De volta ao governo, o Maracanã tem jeito?
Nesta segunda-feira, o governo do Rio anunciou o cancelamento da concessão do estádio ao Consórcio Maracanã, liderado pela empreiteira Odebrecht
Da Redação
Publicado em 19 de março de 2019 às 17h36.
Última atualização em 19 de março de 2019 às 17h54.
Que fim, afinal, terá o Maracanã , o mais famoso estádio brasileiro? O impasse sobre o estádio reformado para receber a final da Copa de 2014 ganhou um novo capítulo nesta segunda-feira, quando o governo do Rio de Janeiro anunciou o cancelamento da concessão do estádio ao Consórcio Maracanã, liderado pela empreiteira Odebrecht .
A Odebrecht venceu a concessão em 2013, num contrato que valeria por 35 anos. Segundo o governo do Rio, desde 2017 o consórcio não vem pagando as parcelas referentes à concessão, numa dívida que chega a 38 milhões de reais. O contrato estava suspenso desde setembro. Na decisão divulgada ontem, o governo ainda anunciou que declarará a empresa inidônea por dois anos, o que a impediria de firmar contratos públicos. Além do Maracanã, a Odebrecht também administra, no Rio, a SuperVia, empresa de trens metropolitanos que está sendo negociada com o grupo japonês Mitsui.
Segundo executivos próximos à Odebrecht, o Maracanã virou uma mostra da insegurança dos contratos entre governos e iniciativa privada no país. A empreiteira assinou o contrato de reforma do estádio em 2013, de olho no terreno anexo ao Maracanã que, pela proposta original, poderia receber um empreendimento de uso misto, como estacionamento, lojas e restaurantes.
Mas após uma série de pressões populares, o governador do Rio em 2013, Sérgio Cabral, acabou retirando a área anexa, que inclui o estádio de atletismo Célio de Barros o parque aquático Júlio Delamare e o Museu do Índio, do contrato de concessão. A Odebrecht acabou amarrada a um projeto que de largada se mostrou inviável, ao menos de acordo com as contas inicialmente feitas pela companhia. Nesta segunda-feira, após a decisão do governo, a Odebrecht afirmou, em nota, que foi surpreendida pela informação e que se “manifestará oportunamente”.
O Maracanã custou cerca de 1,3 bilhão de reais. Em seis anos no comando do estádio, a Odebrecht teve prejuízos de 247 milhões de reais. Os custos excessivos de manutenção e a falta de experiência da Odebrecht são cruciais para os resultados ruins. Em grandes jogos, os custos de aluguel e operação do estádio chegam a um milhão de reais. Nos jogos do Flamengo, a companhia não fica com nenhuma parcela da bilheteria, que em 2017 somou 62 milhões de reais.
No fim das contas, quanto mais gente entra no estádio, pior para a Odebrecht. Sem as receitas previstas com as estruturas adicionais, Maracanã é um enorme desafio para quem quer que decida administrá-lo. “Qualquer novo projeto para o estádio precisa ter os clubes, e principalmente o Flamengo, como sócios desde o primeiro dia”, diz Amir Somoggi, sócio da consultoria de gestão esportiva Sports Value.
Tem solução?
O plano do governo, agora, é fazer uma nova parceria público-privada para administrar o complexo esportivo. Nesta terça-feira, o Flamengo , clube mais popular do Rio, se reuniu com o governo para discutir a gestão do estádio. Em nota, o Flamengo parabenizou o governo do estado pela decisão e disse esperar que num novo modelo de gestão os clubes possam “participar ativamente do processo de gestão”.
Na teoria, o Maracanã era para ser o mais rentável estádio brasileiro — com ou sem estruturas anexas, segundo especialistas ouvidos por EXAME. O estádio, além de ser o mais conhecido do país, poderia ser a casa de três clubes de grande torcida: Flamengo, Fluminense e Vasco. Além disso, poderia receber jogos de equipes de outros estádios, como costumava acontecer, por exemplo, com o Santos de Pelé nos anos 60 e 70.
Mas as negociações entre os clubes e a construtora foram conturbadas desde a largada, em 2013. Os dois lados fizeram exigências de receitas para maximizar seus ganhos que, no fim, colocaram o estádio no limbo. Agora, o eventual novo gestor precisa se acertar não só com os clubes, como com o governo.
Em 2017, a empresa francesa de entretenimento Lagardère chegou a assinar um pré-contrato para assumir o estádio. Mas os franceses desistiram alegando falta de confiança no governo, à época administrado por Luiz Fernando Pezão.
Desta vez , Witzel criou uma comissão que irá definir o modelo de permissão de uso do estádio enquanto não abre uma nova licitação, assim como os detalhes da nova parceria público-privada. O plano é chegar a um novo modelo de concessão em 180 dias. Será um teste para o grau de confiança dos investidores não só no governo do Rio, como na viabilidade do futebol do estado.