Político não é uma criação de última hora, diz presidente da Vale
O executivo Fabio Schvartsman, à frente da Vale desde maio deste ano, vê o ano de 2018 mais volátil para o mercado financeiro por causa das eleições
Estadão Conteúdo
Publicado em 3 de dezembro de 2017 às 17h21.
Última atualização em 3 de dezembro de 2017 às 17h31.
São Paulo - À frente da Vale desde maio deste ano, o executivo Fabio Schvartsman vê o ano de 2018 mais volátil para o mercado financeiro por causa das eleições, mas acredita que o governo Michel Temer criou, nos últimos meses, uma composição sustentável para a melhora do ambiente econômico. Em sua primeira entrevista desde que assumiu a mineradora, Schvartsman abre a série que o jornal 'O Estado de S. Paulo' está fazendo com grandes empresários e executivos para discutir o País. A seguir, os principais trechos da conversa.
Em um ano marcado pela eleição, é possível pensar no prosseguimento da agenda de reformas do governo?
O governo está fazendo uma força muito grande para viabilizar de alguma maneira a reforma da Previdência, que é da maior importância e tem a ver com a sustentabilidade das condições econômicas para o futuro. Talvez não tenha a ver especificamente com o ano de 2018, que acho que está dado, com a redução de taxas de juros e a recuperação da recessão forte que tivemos. De 2019 em diante, passamos a depender das demais variáveis macroeconômicas.
Essa reforma é bem-vinda mesmo que seja revisada?
Coisas radicais têm maior dificuldade de passar qualquer que seja o governo. Uma reforma menor, mas que enderece as questões-chave, é um benefício que fica.
A Vale, ao lado da Petrobrás, lidera os investimentos nos próximos anos. O que falta para outras empresas retomarem os investimentos?
Confiança na estabilidade do cenário político e econômico. Se as reformas não forem feitas, o desequilíbrio fiscal vai acabar levando em algum momento à inflação, novamente à desvalorização da moeda e consequentemente ao aumento de juros e à redução dos investimentos pelas empresas. Então, a única maneira de fazer com que as empresas invistam é apresentar um cenário que tenha um grau de estabilidade.
Então, 2018 vai ser um ano morto diante das incertezas em relação às eleições?
Não morto, mas morno. Alguns investimentos vão se realizar sim, por causa da redução das taxas de juros. É inevitável que o mercado imobiliário se reaqueça. Algumas coisas vão acontecer naturalmente, o consumo vai aumentar. Com o aumento do emprego e da renda, a economia funciona um pouco melhor.
Estamos em 2018 diante de uma eleição histórica?
Todas são. O País é muito presidencialista. Toda vez que se elege um presidente, se interfere muito no desenvolvimento, no futuro do País.
O sr. vê de uma maneira negativa o País ser presidencialista?
Essa discussão foi feita durante a reforma da Constituição. Mas é fato que a maneira como o processo eleitoral é conduzido hoje em dia não permite ligação direta entre o eleitor e o candidato e isso é um problema. Não existem formas de se cobrar. A maioria das pessoas sequer se lembra em quem votou. Algum tipo de ajuste tem de ser feito. A reforma política é essencial.
É preciso alguém de fora da política para conduzir essas mudanças?
Ainda é cedo para falar. As pesquisas hoje em dia não significam nada. Gostando ou não, os programas eleitorais da TV têm impacto muito grande para onde os eleitores se inclinarão. Como tudo na vida, profissionalismo é importante. Um político tem de saber o que está fazendo. Não pode ser uma criação de última hora. Acredito em carreira, na qual as pessoas aprendem ao longo de sua vida e que, consequentemente, não leve a uma eleição de "outsiders". Mas é importante que haja renovação.
O sr. acredita que as lideranças empresariais têm de ser vocais no período de eleição?
Tem de haver debate público e os empresários têm obrigação de participar. Gostaria muito que as lideranças brasileiras falassem mais a respeito dessas questões. Especialmente porque é essa ausência de manifestação que tem ajudado para que o quadro econômico e político tenha sido tão ruim nos últimos anos. Um exemplo é o pré-sal. Foi discutido num momento de euforia. No Brasil, não houve debate. Simplesmente foi feito por uma vontade da liderança da ocasião.
O mercado financeiro diz que um populista não fará bem à economia. O sr. Concorda?
Um governo populista nunca faz bem para nenhuma economia. Não é agora, não é nesse momento particular. Populismo é sempre fogo de palha: produz um benefício num primeiro momento e a conta vem depois. O problema é que, geralmente, as pessoas, que deram os benefícios não são as mesmas que sofrem as consequências no fim dele.
Considerando a influência do governo na Vale, inegável nos últimos anos, como o sr. acredita que a eleição pode influenciar os rumos da empresa?
É página virada. Tivemos a alegria de, nos últimos meses, participar do processo de transformação da Vale numa corporação, com a extinção da figura do controlador. Consequentemente, a influência direta do governo na gestão da companhia é menor do que jamais foi. Não existe mais aquela organização que dava o controle da companhia a poucas pessoas jurídicas, em que o governo estava muito representado.