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Petrobras superestimou retornos em US$ 45 bi, diz jornal

A perda equivale a 165 bilhões de reais a câmbio atual e teria sido causada por projeções otimistas nos cálculos para aprovação dos investimentos, segundo o Valor


	 Petrobras: otimismo sistemático ainda estaria presente nas decisões da petroleira, segundo denúncia
 (Dado Galdieri/Bloomberg)

Petrobras: otimismo sistemático ainda estaria presente nas decisões da petroleira, segundo denúncia (Dado Galdieri/Bloomberg)

Luísa Melo

Luísa Melo

Publicado em 7 de abril de 2016 às 17h54.

São Paulo - Desde 2014, a diretoria executiva da Petrobras teria conhecimento de que a rentabilidade dos seus 59 maiores projetos sofreria baixa de 45 bilhões de dólares. A informação é do Valor Econômico, que teve acesso a documentos sigilosos da petroleira.

A perda equivale a 165 bilhões de reais a câmbio atual e teria sido causada por projeções otimistas nos cálculos para aprovação dos investimentos.

A redução da rentabilidade, ainda, não teria relação com a oscilação do preço do petróleo e sim com a eficiência de planejamento e execução, fatores que poderiam ser controlados pela empresa.

Segundo o jornal, os relatórios internos obtidos foram encaminhados aos conselhos de administração e fiscal da estatal na semana passada, na forma de uma denúncia anônima de funcionários.

Eles dariam conta de que, quando aprovados, os projetos teriam retorno esperado de 109 bilhões de dólares. Mas, devido a variações negativas relacionadas às expectativas de prazo, produção, custo operacional e investimento, o ganho estimado acabou reduzido em mais de 40%, para 64,1 bilhões de reais em 2014.

Isso indica que as projeções feitas pela Petrobras na avaliação inicial nunca se concretizaram.

De toda a redução de rentabilidade observada em 2014, 34 bilhões de dólares (75%) envolveram projetos de exploração e produção (E&P). Dos 59 investimentos avaliados, 34 eram da área, conforme a reportagem. Outros 11 eram do setor de abastecimento.

Denúncia

O cálculo da rentabilidade de um projeto é feito com base no seu valor presente líquido (VPL), que indica se ele tem capacidade de adicionar ou reduzir retorno para os acionistas.

A conclusão sobre a redução do VPL consta de relatórios semestrais gerados pela diretoria executiva e gerência da Petrobras, mas que não chegavam ao conselho de administração. Por isso o caráter de denúncia.

O objetivo do repasse dos documentos à mais alta cúpula da empresa seria alertar sobre o otimismo sistemático em relação aos projetos.

Também seria trazer à tona o fato de que pareceres conservadores aos estudos de viabilidade eram ignorados na decisão da diretoria ou sofriam "blindagem" por parte de gerentes gerais, não chegando assim à versão final do projeto.

"Até que ponto essa blindagem era conivente e de conhecimento de diretores e conselheiros das gestões anteriores? Não sabemos", diz um trecho do relatório, divulgado pelo Valor.

Segundo a denúncia, o "otimismo exagerado" ainda estaria presente nas decisões da Petrobras mesmo agora, após dois anos da Operação Lava Jato.

Os documentos também foram enviados à força-tarefa da investigação, em Curitiba.

Conforme o jornal apurou, o presidente do conselho administrativo da petroleira, Nelson Carvalho, respondeu prontamente ao e-mail da denúncia.

Ele teria dito que "todos estes temas de forma geral têm sido abordados nas reuniões do conselho", copiando na mensagem o presidente, Aldemir Bendine.

Nos últimos dois anos, a empresa reduziu o valor de seus ativos em 29 bilhões de dólares por não ter expectativa de recuperar investimentos.

Procurada por EXAME.com para comentar, a Petrobras não se manifestou.

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