasividade da cinza resultante da queima de carvão brasileiro usado como combustível. Segundo Marques, a empresa chinesa que projetou o equipamento, Citic International Contracting, não teria considerado devidamente essa característica específica do carvão nacional ao conceber o projeto.
Representantes da Citic não puderam ser contatados para comentar o assunto.
Marques disse que a Eletrobras tentou resolver a questão com a empresa chinesa responsável pelo projeto, que faz parte do grupo da estatal chinesa CITIC Group , mas como não houve uma solução definitiva, a companhia brasileira decidiu abrir processo de arbitragem na Câmara de Comércio de Estocolmo.
O diretor-financeiro da Eletrobras, Armando Casado de Araújo, já havia mencionado no início do mês, em reunião com analistas em São Paulo, que a térmica Candiota III passava por problemas que motivariam o processo de arbitragem.
Atualmente, a CGTEE tem um processo aberto na justiça brasileira que visa produzir provas antecipadas para o processo de arbitragem, segundo Marques. A expectativa, segundo ele, é que o início da perícia seja iniciado em breve, para produção de um laudo técnico que será levado ao fórum de arbitragem internacional.
Menor disponibilidade
Além de deixar de contribuir plenamente para o abastecimento de energia do sistema elétrico brasileiro, os problemas em Candiota III também afetam financeiramente a Eletrobras, já que a CGTEE tem comprado energia no curto prazo para honrar contratos, compensando a energia que Candiota III não está produzindo.
"Hoje, nosso contrato de venda dessa energia tem uma tarifa média de 175 reais por megawatt-hora (MWh). Como o preço do mercado spot (de curto prazo) está nas alturas, tudo aquilo que não conseguimos atender, nós somos penalizados", disse Marques.
O preço de energia de curto prazo (Preço de Liquidação de Diferenças - PLD) para as regiões Sul e Sudeste/Centro-Oeste está atualmente em 822,83 reais por MWh e é esse valor que a CGTEE paga ao adquirir energia para honrar o que não consegue entregar. A usina tem 292 MW médios de energia contratada.
Localizada no município de Candiota (RS), a usina é um dos projetos incluídos em memorando de entendimentos firmado em 2004 entre a Eletrobras e a estatal chinesa CITIC Group para desenvolver estudos conjuntos para construção de projetos de geração e transmissão de energia elétrica.
A Citic International Contracting foi responsável pela engenharia, suprimento de equipamentos e componentes, construção integral da obra e entrega em condições de operação comercial, segundo informações da CGTEE.
Marques disse que a expectativa é de que até meados de junho a CGTEE esteja em condição de iniciar o processo de arbitragem internacional, para que os problemas na usina sejam resolvidos definitivamente até o fim do ano. Ele não soube precisar o valor de ressarcimento que será pedido pela Eletrobras. Representantes da estatal brasileira não comentaram o assunto.
Apesar dos problemas que levaram Candiota III a parar em vários momentos, ela tem gerado energia nos últimos dias, segundo informativos de operações do Operador Nacional do Sistema elétrico (ONS). A usina tem um dos menores custos variáveis de operação entre as térmicas do país, de cerca de 60,92 reais por megawatt-hora (MWh), afirma o ONS.
Outras térmicas
Além de Candiota II, outras termelétricas do país enfrentam desafios para manter geração térmica plena.
A termelétrica Uruguaiana, do grupo AES Brasil, tem recebido autorizações temporárias para operar, já que não tem garantia de suprimento de gás natural no longo prazo. A usina, localizada também no Rio Grande do Sul, depende de gás natural que tem que passar pela Argentina.
Como não consegue suprimento de gás argentino, cargas de gás natural liquefeito (GNL) têm sido importadas do exterior pela Petrobras para abastecer a usina. Esse gás é injetado em dutos argentinos até chegar na usina.
A última autorização para que Uruguaiana reiniciasse a operação ocorreu em fevereiro e usina deveria operar a partir de março, com uma carga de GNL que duraria cerca de 60 dias. Mas a usina está sem operar desde 7 de abril, segundo dados do ONS.
A AES Uruguaiana informou que a operação da usina já utilizou toda a primeira carga de gás disponibilizada para a empresa. "A térmica retomará seu funcionamento assim que a segunda carga de combustível estiver disponível", disse a empresa em nota. A térmica Uruguaiana tem 640 MW de capacidade instalada mas estava autorizada a gerar cerca de 250 MW médios.
A expectativa é que a nova carga de gás natural, já autorizada pelo governo federal, esteja disponível para a usina "em breve". Mas a chegada do combustível também depende de disponibilidade em terminal de regaseificação e dos dutos que trazem o combustível da Argentina para Uruguaiana.
Outra termelétrica que depende de gás natural para continuar operando é a Mário Covas, no Mato Grosso. Também chamada de UTE Cuiabá, a usina pertence à Petrobras e está fora de operação desde a manhã de 28 de março, devido ao término do contrato de fornecimento de gás natural de curto prazo assinado com a boliviana YPFB.
"Um novo contrato está em negociação e, logo que o mesmo seja finalizado, a UTE estará disponível para operação", informou a assessoria de imprensa da Petrobras.
São Paulo - Problemas na caldeira da termelétrica Candiota III, usina da Eletrobras e uma das mais modernas instalações a carvão do país, têm prejudicado a continuidade da geração de energia da usina. Os problemas têm levantado dúvidas sobre confiabilidade do empreendimento em momento em que o Brasil precisa de térmicas para compensar o baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas.
Desde a entrada em operação comercial, há cerca de 39 meses, a usina Candiota III, situada no Rio Grande do Sul, com 350 megawatts (MW) de potência e operada pela subsidiária da Eletrobras CGTEE, tem tido uma performance muito abaixo do esperado para um empreendimento novo desse tipo.
A usina, que consumiu 1,5 bilhão de reais para ser erguida, tem operado em média com 58 por cento de sua capacidade, segundo o engenheiro coordenador da Unidade de Gerenciamento do Projeto da CGTEE, Hermes Ceratti Marques. Segundo ele, o fator de capacidade esperado para a usina era de cerca de 85 por cento.
"Estamos com um problema localizado na caldeira. A caldeira tem sofrido, em algumas regiões, um desgaste acentuado, o que tem feito com que haja interrupções na geraçãO", disse Marques, ao acrescentar que alguns problemas foram reparados e solucionados, mas novos desgastes surgiram.
Segundo diagnóstico da CGTEE, uma subsidiária da Eletrobras, os problemas surgiram por causa da excessiva abrasividade da cinza resultante da queima de carvão brasileiro usado como combustível. Segundo Marques, a empresa chinesa que projetou o equipamento, Citic International Contracting, não teria considerado devidamente essa característica específica do carvão nacional ao conceber o projeto.
Representantes da Citic não puderam ser contatados para comentar o assunto.
Marques disse que a Eletrobras tentou resolver a questão com a empresa chinesa responsável pelo projeto, que faz parte do grupo da estatal chinesa CITIC Group , mas como não houve uma solução definitiva, a companhia brasileira decidiu abrir processo de arbitragem na Câmara de Comércio de Estocolmo.
O diretor-financeiro da Eletrobras, Armando Casado de Araújo, já havia mencionado no início do mês, em reunião com analistas em São Paulo, que a térmica Candiota III passava por problemas que motivariam o processo de arbitragem.
Atualmente, a CGTEE tem um processo aberto na justiça brasileira que visa produzir provas antecipadas para o processo de arbitragem, segundo Marques. A expectativa, segundo ele, é que o início da perícia seja iniciado em breve, para produção de um laudo técnico que será levado ao fórum de arbitragem internacional.
Menor disponibilidade
Além de deixar de contribuir plenamente para o abastecimento de energia do sistema elétrico brasileiro, os problemas em Candiota III também afetam financeiramente a Eletrobras, já que a CGTEE tem comprado energia no curto prazo para honrar contratos, compensando a energia que Candiota III não está produzindo.
"Hoje, nosso contrato de venda dessa energia tem uma tarifa média de 175 reais por megawatt-hora (MWh). Como o preço do mercado spot (de curto prazo) está nas alturas, tudo aquilo que não conseguimos atender, nós somos penalizados", disse Marques.
O preço de energia de curto prazo (Preço de Liquidação de Diferenças - PLD) para as regiões Sul e Sudeste/Centro-Oeste está atualmente em 822,83 reais por MWh e é esse valor que a CGTEE paga ao adquirir energia para honrar o que não consegue entregar. A usina tem 292 MW médios de energia contratada.
Localizada no município de Candiota (RS), a usina é um dos projetos incluídos em memorando de entendimentos firmado em 2004 entre a Eletrobras e a estatal chinesa CITIC Group para desenvolver estudos conjuntos para construção de projetos de geração e transmissão de energia elétrica.
A Citic International Contracting foi responsável pela engenharia, suprimento de equipamentos e componentes, construção integral da obra e entrega em condições de operação comercial, segundo informações da CGTEE.
Marques disse que a expectativa é de que até meados de junho a CGTEE esteja em condição de iniciar o processo de arbitragem internacional, para que os problemas na usina sejam resolvidos definitivamente até o fim do ano. Ele não soube precisar o valor de ressarcimento que será pedido pela Eletrobras. Representantes da estatal brasileira não comentaram o assunto.
Apesar dos problemas que levaram Candiota III a parar em vários momentos, ela tem gerado energia nos últimos dias, segundo informativos de operações do Operador Nacional do Sistema elétrico (ONS). A usina tem um dos menores custos variáveis de operação entre as térmicas do país, de cerca de 60,92 reais por megawatt-hora (MWh), afirma o ONS.
Outras térmicas
Além de Candiota II, outras termelétricas do país enfrentam desafios para manter geração térmica plena.
A termelétrica Uruguaiana, do grupo AES Brasil, tem recebido autorizações temporárias para operar, já que não tem garantia de suprimento de gás natural no longo prazo. A usina, localizada também no Rio Grande do Sul, depende de gás natural que tem que passar pela Argentina.
Como não consegue suprimento de gás argentino, cargas de gás natural liquefeito (GNL) têm sido importadas do exterior pela Petrobras para abastecer a usina. Esse gás é injetado em dutos argentinos até chegar na usina.
A última autorização para que Uruguaiana reiniciasse a operação ocorreu em fevereiro e usina deveria operar a partir de março, com uma carga de GNL que duraria cerca de 60 dias. Mas a usina está sem operar desde 7 de abril, segundo dados do ONS.
A AES Uruguaiana informou que a operação da usina já utilizou toda a primeira carga de gás disponibilizada para a empresa. "A térmica retomará seu funcionamento assim que a segunda carga de combustível estiver disponível", disse a empresa em nota. A térmica Uruguaiana tem 640 MW de capacidade instalada mas estava autorizada a gerar cerca de 250 MW médios.
A expectativa é que a nova carga de gás natural, já autorizada pelo governo federal, esteja disponível para a usina "em breve". Mas a chegada do combustível também depende de disponibilidade em terminal de regaseificação e dos dutos que trazem o combustível da Argentina para Uruguaiana.
Outra termelétrica que depende de gás natural para continuar operando é a Mário Covas, no Mato Grosso. Também chamada de UTE Cuiabá, a usina pertence à Petrobras e está fora de operação desde a manhã de 28 de março, devido ao término do contrato de fornecimento de gás natural de curto prazo assinado com a boliviana YPFB.
"Um novo contrato está em negociação e, logo que o mesmo seja finalizado, a UTE estará disponível para operação", informou a assessoria de imprensa da Petrobras.