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Presidente da JAC explica como os carros chineses são tão baratos

Sérgio Habib diz que a competitividade chinesa permite que os carros cheguem ao país com preços inferiores aos nacionais mesmo com o frete e o imposto de importação

Sérgio Habib é o empresário brasileiro que trouxe a marca JAC motors para o país (Divulgação)

Gabriela Ruic

Publicado em 29 de junho de 2012 às 00h25.

São Paulo – A JAC Motors é a ponta mais visível da recente invasão das montadoras chinesas no Brasil. Entre as empresas que não possuem fábrica no país, a JAC ainda aparece apenas em quinto no ranking de vendas de 2011. Mas nenhuma outra montadora chinesa adotou uma estratégia de marketing tão agressiva para se tornar conhecida do público – o que incluiu a contratação do caro Faustão como garoto-propaganda. Os preços praticados pela JAC são outra coisa que tem chamado a atenção. No mercado, já se fala inclusive de um "fenômeno JAC", no qual montadoras que concorrem com o recém-lançado J3 teriam baixado o preço de seus carros e adicionado ao pacote de série, itens outrora opcionais para não perder espaço.

Até o momento, a JAC vende apenas o J3 e J3 Turin no país. O próximo lançamento será da minivan J6. Outros modelos esperados para os próximos trimestres são o sedã J5 e o compacto J2. Em entrevista a EXAME.com, o homem responsável pela JAC Motors no Brasil, o empresário Sérgio Habib, conta como é possível vender carros por preços abaixo dos praticados no mercado mesmo tendo de arcar com o custo do frete e o Imposto de Importação:

EXAME.com – Por que os carros chineses têm um preço tão competitivo?

Sérgio Habib – O JAC J3 é um carro com preço competitivo [a partir de 37.900 reais], mas que não é tão baixo assim. O que acontece é que tudo aqui é caro, os carros inclusive. Mas não são só eles: os imóveis são caros, os restaurantes são caros. O que faz a diferença é que a China tem custos de logística inferiores aos nossos. Para se construir um galpão industrial, se gasta menos da metade do que na construção de um galpão similar no Brasil. Lá, o preço do aço é 60% do valor brasileiro.

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E com carro não é diferente: é mais barato fabricar carro na China que aqui. Mesmo com a alíquota de importação e o frete, é possível chegar ao Brasil com preços competitivos.

EXAME.com - A qualidade das peças é a mesma?

Habib – Os freios ABS dos carros da JAC são fabricados pela alemã Bosch. A injeção eletrônica é da americana Delphi Automotive. E os painéis são de outra americana, a Visteon. Todas essas empresas têm fabrica no Brasil e na China, mas algumas têm fábricas melhores lá.


EXAME.com - Para quais outros países a JAC exporta?

Habib – Para o Chile, Colômbia e alguns países da América Central. Na Europa, a JAC exporta para a Polônia e Grécia. O Brasil já é o segundo mercado da JAC. Mas também é o terceiro mercado da GM e da Volks, o segundo da Renault e o primeiro mercado da Fiat. Por que não seria o segundo da JAC?

EXAME.com – É possível cumprir a meta de vender 45.000 unidades até o fim do ano?

Habib -
Sim, a expectativa de vendas era, anteriormente, 35.000 carros. Mas os carros tiveram uma aceitação muito superior ao previsto. Atualmente, quase 4.000 carros por mês são vendidos. Quando o J6 for lançado, esperamos vender 6.000 unidades ao mês, o que equivale a praticamente 2% do mercado.

EXAME.com – O preço é o grande diferencial da JAC?

Habib - Para vender um produto no Brasil, não basta ter só preço. Também tem que ter produto adequado, propaganda e concessionária. O grande problema das marcas chinesas no Brasil até agora é que elas têm preço, mas não têm produto, propaganda e ponto de venda.

Qualquer marca que queira vender no Brasil tem que ter uma boa rede de distribuição, com pontos de venda amplos, modernos e bem equipados. Nenhuma outra montadora chinesa tem isso até agora. E sem propaganda, não se vende. Nós fazemos uma boa publicidade, com o objetivo de mostrar ao consumidor o que é o carro da JAC. Por último, tem que ter um produto adequado para o Brasil. Nós pegamos o J3, em sua versão à venda na China, e o mudamos completamente para adequá-lo ao gosto do consumidor brasileiro.

EXAME.com - E o que este carro tem de diferente?

Habib - Suspensão, interior, câmbio, motor. Tudo é diferente. Só não é outro carro porque o desenho é praticamente o mesmo.

EXAME.com - Quantas concessionárias da JAC estão em funcionamento no Brasil?

Habib - Mais ou menos 50. Mas o que chamamos de ponto de venda é uma loja com, no mínimo, 3.000 m². Tem marca chinesa que chama de ponto de venda uma lojinha com porta de frente para a rua.


EXAME.com - Em relação à segurança dos carros, o Cesvi [Centro de Experimentação e Segurança Viária] testou o J3 e deu uma nota apenas razoável no quesito visibilidade. Ao conduzir o J3, também notei incidência de pontos cegos em curvas mais fechadas. A JAC pode mudar isso?

Habib - Não. Nós vamos priorizar estilo. Brasileiro compra carro bonito. Se tem ponto cego ou não, isso não vai vender mais ou menos carros. É muito melhor ter um carro bonito com ponto cego que um carro feio sem ponto cego. Esse carro foi desenhado pelos italianos do Pininfarina [estúdio responsável pelo desenho de modelos da Ferrari e Maserati].

EXAME.com - Com relação ao crashtest, a JAC tem intenção de colocar o J3 em teste?

Habib - O J3 está em processo de homologação na Europa para ser vendido lá. Então eles devem fazer. Mas homologar um carro para venda nos Estados Unidos ou na Europa demora anos.

EXAME.com - E em relação ao atendimento no pós-venda e manutenção dos veículos da JAC, o que vocês planejam fazer?

Habib - Nossos carros vão ter os custos mais baixos de manutenção do mercado brasileiro porque as peças e revisões são as mais baratas.

EXAME.com – Por quê?

Habib – Porque as peças vêm da China, que é um país low-cost. As peças custam mais barato. Quer exemplos? Um espelho retrovisor custa 98 reais e o vidro para porta custa 110 reais.

EXAME.com – Os carros da JAC tem uma garantia longa de seis anos. O que está incluído na garantia? Tudo?

Habib - Cobre de parachoque a parachoque. Não cobre o desgaste natural das peças, mas todos os defeitos de fabricação.


EXAME.com – Esses carros começaram a ser vendidos há poucos meses e em breve a hora da revenda vai chegar. Qual é a expectativa para os carros no mercado de usados?

Habib – Acho que vão ter uma desvalorização menor que a dos concorrentes. Quando o proprietário for vender esse carro daqui a três anos, ele ainda vai ter três anos de garantia. E depois, o custo de manutenção é muito barato, o que aumenta o valor do de revenda do carro quanto ele envelhece.

EXAME.com – É inevitável não falar sobre outro desafio que a JAC tem que enfrentar que é a desconfiança do consumidor brasileiro em relação ao que vem da China. Como a montadora pretende desatrelar a marca do mito dos produtos chineses?


Habib -
Na verdade, não escondemos que o carro é chinês, mas também não falamos. Nós realizamos uma pesquisa com nossos clientes para ver quantos deles sabiam que o carro era chinês. E 50% deles disseram saber que é produzido na China e que isso não influenciou em nada a decisão da compra. O restante crê que o carro é canadense, australiano ou não tem ideia de onde vem o produto. O consumidor se importa muito mais em ter um bom produto. Brasileiros não têm preconceito com marca. Além do mais, esse preconceito é algo que muda muito rápido. Há trinta anos, não pensava que teria em casa uma televisão de marca coreana, e hoje estamos cercados delas.

EXAME.com – Quer dizer que o consumidor brasileiro não vê marca?

Habib - Não, tanto que em abril e maio foram vendidos mais Kia Cerato do que Honda Civic.

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