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Por dentro da disputa em torno do quarto de Mark Zuckerberg

Uma guerra imobiliária avança entre Zuckerberg e seu vizinho, um empresário dono de uma área que oferece vista para o quarto principal do fundador do Facebook

Mark Zuckerberg: no cerne, há temas que acompanham Zuckerberg desde a concepção do Facebook (Kimberly White / Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 9 de fevereiro de 2015 às 16h48.

San Francisco - O e-mail foi brusco: Mark Zuckerberg não tinha interesse em bancar o bonzinho com o vizinho dele.

“Como fazemos para resolver isso?”, escreveu um assessor de Zuckerberg para o corretor de imóveis dele. “MZ não vai se reunir com ele... nunca”.

Agora, aquele e-mail de 2013 e outros do estilo estão no centro de uma guerra imobiliária que se descontrolou. De um lado está Zuckerberg, o bilionário fundador do Facebook Inc. Do outro, o empresário vizinho, um desenvolvedor de imóveis que esperava lucrar com o desejo de privacidade de Zuckerberg.

Não se trata de decidir quem poda a árvore da cerca do quintal. A história contada pelos documentos do tribunal mostra como a elite poderosa do Vale do Silício afasta aqueles que tentam forçar a entrada nesse clube e compartilhar a riqueza.

No cerne, há temas que acompanham Zuckerberg desde a concepção do Facebook e que se popularizaram com o filme “A Rede Social”, uma visão ficcional do menino-homem com capuz por trás da empresa: táticas de soco-inglês, atuações exibicionistas, cheiro de traição.

Mas, dessa vez, o rebuliço gira em torno de um terreno, em uma subdivisão do Norte da Califórnia que já foi comum.

Os gêmeos Winklevoss já alegaram que Zuckerberg, ex-colega de sala e sócio deles, não cumpriu sua promessa. O desenvolvedor neste caso, Mircea Voskerician, também afirma que Zuckerberg não cumpriu sua palavra.

Os advogados de Zuckerberg dizem que isso é bobagem – e que Voskerician só está tentando ganhar dinheiro às custas de um bilionário.

‘Bom vizinho’

Os fatos, em poucas palavras, são esses:

Em novembro de 2012, Voskerician estava em um contrato para comprar a propriedade que fica atrás da casa de Zuckerberg em Palo Alto, Califórnia.

Ele mandou uma carta para o CEO do Facebook, na que disse que pretendia demolir a casa e construir no lugar uma de 892 metros quadrados. Ela teria vista para o fundo da residência de Zuckerberg, inclusive para o quarto principal.

Só que então Voskerician fez uma oferta incomum. Afirmando ser um “bom vizinho”, ele propôs vender a Zuckerberg uma parte da propriedade com “um prêmio de 100 por cento” para que ele tenha mais privacidade. Duas semanas depois, eles decidiram que Zuckerberg compraria o imóvel inteiro, por um preço que Voskerician considerou um desconto exorbitante.

Por que Voskerician faria isso? É esse o motivo da discórdia. Voskerician, nos documentos judiciais, diz que Zuckerberg prometeu lhe apresentar a seus contatos no Vale do Silício, um apoio valioso para qualquer pessoa. Nada foi registrado por escrito.

Os advogados de Zuckerberg negam essa e todas as alegações de Voskerician. Qualquer que seja o caso, o desenvolvedor processou e, a menos que os dois lados cheguem a um acordo, o caso irá para o tribunal. Se Voskerician ganhar, ele poderia recuperar o imóvel.

Táticas ‘extorsivas’

Os advogados de Zuckerberg, em documentos jurídicos, dizem que o desenvolvedor valeu-se de táticas ‘extorsivas’. Eles citaram um e-mail que Voskerician enviou a seu corretor de imóveis no dia 28 de novembro de 2012, em que ele insinuava que o diretor do Facebook tinha uma oportunidade para comprar certa privacidade.

Se “Mark pretende morar aqui por muito tempo”, escreveu Voskerician, ele tem “uma chance de garantir que a privacidade dele fique onde ele deseja que ela fique”. Ele acrescenta que a nova casa seria construída “com vista para o quintal/quarto principal dele”.

O advogado de Voskerician afirma que seu cliente não estava tentando pressionar ninguém.

Os e-mails de Voskerician demonstram o quanto ele queria obter acesso aos exclusivos domínios de Zuckerberg.

Em um e-mail enviado no dia 13 de abril de 2013 para Zuckerberg, Voskerician pedia para selar o acordo com um “aperto de mãos” e começar as apresentações.

“Sr. Zuckerberg, em primeiro lugar, estou feliz por ter conseguido preservar sua privacidade ao vender-lhe o imóvel de Hamilton”, escreveu o romeno Voskerician. “Em segundo lugar, gostaria que nos encontremos para dar-nos um aperto de mãos pela transação e conversar sobre sua proposta de que eu trabalhe com você no futuro, pois você afirmou que construiu o Facebook a partir das conexões que você tem no Vale do Silício. Uma das razões que me levaram a escolher sua oferta, além de preservar sua privacidade, é que você se ofereceu a me ajudar a levar minhas casas, meus projetos de desenvolvimento, aos funcionários do Facebook e criar uma relação com você”.

Moradias sustentáveis

Voskerician também pediu uma reunião de 30 minutos para conversar sobre um projeto que envolvia “moradias sociais sustentáveis baseadas em ciência moderna” a partir de um modelo de “código aberto” semelhante à “plataforma aberta de informática” do Facebook.

E-mails indicam que a equipe de Zuckerberg não tinha nenhum interesse.

Divesh Makan, assessor financeiro de Zuckerberg, disse ao corretor imobiliário do CEO que dificilmente Zuckerberg se encontraria com Voskerician.

“Mas se isso significa que eu tenha que perder 30 minutos em nome de MZ, eu não teria mais remédio do que fazê-lo se você recomendar isso”, escreveu ele em um e-mail de abril de 2013.

Voskerician continuou insistindo, em vão. Em novembro de 2013, os funcionários do Facebook estavam começando a se preocupar com que ele gerasse problemas. Andrea Besmehn, assistente de Zuckerberg, informou o diretor de proteção executive da empresa caso o impasse “escalasse do ponto de vista da segurança ou de RP”.

‘Leve’ ajuda

Besmehn enviou um e-mail mais tarde naquele dia que pode provocar uma reviravolta no caso:

“Acabei de conversar rapidamente com Mark sobre esse assunto – e ele disse que se lembra de ter dito que ajudaria esse cara de ‘leve’”, escreveu Besmehn para Makan e outras pessoas. “Há algum modo, quando conversarmos com ele, de encontrar uma forma de que nós (não necessariamente Mark) ajudemos ele com algo pequeno? Aliás... teremos que ter cuidado com isso, porque não queremos dar a mão para que depois nos peçam o braço...”.

O advogado de Voskerician, David Draper, não quis comentar a queixa, que inclui acusações de fraude, violação de contrato e deturpação. Zuckerberg negou todas as acusações em um documento jurídico em outubro. O advogado dele, Patrick Gunn, e o advogado de Makan, Daniel Bergeson, não quiseram comentar o caso.

Independentemente de como o caso se resolva, é improvável que a privacidade de Zuckerberg seja ameaçada por outros vizinhos graças a Makan, ex-executivo do Goldman Sachs Group Inc. e do Morgan Stanley que descreveu sua equipe como “a family office de Mark”.

Como Voskerician estava pressionando por suas exigências de modo mais insistente, a empresa de Makan, a Iconiq Capital LLC, arrebatou outros imóveis ao redor da casa de Zuckerberg: comprou um por US$ 10,5 milhões, outro por US$ 14 milhões e um terceiro por US$ 14,5 milhões, de acordo com o escritório do consultor fiscal do condado de Santa Clara. Esses preços excedem o valor cotado dos imóveis, que em 2013 era de US$ 3,5 milhões ao todo.

Todas as semanas, o Facebook promove uma sessão interna de perguntas e respostas na qual seus funcionários podem fazer questões ao fundador e presidente Mark Zuckerberg. Na quinta-feira (11), a rede social abriu um evento ao público pela segunda vez. A primeira havia sido no dia 6 de novembro. Alguns usuários americanos foram convidados a fazer perguntas pessoalmente a Mark Zuckerberg, que também respondeu as questões mais curtidas na página do evento no Facebook. INFO separou as dez questões mais importantes respondidas pelo CEO aos usuários do Facebook na sessão de perguntas e respostas:
  • 2. Botão dislike

    2 /10(Reprodução)

  • Veja também

    Ao ser perguntado sobre um possível botão “dislike” (algo como “não curti”) no futuro, o CEO não descartou a hipótese. Zuckerberg disse que a empresa está pensando nisso, mas que, provavelmente, o botão não se chamará exatamente "dislike", por conta do grande potencial de ferir os sentimentos das pessoas. Segundo ele, o Facebook está tentando encontrar uma maneira para que os usuários expressem uma ampla gama de emoções – inclusive o descontentamento – nas postagens.
  • 3. Ele não acha que o Facebook é perda de tempo

    3 /10(Getty Images)

  • Respondendo ao que ele pensa sobre o Facebook ter se tornado sinônimo de perda de tempo, Zuckerberg disse que não tinha certeza se concordava com a premissa da questão. Ele explicou que todos ouvimos que teremos tempo para a vida depois de terminar a escola ou a lição de casa, mas se esquecem de perceber que amigos e familiares são o que importam na vida. O Facebook, segundo ele, ajuda a conectar pessoas de uma forma que a sociedade nem sempre oferece. "Estamos orgulhosos de nossa contribuição nisso", disse Zuckerberg. "Se pudermos fazer as pessoas se conectarem um pouco mais, eu acho que seria valioso”.
  • 4. Ele encoraja os funcionários a interrompê-lo

    4 /10(Getty Images)

    Zuckerberg disse que ser interrompido é comum nos corredores do Facebook. De acordo com o CEO, há sempre alguém que vai dizer: "Sim, você está errado!". "Eu vou dizer o que penso e, se trouxer algum fato errado, alguém vai se levantar... é um pouco embaraçoso para mim, mas é bom. Eu encorajo isso."
  • 5. O conselho que ele daria ao Zuckerberg mais novo

    5 /10(Getty Images)

    "Você cometerá erros, não importa o que faça”, disse Zuckerberg. "As pessoas passam muito tempo focando em não cometer erros ou lamentando-os, mas você não deve se esforçar para estar certo sobre tudo", explicou. "Albert Einstein cometeu erros, mas as pessoas não focam nisso".
  • 6. Agradecimento inusitado

    6 /10(Getty Images)

    Uma mulher da Nicarágua, que agora mora no quarteirão onde fica a sede do Facebook, levantou-se para agradecer Zuckerberg e sua empresa por "aumentar o preço de sua casa”. Depois de muitas risadas da plateia e um grande sorriso de Zuckerberg, ele disse que foi a primeira vez que alguém lhe agradeceu pelo Facebook.
  • 7. Grande hábito para o sucesso

    7 /10(Getty Images)

    Uma das coisas mais importantes que Zuckerberg disse tentar fazer diariamente é usar seu tempo de forma proativa em vez de reativa. Há muitas coisas que surgem durante o dia e uma pessoa pode usá-las para preencher todo o seu dia ao reagir a elas, disse Zuckerberg. "É necessário ser ágil e comunicativo, mas é importante, como empresário, ser proativo e saber o que você quer realizar a cada dia", afirmou.
  • 8. Programação

    8 /10(Getty Images)

    Durante a sessão, Zuckerberg discutiu a importância da habilidade de programar software. "Se você pode programar, você tem o poder de sentar e fazer alguma coisa e ninguém pode pará-lo", disse ele. Ele previu que as escolas podem, eventualmente, requerer que todos aprendam um pouco de programação, pois isso aguça habilidades analíticas que são úteis em muitas profissões.
  • 9. Pizza

    9 /10(Getty Images)

    Alguém aproveitou a oportunidade para perguntar ao CEO do Facebook em um evento público o que ele gosta em cima de sua pizza. Sua resposta? "Minha opinião sobre esta importante questão é que se você vai comer pizza, deve ter frango frito no topo dela. Próxima pergunta".
  • 10. Resoluções de Ano Novo

    10 /10(Getty Images)

    Ele disse que suas resoluções de ano novo do ano passado incluíam cozinhar mais ("Foi divertido") e aprender Mandarim ("Foi muito difícil ... minha esposa me diz o tempo todo que eu sou ruim até no Inglês"). Sua resolução para 2014 era escrever uma nota de agradecimento por dia, o que ele confessou que tem sido uma tarefa difícil. Ele explicou que há dois tipos de pessoas no mundo: aquelas que veem a beleza nas coisas e aquelas que querem tornar essas coisas melhores. "Eu faço parte do último grupo", disse ele, acrescentando que sua equipe de gestão costuma rir dele quando ele tenta melhorar as ações das pessoas em vez de agradecê-las por um trabalho bem feito.
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