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Da Redação
Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.
Quatro dias depois da saída de Daniel Mandelli da presidência da TAM, foi a vez de a Varig fazer mudanças em seu comando. Nesta segunda-feira (18/8), o conselho de administração da companhia anunciou a substituição do presidente Roberto Macedo, que assumira em abril, por um comitê formado por três executivos. Até o desfecho da aguardada fusão com a TAM - se tudo correr como o previsto - a Varig será dirigida por Carlos Luiz Martins Pereira e Souza (vice-presidente executivo e operacional), Alberto Fajerman (vice-presidente comercial) e Luiz Fernando Wellisch (vice-presidente financeiro).
A nova estrutura tornará a empresa mais ágil, flexível, dinâmica e em consonância com o controlador, a Fundação Ruben Berta , diz Joaquim dos Santos, presidente do conselho de administração da Varig, sem esclarecer se vinham acontecendo desentendimentos entre Roberto Macedo e a Fundação Rubem Berta, controladora da companhia aérea. Acreditamos que a nova diretoria vigorará por um período curto que acompanhará as discussões para uma nova companhia aérea, mais sadia , disse.
Segundo Santos, o modelo do comitê executivo vinha sendo discutido desde meados de 2002, quando a consultoria Spencer Stuart, especializada em desenvolvimento organizacional, sugeriu mudanças na empresa. Algumas medidas do relatório já vinham sendo implantadas , disse Santos. Ele lembrou que em 1994 a empresa também foi gerida por um comitê, montado para acompanhar uma reestruturação - que foi, segundo ele, bem-sucedida e levou a um acordo com os credores.
Embora tenha destacado que toda a empresa esteja voltada para a fusão com a TAM, Santos ressaltou que não está descartado um plano B, caso a união não aconteça. Há muitos fatores de risco para o sucesso desse projeto e não podemos deixar de ter um plano B para não sermos pegos de surpresa , disse ele, sem revelar detalhes desse plano. Como exemplos de fatores de risco, ele citou eventuais ações contrárias à fusão no Ministério Público e interferências junto a agentes financeiros, como o plano da Apvar (Associação dos Pilotos da Varig) para resolver a crise financeira da empresa, que foi classificado como fantasioso por Santos.
O novo comitê executivo assume com uma tarefa delicada pela frente. A associação é complexa e cheia de detalhes, pois envolve empresas com culturas bem diferentes , diz Luiz Martins, ex-diretor de operações de vôo da Varig e presidente do conselho curador da Fundação Rubem Berta, que será o coordenador do comitê. Entre os principais desafios da fusão, ele destacou a discussão do uso da marca, da proporcionalidade dos ajustes dos quadros de pessoal, a frota e a revisão dos acordos bilaterais com os países de destino dos vôos. Segundo ele, na nova companhia não haverá supremacia da Varig ou da TAM. Os agentes que terão maioria do controle serão outros e ainda não entraram nas negociações , disse ele, em alusão aos credores.
Outro desafio do novo comando da Varig é administrar suas contas até a fusão. A empresa fatura entre 130 e 140 milhões de dólares por mês e gasta o mesmo valor, ficando com alguns pagamentos inadimplentes , disse Luiz Fernando Wellisch, que ocupava a diretoria financeira da companhia e foi secretário da Fazenda Nacional. Segundo ele, o último levantamento da dívida da empresa, feito há cerca de um mês e meio, apontou um passivo de 1,4 bilhão de dólares. Neste mês, a Varig pagará uma parcela de 20 milhões de dólares de sua dívida com o Banco do Brasil, um de seus principais credores.
Segundo o vice-presidente comercial, Alberto Fajerman, ex-vice-presidente executivo da companhia, recentemente começaram a aparecer os resultados da integração da Varig com a Rio Sul e a Nordeste e da operação de code-share (compartilhamento de vôos) com a TAM, iniciada em março. Estamos colhendo os resultados e posso dizer que nosso desempenho é suficientemente bom , disse Fajerman. (Santos declarou que os relatórios trimestrais de março e junho serão entregues em breve à Comissão de Valores Mobiliários.)
Sobre a fusão, Fajerman disse que, por si só, ela não geraria cortes de pessoal. O que reduz o número de funcionários é a queda do mercado , disse. Acreditamos numa sobra de empregados da Varig e da TAM causada pela retração do transporte aéreo no país. Segundo ele, a atual sobra de pessoal na Varig é de cerca de 2 500 funcionários.
TAM
Os empregados da TAM não temem pela fusão das duas empresas. O presidente da Associação de Tripulantes da TAM (ATT), entidade que congrega 2000 pilotos e comissários de bordo da empresa, comandante Nicolau Barros, disse que até agora todos os acordos entre os trabalhadores foram cumpridos. Não temos motivos para duvidar que a diretoria tem os interesses da empresa em vista , afirmou ele À Agência Brasil.
"A empresa está tocando seus projetos de desenvolvimento, mas há algumas dúvidas de como ficam os planos de carreira após a fusão , disse. Mas mesmo que a fusão com a Varig não ocorra, ele acredita que a TAM continuará bem no mercado, já que a empresa teria, segundo ele, um plano alternativo se a fusão falhasse. Ele não acredita que a saída do presidente Daniel Mandelli, na última semana, seja uma ameaça para o processo de fusão.