Petrobras: estatal informou nesta terça-feira (8) sobre a venda dos campos (NurPhoto/Getty Images)
Reuters
Publicado em 8 de outubro de 2019 às 19h04.
Última atualização em 8 de outubro de 2019 às 21h42.
São Paulo — A Petrobras informou que finalizou nesta terça-feira (8) a venda da totalidade da sua participação nos campos de Pargo, Carapeba e Vermelho, localizados em águas rasas na costa do Rio de Janeiro, para a Perenco Petróleo e Gás do Brasil, por 398 milhões de dólares.
A operação com a subsidiária da companhia europeia no país foi concluída com o pagamento de cerca de 324 milhões de dólares para a Petrobras, já com os ajustes previstos no contrato, segundo fato relevante da estatal.
Esse valor se soma ao montante de 74 milhões de dólares pagos à empresa na assinatura dos contratos de venda.
De acordo com a Petrobras, a transação está alinhada à política de desinvestimentos da estatal, que visa otimizar o portfólio e melhorar a alocação do capital da companhia.
Roberto Castello Branco, declarou nesta terça-feira (8) que a venda de ativos da estatal petrolífera não representa o "desmonte" da empresa, conforme críticos da decisão apontam. Segundo o executivo, o "processo de desinvestimento" visa fortalecer a estatal, concentrando os recursos humanos e financeiros de que a empresa dispõe em atividades mais rentáveis e sustentáveis a longo prazo.
Em audiência pública da Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados, Castello Branco confirmou que parte dos ativos da Petrobras no Nordeste estão à venda, como refinarias e prédios - entre eles, o edifício conhecido como Torre Pituba, um prédio de 22 andares erguido em Salvador, em 2010, por R$ 2.087 bilhões. Parte deste dinheiro saiu do fundo de pensão dos funcionários da empresa, o Petros.
Já iniciado, o processo de desocupação da Torre Pituba preocupa os cerca de 4 mil trabalhadores diretos e indiretos da Petrobras na Bahia. Segundo o Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindipetro-BA), "a possibilidade cada vez mais real da saída da Petrobras do estado" ameaça com a demissão milhares de trabalhadores concursados e terceirizados.
Já Castello Branco sustenta que as alegações de que a Petrobras vai deixar o Nordeste são "uma narrativa distorcida da realidade". Embora confirme os planos de "racionalizar o uso de espaços" físicos, reduzindo o número de prédios ocupados em todo o país e no exterior, e vendendo alguns poços e refinarias, não há risco de demissão de funcionários, com exceção daqueles que aderirem ao programa de desligamento voluntário.
"Gostaria de deixar claro que não há nenhum desmonte, nenhum fechamento da Petrobras no Nordeste, onde vamos continuar buscando a exploração em águas profundas", disse o presidente da estatal, destacando que a venda de ativos pode fomentar o surgimento de novas empresas que, seguramente, absorverão mão-de-obra.
"No processo de desinvestimento, estamos ajudando na criação de novas indústrias, no nascimento de uma indústria do Petróleo de pequenos e médios produtores", afirmou Castello Branco, garantindo que vários investidores nacionais têm demonstrado interesses nos bens da Petrobras e que o "processo de gestão de portfólio" da empresa segue uma "rigorosa política de seleção de potenciais compradores, além de cuidado com os colaboradores".
"Quem comprar uma refinaria no Brasil certamente não vai chegar e demitir todo mundo. Não vai trazer marcianos para operá-la, pois quem sabe operar refinaria no Brasil são os funcionários da Petrobras", disse Castello Branco.
De acordo com o executivo, a decisão de se desfazer de parte dos ativos no Nordeste está baseada na avaliação de que, para a Petrobras, parte dos negócios na região se tornaram "irrelevantes". Durante a audiência pública de hoje, Castello Branco chegou a dizer que "a natureza trabalhou contra a Petrobras no que diz respeito aos campos terrestres em águas rasas", apontados como de menor produtividade e custos mais altos.
"Na Bahia, que já foi muito importante para a Petrobras, temos, hoje, 2.980 poços produtores, nos quais produzimos 27 mil barris de petróleo por dia e 3 milhões de metros cúbicos de gás natural. Isto representa respectivamente, 1% e 1,5% de toda a produção de petróleo e de petróleo e gás da empresa", detalhou Castello Branco. "Lamentavelmente, nossa produção na Bahia ficou irrelevante. E em outros estados do Nordeste também. O Ceará, por exemplo, é responsável por 0,2% da nossa produção total de petróleo. O Rio Grande do Norte, por 2%. Alagoas, por 0,4%, e Sergipe por 1%", acrescentou o presidente da Petrobras.
Após afirmar que o auge da crise financeira enfrentada pela Petrobras já passou ("mas ainda há muito o que fazer") e que os funcionários da empresa recuperaram a autoestima, Castello Branco disse que, sob sua gestão, a estatal petrolífera vai priorizar a redução dos custos e a segurança das operações. Segundo ele, a dívida de US$ 101 bilhões e o montante gasto com o pagamento de juros das dívidas mantém a Petrobras na condição de uma "empresa fragilizada".
No entanto, segundo Castello Branco, sua maior preocupação é com as transformações que ocorrem fora da indústria do petróleo. "A interdependência entre negócios se ampliou formidavelmente. Hoje, nossa maior preocupação não é com nossos concorrentes [diretos], mas sim com o que ocorre fora da indústria do petróleo. É com as inovações tecnológicas como, por exemplo, a eletrificação da frota de veículos, que tende a roubar demanda por petróleo", citou o executivo, mencionando os prognósticos de que mudanças comportamentais e a preocupação com o meio ambiente freiem o consumo mundial de petróleo. Razão pela qual ele acredita que o Brasil deve acelerar a exploração do pré-Sal.
"A estimativa é que o consumo global de petróleo tende a crescer cada vez mais lentamente, ou até mesmo a se estagnar ou se reduzir. O que nos resta, portanto, é concentrar recursos humanos, tecnológicos e financeiros para aproveitar nossas riquezas naturais, aproveitar o pré-Sal. Temos que aproveitar esta oportunidade já", acrescentou Castello Branco.
(Com Reuters e Agência Brasil)