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Por que o BTG não comprou o Cruzeiro do Sul

Expectativa dos interventores é de repassar o banco a um novo controlador em menos de seis meses

André Esteves, do BTG Pactual: negócio melou com o temor de as complicações financeiras do Cruzeiro do Sul serem maiores (Julio Bittencourt)

André Esteves, do BTG Pactual: negócio melou com o temor de as complicações financeiras do Cruzeiro do Sul serem maiores (Julio Bittencourt)

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Da Redação

Publicado em 23 de setembro de 2013 às 17h59.

São Paulo – Segundo o Fundo Garantidor de Crédito (FGC), o banco de investimento BTG Pactual não levou o Cruzeiro do Sul porque pediu garantias demais para comprá-lo. Com o fracasso das conversas, o FGC assumiu a administração do banco nesta segunda.

Seus controladores, da família Indio da Costa, foram afastados depois do Banco Central identificar um rombo de 1,3 bilhão de reais na instituição. Para se ter uma ideia, o montante supera todo patrimônio líquido do Cruzeiro do Sul, avaliado em 1,1 bilhão no primeiro trimestre do ano. Traduzindo: mesmo se vendesse tudo, o banco ainda ficaria com 200 milhões de reais no vermelho. 

Em coletiva à imprensa, Antonio Carlos Bueno, diretor executivo do FGC, afirmou que era natural esperar que essa fosse a postura do BTG. "O comprador legitimamente procura se defender. Ele quer saber quem vai pagar a conta se encontrar um problema a mais", afirmou. "Mas pelo desconhecimento que temos dos números exatos, muitas proteções foram colocadas ao negócio. Ficou tão amarrado que ficamos inseguros em tomar qualquer tipo de decisão."

Não é a primeira vez que o banco do bilionário André Esteves se interessa por uma instituição com inconsistências no balanço. E a preocupação com a possibilidade do problema se agigantar traz à tona um passado não tão distante.

Até outubro de 2010, o PanAmericano era mais lembrado pelo seu antigo dono – o empresário e apresentador Silvio Santos. Foi quando o Banco Central descobriu que a instituição vendia carteiras de crédito para outros bancos, mas não dava baixa nesses ativos, inflando artificialmente seu caixa.

Depois de um déficit estimado em 2,5 bilhões de reais, o banco precisou ser socorrido pelo FGC. Mas investigações seguintes alargaram o tamanho do buraco, que chegou a 4,3 bilhões. Para se livrar do problema e não comprometer seus outros negócios, Silvio Santos vendeu o controle do PanAmericano ao BTG Pactual no começo de 2011. A essa altura, a Caixa Econômica Federal já se tornara sócia do banco.

De novo?

Para Antonio Carlos Bueno, contudo, os dois casos guardam suas diferenças. O Cruzeiro do Sul bateu à porta do Fundo Garantidor de Crédito na última quinta-feira, depois de ver expirar seu prazo para dar explicações ao BC. Sem ter como levantar recursos para cobrir a diferença apontada entre ativo e passivo, o banco recorreu à entidade para assessorá-lo na empreitada. 


Como se sabe, o FGC é uma associação privada responsável por administrar um mecanismo de proteção aos correntistas em caso de falência dos bancos. Recolhendo periodicamente dinheiro dessas instituições, o Fundo engorda um patrimônio que já bate em 30,5 bilhões de reais.

Não por acaso, ele chegou a emprestar 2,5 bilhões ao Grupo Silvio Santos no escândalo do PanAmericano, recebendo como garantia as empresas do grupo do empresário. Com relação ao Cruzeiro do Sul, não foi possível fazer o mesmo. "Era impossível eles terem condições de dar qualquer tipo de garantia", sustentou Bueno.

Sem uma investigação mais apurada sobre o porquê do rombo no Cruzeiro do Sul, Bueno prefere se esquivar do paralelo. "No PanAmericano, você tinha problemas contábeis, venda de carteiras duplicadas, retenção de pré-pagamentos", disse o executivo. A inconsistência de 1,3 bilhão de reais no Cruzeiro, por sua vez, diria respeito a uma carteira de crédito consignado sem documentação regularizada.

Agora, o FGC tocará o Cruzeiro do Sul por um prazo de 180 dias, prorrogáveis por mais 180, em um modelo conhecido como Raet - ou Regime de Administração Especial Temporária. A expectativa, no entanto, é que o banco seja passado adiante em um prazo ainda menor. Terminada a auditoria conduzida pela PricewaterhouseCoopers, contratada nesta segunda, o objetivo será vendê-lo o quanto antes. 

"Em 60 dias, ou 90 dias no máximo, teremos um resultado apurado pela auditoria. Ficará mais simples, transparente e seguro promover a venda para qualquer player", pontuou Bueno. Ele acrescentou que não haveria "chance alguma do banco voltar para os antigos controladores". E que o FGC "veio para achar uma solução e sair fora".

“A fila de interessados em instituições financeiras é grande. A de vendedores é que é pequena” completou Celso Antunes da Costa, diretor do FGC que será o administrador do Cruzeiro do Sul daqui para frente.

Dificuldade para levantar dinheiro

Especializado em crédito consignado, o Cruzeiro do Sul vem sofrendo para captar dinheiro no mercado desde a crise de 2008. Com o escândalo no PanAmericano e quebra do Morada e Schahin, as fontes de recursos tornaram-se ainda mais escassas. Para ajudá-lo na tarefa, o FGC já havia estruturado com o banco um fundo de direitos creditórios (FDIC) no valor de 4,2 bilhões de reais no fim do ano passado – até hoje, 1,3 bilhão foram utilizados com esse propósito.

De acordo com o FGC, as carteiras de crédito que repassam dinheiro para este fundo seriam “perfeitas”. Mas esse não é o único FDIC do banco. Abraçando um modelo de geração e venda de créditos, o Cruzeiro do Sul tem 75,6% da sua carteira de 7,5 bilhões de reais alocada fora do banco em fundos de mesma classificação.

A maior parte deles tem o próprio Cruzeiro como principal cotista. Na mira do Banco Central e sob o escrutínio da PwC, resta saber se o modelo corre o risco de queimar depois de aberta a temporada de caça às bruxas. 

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